Quem somos
“Escreva, escreva sempre, como souber ou quiser, em verso e prosa, mostre ao mundo quem você é e quem são vocês, quem somos nós.”
Inaldete Pinheiro de Andrade
Somos mulheres negras e afrodescendentes. Blogueiras com estórias de vida e campos de interesse diversos; reunidas em torno das questões da negritude, do feminismo negro e da produção de informação para fazer a cabeça. Sujeitas de nossa própria estória e de nossa própria escrita, ferramenta de luta e resistência. Viemos trazer nossa visão de mundo e conhecimento, exercício que nos é continuamente negado numa sociedade estruturalmente discriminatória e desigual.
O racismo institucional e o mito da meritocracia garantem a distribuição nada democrática dos serviços de saúde e educação promovendo o adoecimento físico e emocional da população negra e afrodescendente; impedindo o acesso à tecnologia, aos recursos naturais e financeiros, aos espaços de poder como universidades e cargos de chefia. Desde a assinatura da lei áurea (grafada em minúscula de propósito) fomos condenados à sub-cidadania e marginalização. Nosso povo continua, em pleno século 21, tratado como cidadãos de segunda categoria.
A invisibilidade naturaliza o racismo em suas diversas modalidades. Apesar de hoje já estamos nas capas de revista, nas bancadas dos jornais, nos laboratórios, nos cargos políticos – realidades possíveis apenas depois de muita luta nossa e das que nos antecederam, permanecemos sendo tolhidas nas nossas opiniões, traídas pela falsa representatividade. Ainda sofremos tentativas de manipulação e recoisificação nos diferentes meios de comunicação, somos estereotipadas nos discursos de beleza e moda. Prevalece o desinteresse em mostrar nossos rostos, nossos corpos, as questões que nos afetam, as tradições e manifestações culturais que nos representam.
Por isso, somos Blogueiras Negras. Fazemos de nossa escrita ferramenta de combate ao racismo, sexismo, lesbofobia, LGBTQIAP+fobia, gordofobia e elitismo. Somos também uma comunidade; um espaço de acolhimento, empoderamento e visibilidade voltados para a mulher negra e afrodescendente cis e trans. Acreditamos que a troca de vivências e opiniões em função da negritude partilhada não é apenas desejável, mas um objetivo comum. Queremos celebrar quem somos, quem fomos e quem seremos.
Hoje somos uma Organização de Comunicação de Mulheres Negras, pertencentes a ARMAAD (Rede Afrolatinoamericana, Caribenha e da Diáspora), a Rede Mulheres Negras do Nordeste e organizadas em outros diferentes espaços, construindo o movimento de mulheres negras e movimentos feministas negros no Brasil, na América Latina e no mundo.
O Blogueiras Negras é uma plataforma de publicação feita por, para e sobre mulheres negras, em caráter afirmativo. Mas somos muito mais do que isso. Produzimos conteúdo para fazer a cabeça de todos aquelas que que fazem parte da rede que foi formada para que nossa voz ganhasse expressão numa internet que, há cinco anos atrás, não dava minimamente conta dos recortes de gênero e raça.
Nós buscamos mudar isso e olhando para trás, nos sentimos orgulhosas de todo tempo, conhecimento, afeto, dinheiro e esperança investidos por todas as mulheres que são e foram coordenadoras, facilitadoras, autoras e colaboradoras do projeto. Sem toda essa vontade e ação, jamais teríamos chegado até aqui.
Porém, estamos num momento de inflexão, em que tudo aquilo que foi vivido está sendo reavaliado e estamos diante da urgente necessidade de fazer entender que constituímos uma acervo literário que para além de de ser uma referência, precisa ser valorizado e protegido para que continue a existir, a ser acessado e usado como ferramenta de empoderamento e formação para nosso diverso público de leitoras.
Um pouco mais de conversa…
O que é o Blogueiras Negras? Somos um instrumento de publicação que tem como principal objetivo aumentar visibilidade da produção de blogueiras negras. Somos também uma comunidade bastante diversa em suas opiniões e demandas, organizada através de:
- uma plataforma de conteúdo
- um time dinâmico de autoras
- e uma equipe de facilitadoras
Qual a missão das Blogueiras Negras?
A missão primeira do Blogueiras Negras é o fomento à escrita através da publicação e promoção de conteúdo feito por e para mulheres negras, sujeitas de suas próprias existências e narrativas, com o objetivo de interferir nas esferas públicas e privadas por meio a denúncia do racismo, machismo, classismo e opressões afins, de modo que o combate ao epistemicídio seja nada menos que ferramenta política.
Pensando concretamente, estamos produzindo conteúdo para fazer a cabeça, contribuindo para o debate dentro da comunidade feminista negra e também fora dela. Até aqui, caminhamos por 5 anos com a conquista da visibilidade de nossas autoras e a contribuição para que o feminismo negro fosse cada vez mais longe; tudo isso fez com que tenhamos por necessidade essencial também a preservação e difusão de nosso acervo, visando sobretudo a formação de mulheres e jovens negras.
Quais são os valores das Blogueiras Negras?
Nossos valores são alinhados com aqueles do feminismo negro interseccional, com destaque para as seguintes autoras – Beatriz Nascimento, Lélia Gonzalez, Angela Davis, Audre Lorde e também Chimamanda Adichie, entre outras.
Nos interessam as questões de raça, gênero, classe e suas relações obviamente. Nos colocamos como aliadas ao debates que são próprios ou afins ao feminismo negro como cisnormatividade, capacitismo, gordofobia, ageísmo, defesa do estado laico e afins. Essa é a espinha dorsal que estrutura a nossa linha editorial, sempre atrelada à ideia de que o texto produzido por uma mulher negra constitui seu corpo afetivo, político, identitário, comunitário a ser valorizados.
Entendemos que estórias e visões de mundo precisam ser múltiplas, materializando por meio da escrita a representação de nossos corpos políticos, afetivos e intelectuais, de modo que o epistemicídio, tal como denunciado por Sueli Carneiro, se torna instrumento de incidência intelectual, afetiva, emocional e sobretudo política. Esse entendimento nos fez inclusive perceber que o próprio Blogueiras Negras tem muitas estórias sobre sua constituição e sobre todos esses anos que temos passado juntas. E todas são nossas estórias também.
Acreditamos na liberdade de expressão, desde que não seja confundida com aquilo que se convencionou chamar de liberdade de ofensa, seja por produção ou reprodução de opressões, o que consideramos inadmissível no Blogueiras Negras. A máxima sobre a responsabilidade que o oprimido deve ter em não oprimir é um norte que procuramos seguir com rigor. Ademais, sempre estamos dispostas ao diálogo nesses casos, seja com nossas autoras ou comunidade de leitoras, desde que haja interesse da contraparte nessa conversa.
Onde queremos chegar?
Desejamos fortemente difundir a compreensão de que as mulheres negras que publicam no Blogueiras Negras produzem literatura e portanto somos também um acervo e patrimônio cultural que precisa ser utilizado como ferramenta de empoderamento e referência, mas também valorizado e preservado como registro de um momento histórico que tem sido estratégico para a luta contra o racismo, contra o machismo e opressões afins.
É tarefa constante projetar ações voltadas para o combate do racismo, machismo, elitismo e outras opressões responsáveis pelo feminicídio negro, denunciando a correlação entre discurso e prática que nos matam inclusive pela ação institucional.
Temos em nossa gênese o desejo de valorizar e remunerar as mulheres que trabalham como coordenadoras e autoras.
O entendimento que nosso acervo constitui um patrimônio cultural a ser preservado e protegido de práticas predatórias como sua reprodução sem os devidos créditos ou permissão é um desafio que será enfrentado com muita seriedade e estaremos em diálogo constante para enegrecer a questão. Fazer entender que somos fruto da colaboração de incontáveis mulheres cujo investimento emocional e intelectual precisa ser respeitado.