Estão abertos os trabalhos senhoras, mais um ano e com muito orgulho apresentamos as 25 WebNegras de 2018 (em 2019 porque somos dessas!), que fala sobre a construção de um novo projeto de civilização que se coloca em marcha em diversas áreas de nossa sociedade. . .
É sobre a gente, como potência de novos mundos.
Em todas as edições, e lá se vão 5 aninhos de caminhada, sentimos aquele friozinho bom na barriga. Afinal construir uma lista dessa natureza é uma delícia e também uma tarefa muito desafiadora. E desde já agradecemos a todas as mulheres que colaboraram conosco na elaboração das #25WebNegras de 2018.
A gente entende que cada um dos nomes das mulheres negras aqui celebradas são expressões coletivas de nossas batalhas, modos de pensar e viver o mundo. Este é o nosso desejo, falar daquilo que nos irmana a partir de muitos pontos de vista e perspectivas, lugares e territórios. É uma lista onde a expressão de uma é a voz de muitas!
Aqui pretendemos reverenciar a todas nós por meio de mulheres incríveis, que através de suas vidas tocam nossas mentes e corações. Aliás mais uma vez gostaríamos de repetir que não existe uma hierarquia entre as mulheres aqui listadas, entendemos que todas chegaram juntas, são resultado de construções coletivas, para continuar fazendo muito barulho nesse ano que vem chegando.
Certamente muitas outras que poderiam estar nessa edição das #25WebNegras ficaram de fora, algo que nos entristece, mas continuamos com o desejo de que todas nós possamos ver um pouco de nós mesmas nas mulheres que figuram a lista de 2018.
Com elas dividimos caminhos que se entrelaçam para além de qualquer ideia inoportuna e equivocada de sororidade que não nos contempla. Que todo tensionamento seja bem vindo, porque também são eles fonte de movimento e fortalecimento das redes invisíveis que nos tocam e alimentam. Longe de sermos unanimidade, massa, forma única, essa lista pretende – sem presunção – ser um exemplo de diversidade, diferença e expressão da coletividade, independente se gostamos ou não dos posicionamentos políticos das mulheres nela presente. Ao passo que, ela também é constituída por mulheres nas quais acreditamos, que pensamos ser formas de pensamento diversos que constituem a pluralidade das mulheres negras feministas brasileiras (mesmo que algumas delas nem feministas se denominem).
Também não se trata de uma presença apenas nas redes sociais, inclusive algumas de nossas indicadas não tem feito essa disputa. Nosso olhar é sobre um outro mundo em todas as redes, com ênfase naquela formadas por pessoas. Nas redes de solidariedade e de ação concreta, redes de amor e laços comunitários, reais on e offline.
Lembrando que todos os nomes aqui listados dialogam com a ideia de protagonismo das mulheres negras em diversas frentes de atuação. É sobre nossos corpos como autores de nossas próprias narrativas, das nossas próprias vontades como expressão de nossa humanidade. Ao contrário de celebridades, lideranças! Aclamadas pela luta, pela visualidade e visibilidade, pela concretude de suas ações e responsabilidade sobre o futuro da sociedade. Mulheres negras, negras jovens, feministas, mães de santo e sobretudo defensoras de direitos humanos: mulheres negras que lideram essa tal marcha em curso.
Falamos também sobre o reconhecimento de outras mulheridades tocadas por questões de raça, gênero, classe e autoria, corpos que não podem ser normatizados através de valores cisheteronormativos, cunhados por dogmas oriundos do fanatismo cristão ou espantalhos estrategicamente posicionado como apelo capitalista. As mulheres trans negras são nossas mulheres! Queremos, desejamos e colocamos nossa força para caminhar ao lado, aprender e visibilizar seus esforços em prol da nossa comunidade.
Nossas indicadas falam muito além de likes, compartilhamentos e número de visualizações. São mulheres cuja trajetória é profundamente marcada pela batalha por um marco civilizatório completamente distinto, com visão além, caracterizado pela afeição aos valores tradicionais das mulheres negras e também com olhar firmemente voltado para o futuro, que é feito aqui e agora. É sankofa sempre na cabeça.
Não esqueçamos, senhoras, que o ano que se avizinha também será de nosso senhor Rei de Iré. Estamos falando da armas, da guerra, da justa cobrança. Mas também de nossa relação com a tecnologia, essa que é do circuitos, dos cabos de rede, dos algoritmos matemáticos, mas também sociais.
Adupé!
Leia também: #25WebNegras é História
25 webnegras 2013: As mais influentes
25 webnegras 2014: Listão
25 webnegras 2015: De olho no futuro
25 webnegras 2016: Que ano senhoras
25 webnegras 2017: Juntas somos mais
Vamos à nossa lista.
- Paola Yañes-Inofuentes
A Afroboliviana Paola é daquelas mulheres de sorriso largo, voz serena e olhar penetrante. Sua família vem de uma região na Bolívia chamada Yungas [uma ecoregião de montanhas e florestas que faz fronteira com o Peru, e Argentina] com um forte antepassado de comunidades afrobolivianas ali vivendo. Esteve envolvida por anos com o MOCUSABOL – uma organização do movimento artístico-cultural afroboliviano Saya – junto com seu braço político e social CADIC [Centro Comunitário Afroboliviano para o Desenvolvimento Integral]. Paola Inofuentes tem trabalhado durante anos em prol do reconhecimento do povo afro boliviano com parte dos cidadãos bolivianos, trazendo para a política nacional e para dentro da constituição garantias de uma herança negra naquele país.
Recentemente Paola Yañes-Inofuentes foi eleita Coordenadora Geral da Rede de Mulheres Afrolatinoamericanas, Afrocaribenhas e da Diáspora.
2. Elionice Sacramento
“Pescadora de tradição e de profissão”. É assim que ela se denomina. Dona de um olhar sereno digna de uma contadora de história, Leo é uma das lideranças do Quilombo Conceição de Salinas, território ancestral ocupado pelos povos Tupinambás e pelos povos negros.
Tendo vivido dias de intensa disputa, Leo Sacramento também tem construído, junto com a Associação local e outras lideranças, o Setembro Negro, além de muitas outras ações de valorização da identidade quilombola, da contação de histórias e fixação da memória local, além de, claro, atitudes que preservam e mantêm a tradição da pesca e da coleta no território do Quilombo. Transitando na sua comunidade e academia, Leo Sacramento é uma das nossas #25WebNegras com muito orgulho. Obrigada!
3. Jup do Bairro
Ativista negra e LGBTTT+, performer, rapper, DJ e baQUEEN vocal de MC Linn da Quebrada. Ao ver sua obra a gente pensa sobre em nada menos que vanguarda. Em suas redes sociais a artista indica uma de suas obras: Leste a leste, uma criação do Centro de morte para xs vivxs que nos indagam: “Minha presença te incomoda?”, “Quantas travestis estão trabalhando com você? ou ainda “Com quantos negros você se relacionou sem fetichizar?”.
Entre o centro e a favela, bicha louca, preta, gorda e pobre, Jup do Bairro poderia ser só mais uma cria marginalizada. Mas ela não se aguenta, ela grita. Tratando de temas como transfobia, racismo, gordofobia, trabalho e afeto através da estética e da arte, Jup do Bairro é “corpo contracultura resistindo aos olhares julgadores”. Mais uma preta pra você ficar de olho em 2019.
4. Gilmara Santana
Mais conhecida como LGBTerrorista, Gilmara Santana é uma negra jovem feminista. Vem do solo mais quente e úmido sua força e resistência de mulher negra: pernambucana e moradora do Cabo de Santo Agostinho, essa pretinha já vai na sua segunda graduação, tendo atuado intensamente no movimento de jovens e mulheres negras do Nordeste. É muito fogo na venta!
Uma das articuladoras da ANJF (Articulação de Negras Jovens Feministas), Gilmara também compõe o FOJUPE (Fórum de Juventude de Pernambuco) e tem construído muito fortemente o movimento de mulheres negras em Pernambuco. Uma honra tê-la em nossa lista. Bruxona!
5. Bruna Kury
“Tem a ver com cavucar privilégios com essa localização e esses recortes de gênero, classe, raça e trazer a tona essas questões. O trabalho é também pensar sobre essas marginalidades e faço parcerias com outros coletivos também e essa rede pós-pornográfica tem a ver com uma rede afetuosa de corpos dissidentes que se encontram para produzir performance”.
“Nasci no Rio, mas não sou do Rio de Janeiro, sabe? Gosto de falar que me considero sem fronteiras”, Bruna Kury afirma, uma anarcatransfeminista e performer cujo “processo de transsexualidade acontece entrecruzado com meus processos de performance e criação artística”. Em seu corpo, política, arte e sexo se tornam sujeitos e objetos diretos.
Infelizmente, devido à censura, há pouco material em seu site para a gente se aproximar de sua obra.
6. Camila de Moraes
2018 foi o ano das mulheres negras no cinema, fatasso! E Camila de Moraes é uma das que se destacou pelo Brasil e mundo afora: Seu filme “O Caso do Homem Errado” circulou por mais de 15 estados brasileiros, além de Uruguai, Portugal e Argentina. Em março seu filme já estava nas salas comerciais, lotadas sempre e com muita discussão após as sessões – tudo o que uma artista almeja provocar.
Cria de uma família de ativistas e artistas, Camila tem na veia a sensibilidade e as linguagens certeiras para transformar a dor do racismo em obra de arte e denúncia: “…precisamos ter espelhos positivos para seguir em frente, nos reconhecer no outro e é fundamental que saibamos que podemos ser o que quisermos. Por meio do audiovisual, é possível reconhecer a história de uma nação, e ajudar a construir a sua identidade, buscar suas raízes e tantas outras infinitas possibilidades de crescimento e amadurecimento.” Camila Moraes merece nossa atenção em 2019! #25WebNegras
7. Fabiana Pinto
Uma área negligenciada pela sociedade, mas é a que todo mundo precisa já que doença chega pra geral: a Saúde! E temos mulheres negras referências nessa área, é lógico. A carioca Fabiana Pinto tem construído sua trajetória na área da Saúde Coletiva, focando sua atuação na defesa do SUS e pensando a saúde como um direito coletivo, tendo estado em conferências internacionais e eventos nacionais como a Global Conference on Primary Health Care e na Conferência Livre de Juventude e Saúde.
Fabiana Pinto representa a nossa luta dentro do sistema de saúde, onde muitas mulheres negras tem sofrido racismo institucional e violências das mais atrozes, mas onde a gente ainda acredita que é possível uma democratização ao acesso e onde é necessário continuarmos lutando. Obrigada, Fabiana!
8. Yane Mendes
Mulher negra e periférica, Yane Mendes é o retrato da inteligência e criatividade das mulheres negras jovens brasileiras. Do Totó para o mundo, Yane é comunicadora social no projeto Favela News, onde, além de dirigir curtas, documentários e filmes, cuida da educação popular de crianças e adolescentes nas diferentes quebradas do Recife. Em 2018 o Princesa do Beco e o Lampião Cromado, que teve sua direção de fotografia foi lançado no Recife com sucesso de público e crítica!
Além de estar por trás dos seus equipamentos, Yane não se esquiva dos desafios da vida e constrói seu ativismo no coletivo Mulheres no Audiovisual PE e na Articulação de Negras Jovens Feministas de Pernambuco. Uma cria da rua, formada pela vida e com suas raízes bem fincadas. Voa, rataria! Yane é preta pra seguir em 2019.
9. Cidinha Oliveira
Se você é antenada dos zap, deve ter chegado no seu grupo aquele áudio “fiquem juntas!” (Só de escrever já dá um arrupio). Cidinha Oliveira é a autora daquela poesia emocionante falada na voz de Nega Duda, que rodou o Brasil inteiro na época do assassinato de Marielle Franco. Mas Cidinha é além! Sergipana de nascimento, essa mulher preta retada tem construído o feminismo pernambucano há um time, tendo passado por organizações de muito respeito, trabalhando com o semiárido brasileiro e as questões da terra imbricadas com a pedagogia feminista. Mãe, sapatão e artista, Cidinha é dessas mulheres negras para todos os momentos, com sabedoria em cada palavra e um sorriso largo mesmo nos momentos mais difíceis. Tem que ler essa poeta sim, e seus textos estão lá no seu blog lindo. Cidinha é #25WebNegras =)
10. Emanuelle Aduni
Irmã de Orixá, de ativismo e alma, Emanuelle Aduni é aquela que conquista com doçura: uma das mulheres negras a construir o Odara Institudo da Mulher Negra, Emanuelle atua na área de saúde da população negra e encara os debates sobre direitos sexuais e reprodutivos, saúde da mulher negra e coletiva como ninguém na Bahia.
“Derrubar tabus, desconstruir hierarquias e garantir direitos serão nossas frentes de luta para os novos/velhos tempos que se aproximam, agora mais do que nunca.”
Ela é referência quando o assunto é a saúde da população negra e seu lattes comprova: Doutora em Saúde Pública com concentração em Epidemiologia (ISC/UFBA), Mestra em Enfermagem pela Universidade Federal da Bahia com concentração em Gênero, Cuidado e Administração em Saúde. Babado! Amém disso tudo ela achou pouco e criou o blog População Negra e Saúde, onde debate temas diversos relacionados a saúde, além de, claro, ser nossa autora assídua e Blogueira Negra. É assim que ela transita entre a academia e a rua, promovendo mudança para as mulheres negras. Manu é dessas que temos que ficar de olho!
11. Anita Silvia
«Somos um grupo de pessoas capazes de provocar, uns nos outros, novas possibilidades narrativas para nossas próprias histórias de vida.»
Anita Silvia é uma mulher trans carioca vivendo em São Paulo, co-fundadora do Coletivo Mexa em que são “um grupo de artistas, somos coletivo, fórum, somos LGBT, QIA, somos negros, sem casa, cadeirantes » atuando na “guerra do imaginário” com encontros de acolhimento e intervenções. É política em forma de arte.
O grupo “não se define como um coletivo artístico, mas se utiliza de táticas artísticas, principalmente escritura e performance, para defender e promover o encontro da diversidade da população em situação de rua e vulnerabilidade” e procura “formular maneiras singulares de fazer as nossas perguntas; não nos interessamos em respostas conclusivas sobre os funcionamentos políticos do mundo.”
12. Natalha Claudinei Silva Nascimento
“Tive que esconder a minha transgeneridade até onde pude. Caso contrário, poderia morrer”, relembra Natalha Claudinei Silva Nascimento ao falar de como presenciou muito cedo o que era a transfobia e como ela mata.
Ludovicense de Açailândia, a professora de matemática certamente sempre está olhando muito além. No meio desse ano ela trocou uma indenização de 20 mil reais pela oportunidade de educar os funcionários de uma pastelaria em Brasília.
Uma decisão que chama atenção porque evidencia como o acesso à justiça é desigual de acordo com a identidade de gênero da vítima e a importância da educação para construção de um mundo mais humano.
13. Miriam Duarte
“Estão matando os nossos filhos. Não é justo a gente colocar eles no mundo, dar amor, e ele acabar nesse sistema. Eles dizem que a gente não cuida, mas no sistema eles os matam. O estado tem que responder por isso, ir para a cadeira dos réus. Não é justo o que fazem com a gente na periferia” denuncia Miriam Duarte Pereira, atuando ao lado de Maria Railda Silva na Amparar (Associação de familiares e amigos de presos/as) localizada na COHAB II, Zona Leste de São Paulo.
A ativista perdeu 3 filhos nessa guerra. Uma das ações da associação é “ações diretas junto aos familiares que vivenciam o recrudesci- mento penal, distribuindo panfletos e cartilhas que contribuem para o debate político sobre a função da prisão na sociedade capitalista.”
14. Paula Beatriz de Souza
A professora paulistana Paula Beatriz Souza é uma nascida e criada na Zona Sul da cidade de São Paulo. Hoje trabalha com aproximadamente 1000 alunos e 70 funcionários como a primeira diretora trans da rede estadual de ensino, na unidade E.E. Santa Rosa de Lima com o apoio da comunidade e alunos do Capão Redondo, que já foi considerada como uma das áreas mais violentas do país.
Em atividade como professora há cerca de 30 anos, ela vislumbra o futuro enfatizando a importância da “criminalização da homofobia e da transfobia, que está parada e que não é aprovada no Congresso”.
Paula, que é a filha caçula, disse que a única pessoa que ficou receosa com seu processo de transição de gênero foi a mãe: “Ela acompanha muito os jornais, sabe como travestis e transexuais são agredidas, então ela ficou com medo”.
15. Lilia Melo
Lilia Melo é mais uma educadora a integrar essa lista, “professora da educação básica de uma escola da rede pública (Brigadeiro Fontenelle, uma das maiores escola da rede estadual) situada no bairro da Terra Firme.”
Ela criou uma campanha que teve reconhecimento nacional. Sua proposta era levar seus alunos para assistir ao filme Pantera Negra nos cinemas e assim “construir mecanismos de pertencimento desses sujeitos no momento em que acontecem os fenômenos que proporcionarão a ressignificação de sua própria história.”
Segundo Melo, “pensar no cinema como um evento, inclui desde o deslocamento da periferia ao centro, até a pipoca e expectativa do conteúdo que se vai assistir.” Em tempo, segundo pesquisa realizada em 2016, quase metade da população brasileira não tem acesso às telonas.
16. Neon Cunha
Neon Cunha é “publicitária, diretora de arte e colaboradora da marca Isaac Silva. É também ativista independente, mulher negra, ameríndia, feminista e transgênera. Tem atuado em palestras e debates na defesa da dignidade, em especial das transgêneras”.
“Não vou passar por controle médico, me recuso a passar por um processo de patologização. Uma mulher pode nascer com um falo e não se incomodar com isso.”, afirmou.
Sua batalha se deu dentro e fora dos tribunais para que conquistasse o reconhecimento de sua existência fosse feito sem avaliação médica e se recusando a aceitar o diagnóstico patológico de disforia de gênero. Caso seu pedido fosse negado a ativista pedia o acesso à morte assistida.
17. Paulett Furacão
“O T é a letra mais invisível da sigla. Sempre foi e continuará sendo por muito tempo. Infelizmente, em muitos sentidos. No acesso à educação, ao trabalho, à saúde, à família, à afetividade, tudo. É a base da pirâmide da discriminação”, denuncia Paulette Furacão.
Moradora da região do Nordeste de Amaralina, Paulett é ativista LGBT e foi a primeira mulher negra trans a ocupar um cargo público no estado da Bahia, quando coordenava a pasta LGBT da Secretaria da Justiça. Além de ativista, Paulett é radialista, educadora e poeta cujas metas incluem o combate à prostituição compulsória da população trans.
Aos 14 anos foi confrontada com a transfobia, viveu o luto pelo assassinato de uma amiga, foi então que iniciou medidas de conscientização de sua própria comunidade no Nordeste de Amaralina, o que a levou para a Secretaria de Justiça, Cidadania e Direitos Humanos. Paulett é daquelas mulheres que a gente bate palma ao ouvir falar e fica de olho nas movimentações políticas, já que pra nós sua presença é muito cara.
18. Robeyoncé Lima
Robeyoncé Lima é Pernambucana, moradora do Alto de Santa Teresinha – periferia da zona norte do Recife e batalhou muito até ser a primeira advogada trans aprovada no exame de ordem e conquistar o nome social na OAB em Pernambuco, tendo nomeado a sua turma na universidade. Por essa conquista, Robe passou a frequentar rodas de conversa, seminários e congressos trazendo sua experiência como mulher negra trans pioneira na sua comunidade e como os espaços institucionalizados a tem recebido.
Sua mais recente conquista foi a cadeira de codeputada na candidatura coletiva das Juntas, sendo ela uma das três mulheres negras eleitas pelo Partido Socialismo e Liberdade, com quase 40 mil votos.
“Quando a gente se candidatou, estava reivindicando um lugar de fala que sempre nos foi negado. Um lugar político onde as mulheres e as LGBTs nunca tiveram vez“. Robeyoncé é uma blogueira nata, acompanha ela no Instagram pra você ver! #25WebNegras pra acompanhar real.
19. Emanuelly Vitória da Silva Almeida
“Dedico esta vitória a todas as pessoas travestis e transexuais que não estão mais neste plano, que tiveram suas vidas tiradas em nome do preconceito, E também a todas e todos que sofreram arduamente para que hoje eu pudesse ser contemplada.”, disse Emanuelly da Silva em sua rede social.
Emanuelly Almeida é uma ludovicense, morando e atuando em Teresina, professora de moda, ativista e candomblecista, a primeira mulher trans no estado a receber sua certidão de nascimento de acordo com sua identidade de gênero. Exemplo de vida pra tantas de nós, mulheres negras que não desistimos das nossas batalhas cotidianas.
20. Maria Leticia Ohana Costa
“A moda precisa de uma visibilidade travesti. Se estilistas e fotógrafos precisarem de uma modelo, saibam que eu estou aqui. É o que eu amo fazer.”, diz a Manauara.
Maria Letícia Ohana Costa, a Manauara Clandestina, é uma modelo e performer de Manaus trabalhando em São Paulo. Em seu currículo está a Casa dos Criadores para Vicente Perrota, a I Mostra de Experimentos Cênicos Trans que aconteceu em outubro deste ano na Aparelha Luzia e a Festa Afrotombamento da Bapho Produções.
Ao sair de Manaus, deixou para trás a família evangélica, veio para Campinas e depois São Paulo. Ao chegar foi a primeira moradora do centro de acolhida lgbt Casa 1, tendo colaborado com a construção daquele espaço.
21. Quilombo do Jabaquara
Trazemos a memória e a ancestralidade de todas as mulheres negras que ao lado do líder Quintino de Lacerda (sargento de patente do Exército e que anos mais tarde foi eleito o primeiro vereador negro de Santos) construíram o Quilombo do Jabaquara em São Paulo. Em suas terras se localizava o Sítio da Ressaca, um espaço extenso perto do Morro do Bufo, logo após a saída do túnel Rubens Ferreira Martins.
A comunidade foi uma das maiores resistências do país e teve sua história iniciada em 1880, chegando a abrigar entre 10 e 20 mil pessoas, segundo a fonte consultada. Hoje o bairro abriga o Centro de Culturas Negras do Jabaquara Mãe Sylvia de Oxalá, espaço cuja tarefa tem sido de entender essa memória e preservá-la.
22. Mãe Elzita
«Uma dona de terreiro é uma mãe que é para todos que mais precisam. É o que a gente pensa e faz.”
Em 2018 o Terreiro de Mina da Fé em Deus no Bairro do Sacavém completa 50 anos. Sua origem é o Terreiro do Egito através da matriarca Mãe Denira de Vó Messan (Denira Ferreira de Jesus) sucedida por Mãe Elzita. Parte de sua trajetória foi contada no documentário “Quem toma conta dá conta” que retrata um boi de encantado, a Festa de Sant’Ana e como ocupam as ruas e mobilizam toda a comunidade do bairro.
Trazer a figura de Mãe Elzita é celebrar um ponto de ligação entre a encantada ancestralidade afrobrasileira de expressão maranhense e o mundo que queremos construir, através de práticas que vão além da religiosidade, celebrando uma rede de acolhimento e afeto que se materializam através dos rituais de Tambor de Mina, dentro e fora dos terreiros.
23. Bruna de Oliveira
A primeira vez que assistimos o vídeo sobre as PANCS, OS MATOS DE COMER tínhamos certeza de que Bruna pararia na nossa lista das #25WebNegras. Para além da youtuber (Canal PorqueNão) incrível que ela é, essa pretinha que vive em São Sebastião, no Distrito Federal é nutricionista, já atuou com as mulheres negras na Rede SSAN (Rede de Mulheres Negras para Soberania e Segurança Alimentar) e gerencia o Observatório Brasileiro de Hábitos Alimentares.
Bruna de Oliveira é dessas negras jovens que tá ali, fazendo o dela, de uma maneira muito especial e criativa e que merece nosso olhar carinhoso no novo ano. Bruna é sim nossa #25WebNegras com muito amor!
24. Bione
Pra começar já dando um tiro: Bione foi uma das finalistas do Slam BR 2018, representando Pernambuco no Campeonato Brasileiro de Poesia Falada.
Poeta, estudante e rapper, Bione tem só, (eu disse só, apenas) 15 anos e já é a atual campeã do Slam das Minas PE. Suas peripécias vocais são velhas conhecidas no Sarau Boca do Trombone – também organizado por mulheres negras – lá no Alto do Pereirinha, em Recife, onde sua sagacidade deixou de queixo caído todas e todos que tiveram a oportunidade de assistir sua performance.
A pretinha de dread azul tem um grande futuro pela frente, com seus versos afiados e seu andar firme, mostrando a presença das negras jovens na cultura Slam e reafirmando o poder da juventude em se reinventar em tempos tão tenebrosos. Tem que se ligar nessa bicha em 2019!
25. Viviane Rodrigues Gomes
Carioca do sorriso largo, Vivi Gomes é dessas mulheres negras pra se apaixonar a primeira vista: Comunicadora vea de guerra, sua atuação com tecnologia e informação é lá da época dos pontos de cultura, de onde ela mesma viu surgir as iniciativas populares em torno das redes, bem como o furor e empolgação lá nos primórdios da construção e subsequente aprovação do Marco Civil da Internet.
Recentemente compondo o grupo de pesquisa de Comunicação e Tecnologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Viviane também compõe a nacional Rede de Ciberativistas Negras, onde tem se dedicado a fazer debates sobre software livre, – quando no último Fórum de Software Livre no Rio Grande do Sul – segurança digital e segurança da informação. Vivi Gomes é com certeza #25WebNegras pra acompanhar de pertíssimo.
Menção
- Irani Barbosa dos Santos Macuxi
“Não vamos permitir que o estado brasileiro nos diga que estamos errados dentro da nossa própria casa”
Irani Barbosa dos Santos Macuxi é uma mulher indígena, da etnia Macuxi, liderança da Raposa Terra do Sol. A reserva indígena foi pioneira na demarcação dos direitos dos povos indígenas a sua terra e pertencimento, no entanto seu futuro é incerto diante da ideia de “uso racional da terra”, mediante a oferta de royalties as populações tradicionais que historicamente ocupam o lugar.
Irracional é a exploração! A luta das mulheres indígenas como todas aquelas do povo Macuxi, nossas irmãs, é para que na terra a natureza possa morar, é a vanguarda da preservação ambiental. Atraindo para seus territórios práticas predatórias do capitalismo e da apropriação cultural e religiosa desejosas dos recursos ali preservados.
2. Leonice Tupari
“Nós todos, homens e mulheres, sofremos muito com os impactos da mineração nas terras indígenas e também com a presença dos madeireiros. Mas nós, mulheres, somos as mais impactadas. Isso porque, na maioria das vezes, são os homens que tomam as decisões e eles nem sempre comunicam a gente sobre o que está acontecendo, e quando vamos perceber o impacto já está lá.”
Guerreira! A parenta Leonice Tupari é presidenta da Associação das Guerreiras Indígenas de Rondônia (AGIR, entidade que reúne mais de 500 mulheres, de 27 terras, englobando 54 povos do estado) e conselheira da União das Mulheres Indígenas da Amazônia Brasileira (UMIAB).
Ela vem para a luta de mulheres indígenas a partir de 2000, quando moradora da Terra Indígena Rio Branco na Aldeia Colorado onde era professora. Vítima de machismo, ela termina seu casamento e muda de aldeia, passando a conviver e combater ao lado das mulheres suruí pensando em economia, artesanato, sustentabilidade e política.
3. Mãe Stella de Oxossi
Odé Kayodé (agô) já esteve na nossa lista em 2015, mas volta aqui justamente pelo que ela representa: A quinta Yalorixá do Ilê Axê Opó Afonjá é a sacerdotisa de um legado imensurável não só para o povo da Bahia, mas sobretudo para o povo de Santo brasileiro. Ocupante da cadeira número 33 da Academia de Letras da Bahia – da qual Castro Alves é o patrono, Mãe Stella é a herança eternamente viva do povo africano detentor de saber, de cultura e de poder com o qual dividia na comunidade e seu entorno. 2019 começa um tico mais triste, mas na certeza de que a filha de Odé continuará a nos guiar nas decisões e momentos importantes de nossas vidas. Motumbá, Mãe Stella!
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Créditos das imagens
- Miriam Duarte, Outras palavras, arquivo pessoal
- Jup do Bairro, Facebook da artista
- Bruna Kury, HuffPost
- Mãe Elzita, Marcos Vasconcelos
- Maria Leticia, Julia Rodrigues Fotografia, Manauara Clandestina no clipe LESBIGAY
- Quilombo do Jabaquara, Memória Sabrusta
- Robeyoncé Lima, OAB-PE Facebook/ Divulgação
- Anita Silvia, Caio Nascimento, Estadão
- Natalha Claudinei Silva Nascimento, Leopoldo Silva, BBC
- Paula Beatriz Souza, Arquivo pessoal
- Lilia Melo, Marco Santos/Diário do Pará
- Neon Cunha, Hysteria
- Paulett Furacão, Clipping Lgbt
- Leonice Tupari, Gabriel Uchida/VICE
- Paola Yañes-Inofuentes, Mujeres Afro
- Camila de Moraes, HuffPost