O tokenismo é uma prática em que uma pessoa ou grupo é selecionado com base em sua identidade, geralmente minoritária, para dar a impressão de diversidade ou inclusão, sem que haja um comprometimento real com a equidade ou mudanças significativas. Em outras palavras, é quando uma pessoa ou grupo é escolhido apenas para preencher uma cota ou para fins de representação simbólica, sem considerar suas habilidades ou experiências.
O tokenismo pode ser encontrado em diversas áreas, incluindo política, negócios, entretenimento e mídia. Por exemplo, uma empresa que deseja demonstrar seu compromisso com a diversidade, pode contratar apenas um funcionário de uma minoria étnica e promovê-lo como exemplo de inclusão. No entanto, se a empresa não oferece oportunidades iguais de crescimento e desenvolvimento para todos os funcionários, essa prática pode ser vista como tokenismo.
Da mesma forma, na política, um partido pode selecionar um candidato de uma minoria para concorrer a um cargo para fins de imagem, sem realmente apoiar suas causas e questões importantes. Isso pode ser prejudicial, pois pode criar a impressão de que a minoria em questão está sendo representada, quando na verdade não está sendo levada a sério.
O tokenismo também pode ocorrer em situações do dia a dia, como em conversas com amigos e colegas. Por exemplo, quando uma pessoa faz um comentário racista ou sexista e é chamada a atenção por isso, ela pode responder dizendo que tem amigos de minorias étnicas ou que emprega mulheres em sua empresa, como uma forma de mostrar que não é preconceituosa. No entanto, essa resposta não aborda o problema em questão e pode ser vista como uma tentativa de evitar a responsabilidade por seu comportamento.
No ambiente acadêmico, o tokenismo também está presente, principalmente nos eventos acadêmicos e nas referências de ementas das disciplinas de cursos superiores (acreditem, de humanas) ou grupos de pesquisas. Recentemente, eu me deparei com essa prática e fiquei chocada! Isso em grupos de pesquisas que se dizem engajados com a ideia de decolonialidade e também de outras pautas tão importantes para a construção de uma sociedade menos desigual. Segurei-me para não reagir com indignação que essa prática me causa, pois sou facilmente associada ao estereótipo de negra violenta e como estou em um novo contexto acadêmico, não queria que isso fosse o meu abadá da pós-graduação.
Então, sobre as coisas que eu não pude falar, por não me sentir segura para isso (segurança em poder falar sem ser violentada, de forma sutil ou descarada, por quem não pode ter um centímetro do privilégio questionado), eu escrevo aqui. A distorção das produções intelectuais negras por meio do apagamento das suas problematizações mais cruciais, além de ser epistemicida também é uma espécie de tokenismo, em que se aborda superficialmente uma teoria ou autoria negra que trata das questões entorno da população negra. Infelizmente, vejo que isso ocorre muito nas discussões sobre feminismo negro dentro da Universidade quando são feitas por pessoas brancas.
Ainda, nem toda pessoa negra acadêmica é capaz de falar sobre os assuntos que estão relacionados a vida social do negro. Mesmo assim, há uma preferência na seleção desses sujeitos do que daqueles que possuem uma trajetória, reconhecida ou não, no debate das questões relacionadas a nós, população negra. Nem tudo que é preto, é consciente sobre os mecanismos de poder que nos silenciam, nos invisibilizam e nos deslegitima enquanto sujeitos enunciadores e pensantes. A branquitude sabe disso e sempre selecionará o que não abala a zona de conforto do privilégio racial.
Outra situação que eu me deparei, em um grupo de pesquisa que começarei a frequentar devido à obrigatoriedade acadêmica (se não fosse isso…), foi com um recorte do primeiro capítulo da obra de Patrícia Hill Collins que fala sobre a política do feminismo negro. Tal arquivo suprimia a parte em que a autora falava sobre “supressão do pensamento feminista negro” (coincidências acontecem? Quando é a branquitude, não é coincidência). Nesse parte Collins (2019) problematiza os feminismos ocidentais e os mecanismos que utilizam para manter uma ideia universal entorno das experiências das mulheres e também é nessa parte que é apresentado o conceito de opressão pela perspectiva da pensadora norte-americana, ou seja, é um trecho essencial.
Essa prática coloca a intelectualidade em um controle discursivo pela Branquitude, impedindo que a integralidade na difusão dos saberes produzidos por sujeitos negros nas universidades ou em outros espaços formativos. A representação é importante, contudo, quando ela é feita de forma distorcida ou esvaziada, se torna prejudicial e é enganosa, bem como evita mudanças reais. Desse modo, qualquer intelectual branco(a) que se preze e que queira de fato contribuir com um espaço acadêmico epistemologicamente mais diverso, deve se propor a autocrítica em relação à prática do tokenismo.
Enquanto intelectual negra em formação, eu vejo como o tokenismo é uma prática violenta de restrição de vozes teóricas e críticas que possam contribuir com a minha pesquisa. Então, o trabalho de pesquisar sempre será triplo quando quem “forma” pesquisadores não se permite conhecer a integralidade das produções das intelectualidades negras. E, o mais grave, é quando corpos pretos, iguais ao meu, são usados como legitimadores do senso inclusivo de professores brancos que nos acompanham em nossas trajetórias acadêmicas, sendo que o fato de um professor ou professora ter orientandas(os) negras(os) não comprova o engajamento desse(a) profissional com a intelectualidade negra ou mesmo com a diversidade. O privilégio impede a busca de um letramento racial que possibilite que intelectuais negros em formação e professores-formadores brancos possam dialogar sem muitos conflitos. Afinal, meu corpo não é crachá de nenhuma pessoa branca. Não sou um objeto!