2017 foi um ano espetacular!
Apesar de muita dificuldade, de um zilhão de problemas e tretas, esse foi mais um ano em que agradecemos e abraçamos os diferentes trabalhos e caminhos a que fomos sabiamente conduzidas.
Foi o ano das pretas se destacarem nas artes, na comunicação, nas novelas e nos esportes. Numa retrospectiva empolgante, presenciamos as vitórias das gringas Serena Williams, Viola Davis e da terceira Miss Negra Monalysa Alcântara; celebramos uma FLIP toda preta, com Dona Diva Guimarães emocionando a todas, com Conceição Evaristo aclamada pelo Brasil afora e vibramos com o lançamento do Catálogo Intelectuais Negras.
2017 comemoramos os 10 anos do Festival Latinidades e conseguimos reunir as Blogueiras Negras em Brasília, para falas e conversas das mais emocionantes. Foi o ano em que a Bahia foi foco do mundo, com a presença de Angela Davis em terras negras, num discurso de tirar o fôlego da militância inteira. Salve Black Panther!
Consagramos os diálogos, mostrando que nós queremos sim conversar, aparar arestas, trocar ideias, melhorar: Diálogos Insubmissos, Diálogos Ausentes e tantos outros trouxeram à tona ideias de um povo para a sociedade que desejamos: antiracista, anticapitalista, antisexista, antitransfóbica.
Apesar dos baques e desmantelamento de direitos de um governo golpista e escroto, o que essa lista de 2017 traz são iniciativas coletivas grandiosas, num tempo em que a internet parece ser regida pela rede azul que mascara comportamentos individualistas e neoliberais. Tempo esse em que construímos redes, coletivos, organizações – mesmo que a conjuntura mostre o contrário.
Consolidamos parcerias, nos registramos e continuamos escrevendo nossas histórias, seja no audiovisual, seja nos livros, seja na internet. Evoé, Blogueiras Negras.
Vamos então a lista mais esperada de todos os anos. Como sempre, as iniciativas não estão rankeadas, essa ordem é aleatória e não significa nenhuma premiação, mas nossa lembrança e consideração pelo trabalho de mulheres negras, cis e trans. Como novidade, traremos apenas coletivos ou iniciativas coletivas, para enfatizar nosso poder de povo negro, lembrar da nossa trajetória de união e reafirmar que juntas somos sim mais fortes.
Lambuzem-se e compartilhem as boas novas pela rede adentro. Feliz 2018!
1. Nana Maternidade
O Nana Maternidade é uma iniciativa que é feita por e tem o objetivo de falar para “irmães”, um grupo de mulheres negras que se apoia e resiste através do cuidado e amor aos filhos, que fica no Rio de Janeiro. Em suas discussões conversam sobre suas alegrias, falando de como vivenciam as experiências dos filhos. Inclusive aquelas que são as mais cruéis, como o racismo.
Entre seus objetivos está também a disputa da visibilidade da mulher preta na blogosfera materna através da construção de suas próprias narrativas. Nossa admiração ao grupo através de Carla Cavallieri que idealizou o projeto ao lado de companheiras como Clélia Rosa, Dani Barbosa e Mayara Assunção e Cíntia Aleixo.
2. Coletivo Feminista Baré
O objetivo do Coletivo Feminista de Baré é “o preconceito de gênero nas ruas e na rede”. Aquilo que podemos acompanhar virtualmente, exprimindo preocupações como combate à cultura do estupro, denúncia do patriarcado, da violência e discurso de ódio baseados em gênero, identidade de gênero e orientação sexual são preocupações constantes.
Suas ações se dão nas ruas da cidade de Manaus onde atraem a atenção de quem passa pela rua para suas causas. Um grupo jovem e negro, formado por estudantes da Universidade Federal do Amazonas, também se preocupa com a resistência ao capitalismo. Avante mulheres e nosso muito obrigada sempre!
3. Pretas CandangasSeu ojá a enfeita e representa seu poder de limpar tudo com as águas!
Nossa relação com as Pretas Candangas, “um coletivo de mulheres negras do Distrito Federal, formado em setembro de 2011, por jovens mulheres”, não é apenas de respeito, mas de completa admiração por sua atuação. Unidas por laços que vão além dos princípios feministas, o grupo atua como uma irmandade, resgatando um modelo de organização que também considera as tradições e práticas religiosas de matriz africana.
Somos irmanadas sobretudo pelo que acreditamos e por um objetivo comum, segundo suas próprias palavras, “estimular a escrita das mulheres negras, a nossa própria escrita e o conhecimento sobre a produção intelectual, cultural, política, ativista e afetiva de outras mulheres negras, em uma jornada em busca da afirmação da autoria coletiva e individual das mulheres negras de várias gerações”.
4. Marcha de Mulheres Negras
A Marcha das Mulheres Negras contra o Racismo, a Violência e pelo Bem Viver segue mobilizada e atuante em diversos estados após ter mobilizado mais de 50 mil mulheres negras numa caminhada até Brasília representando a resistência de outras mais de 50 milhões em seus afetos, direitos e reivindicações.
Idealizada pela militante paraense Nilma Bentes, a Marcha contou com a mobilização de todos os Estados Brasileiros, tendo a região Nordeste e Sul participação e atuação massiva – foi do Paraná, inclusive, que garantiu o primeiro ônibus que rumaria a Brasília em 2015. Campanhas, bingos, bazares e muito trabalho autônomo e horizontal foi necessário para que no dia 18 de novembro de 2015 as 50 mil mulheres se fizessem presentes na capital do país.
E o pós-marcha continua!
Em 2016 foi produzido o Ebook da Marcha que está disponível para download e fala sobre seu histórico com depoimentos emocionantes. Lembrando que é possível acompanhar todo movimento por meio das redes sociais. A Marcha continua presente e mobilizada em Pernambuco, Minas Gerais, Sergipe, São Paulo (e também na Macrorregião de Campinas) e aqui você pode ler seu manifesto e ver toda a produção das mulheres negras durante esse período.
5. Palavra Preta
A Palavra Preta – Mostra de Negras Autoras é uma iniciativa vibrante, um evento que reúne palavreiras pretas de todo país para momentos de afeto, resistência, performance e arte. O grupo esteve no Festival Latinidades, com uma participação inesquecível.
O fundamento da raça em primeiro lugar, seguido da autoria é o resultado da ação conjunta de mulheres negras para ocupar mais que espaços, mas sim mentes e corações. Nosso abraço ao grupo na pessoa de Tatiana Nascimento, aquela que é compositora, cantora, tradutora, poeta, acadêmica, editora de livros artesanais, zineira e blogueira mas que se define como aquela cuja fé nunca se abala. E um update de amor – beijo para a idealizadora da mostra, Luedji Luna, que também co-assina a produção do evento!
6. Intelectuais Negras: escritas de si
O grupo de Estudos e Pesquisas Intelectuais Negras, na UFRJ, foi criado em 2014 pela Giovana Xavier com o “desejo de congregar mulheres negras de diferentes áreas para construção de uma rede feminista negra engajada na produção de conhecimentos e promoção de ações com foco em comunidades negras, suas experiências e histórias.”
Deu mais que certo. Hoje, Claudielle Pavão, Núbia de Oliveira Santos, Geisa Ferreira do Nascimento, Ynaê Lopes dos Santos e Maria Julia Ferreira promovem campanhas como “Cadê nossas autoras negras?” e “Você pode substituir mulheres negras como objeto de estudo por mulheres negras contando sua própria estória”. E olha que a gente nem falou ainda do “Catálogo Intelectuais Negras Visíveis” cujo lançamento foi um arraso!
7. Preta & Acadêmica
O Preta & Acadêmica “nasceu da revolta contra espaços reais e virtuais que tentam dizer qual o lugar da mulher negra na sociedade. Nós mulheres negras acadêmicas estamos aqui para reivindicar nossa posição e direitos na academia brasileira. Buscamos visibilidade e união, e por isso esse espaço auxilia pessoas negras de todos os lugares a exporem seus trabalhos e encontrar conforto em um ambiente não hostil.”
“Alessandra de Jesus se formou em Engenharia Elétrica na Estácio de Sá, no RJ! Alessandra é Preta e Acadêmica!” foi o conteúdo de um de seus posts nas redes sociais, sempre comemorando vitórias que nunca são pessoais mas comunitárias.
Nossa admiração para todas as pretas nas pessoas de Eliane Oliveira que além de ser “bela, recatada e do lar” coordena o NEIAB – UEM, Costa Regina, advogada baseada em São Paulo onde coordena o IBCCRIM e Natália Neris, Mestra em Direito pela FGV e pesquisadora do InternetLab.
8. Rede Dandaras
A Rede Dandaras é uma iniciativa criada por duas psicólogas negras, “Laura Augusta e Tainã Vieira no intuito da sobrevivência, promoção de saúde e identidade e resistência de nossas subjetividades. Espaço de construção colaborativa, livre e centralizado na raça e gênero, reconhecendo que nossos passos vêm de longe.”
Um dos seus projeto é a hashtag #DandarasExplica para “Uma série de publicações sobre assuntos que tocam a saúde das mulheres negras , em linguagem acessível e referências de informação”.
Num momento em que a preocupação com a saúde da mulher negra, sobretudo a saúde mental e as discussões sobre autocuidado e cuidado estão no seu auge, nada mais importante do que uma Rede que nos auxilie a encontrarmos nossas iguais, que podem acolher nossas dores e angústias do ponto de vista de gênero e raça. Obrigada, Dandaras!
9. Adelinas
O Adelinas – Coletivo Autônomo de Mulheres Pretas define a si mesmo como “coletivo de mulheres pretas da capital paulista, formado em julho de 2015, por mulheres negras e por elas representadas nos seus fenótipos negros: tonalidades de pele, texturas de cabelos, diferentes corpos e experiências de vida. Unidas e reunidas por vínculos ideológicos, afetivos e espirituais, conformando uma irmandade, espaço de associação e intimidade, a partir do qual buscamos construir uma militância coerente com nossas histórias de vida e possibilidades de atuação política e percepções sobre o mundo.”
Sua atuação é através da produção intelectual registrada por meio da escrita, uma das motivações mais recorrentes, urgentes e necessárias nesse atual panorama, numa “jornada em busca da afirmação da autoria coletiva e individual das mulheres negras de várias gerações.”
Mais um espaço onde o conteúdo sobre e por mulheres negras é promovido e valorizado. Por mais Adelinas na rede.
10. Coletiva Luana Barbosa
Luana Barbosa, presente!
A Coletiva Luana Barbosa é formada por mulheres negras lésbicas, bissexuais e periféricas. Sua resistência fala de violências que se espraiam a partir da lesbofobia, bifobia e afins. A insegurança sobre o ir e vir de corpos fora da norma é uma grande preocupação, bem como os efeitos dessas opressões sobre a saúde e o afeto dessas mulheres.
Mas o bonde se movimenta também a partir de movimentos de ressignificação. Em setembro, mês da resistência e visibilidade bissexual, a “coletiva Luana Barbosa convidamos todas as mulheres bissexuais para construir conosco um espaço de diálogo, troca de vivências” para compartilhar “vivências quanto mulher, quanto preta, quanto periférica.”
São também algumas mulheres que compõem a Coletiva que organizam a maravilhosa festa Sarrada no Brejo, exclusiva para mulheres lésbicas e bi, que acontece em São Paulo. É muito projeto, né não? Parabéns pra essa Coletiva.
11. Mulheres Negras Negras na Biblioteca
O Coletivo Mulheres Negras na Biblioteca tem o objetivo de fomentar a leitura de autoras negras, levando nossa autoria para esse espaço de poder que são as bibliotecas. O grupo acaba de lançar um “calendário especialmente pra quem pretende ler muitas autoras negras em 2018.”
A ideia é compartilhar as anotações no final do ano que vem, num levantamento que fala de literatura, afeto, muita resistência e criatividade. Uma das pretas que move o bonde é Carine Souza, agitadora cultural baseada em Salvador.
12. Infopreta
A Infopreta é conhecida por todas nós, não poderia não estar nessa lista. Pensada por Buh d’Angelo, essa empresa de tecnologia criada por mulheres negras e lgbt baseada em São Paulo, oferece máquinas como netbooks para mulheres que estão resistindo na academia. Enquanto isso, cria postos de trabalho para mulheres que não encontram colocação no mercado de trabalho.
É autoestima, ferramenta, resistência e muita diversão ao mesmo tempo. E se a gente fosse resumir numa única palavra, diríamos inovação. Basta acompanhar suas redes sociais que são divertidíssimas. Apesar de todo reconhecimento que já receberam, e não foi pouco, cada mulher a ser beneficiada é celebrada como se fosse a primeira.
Vivam as mulheres na tecnologia!
13. Coletivo Filhas do Vento
O Coletivo Filhas do Vento tem “ como objetivo principal da nossa organização a promoção do empoderamento da população feminina negra.” A mensagem é inequívoca, a ideia é ocupar todos os espaços: “Estamos em todos os lugares. Somos vento, ventania , brisa e tempestade… Nós mulheres Negras resistimos!!”
O coletivo é baseado em Recife e tem promovido ações junto com outros coletivos, como o “Abolição pra que? Debatendo o 13 de maio” e as ações do Julho das Pretas, que ocupou todo o mês na capital pernambucana.
Um grupo de “pretinhas que vão à luta para garantir nossas existências e também em favor de nossas lutas cotidianas sejam políticas, familiares”. Para além da resistência da própria vida, as experiências de aquilombamento. Sempre de maneira articulada com outros grupos, promovem debates, encontros e espaços de formação e resistência na cidade.
14. Amotrans
A Amotrans é uma organização sem fins lucrativos, mista, baseada em Recife cujo fundamento é a identidade de gênero. “A instituição tem a finalidade de incluir seus integrantes na sociedade, orientando as pessoas sobre seus direitos, saúde, educação e cidadania através de palestras, reuniões, oficinas e debates. Assim como os movimentos LGBTTS, luta pelo reconhecimento legal de direitos e deveres civis de todas nós.”
Suas ações refletem o modo como nossa sociedade cisheteronormativa está estruturada, compartilhando de um legado a ser usado por pessoas da população trans a ser atendida quem vierem a precisar. Sendo o país que vergonhosamente mais mata pessoas trans, muito ainda há se ser feito e a Amotrans tem um papel fundamental.
Para o ano que vem a organização prepara o Encontro Estadual de Pessoas Trans, na sétima edição, e o primeiro Encontro LBTS.
15. Opará Saberes
A Opará Saberes é água correndo com força! Essa iniciativa é uma das mais bem sucedidas do ano e vem transformando a vida de mulheres negras que almejam estar na academia e das que já estão por lá ocupando seus lugares
Com o objetivo de “promover o acesso de pesquisadoras/es negras/os aos aportes teóricos estruturantes dos processos seletivos Stricto Sensu”, mais do que orientar, a Opará Saberes traz os depoimentos e experiências das mulheres e homens negros no ambiente acadêmico, dá os macetes de como escrever e conversa sobre as práticas e novas epistemologias presentes a partir da nossa entrada na Universidade.
Através de palestras, encontros e reuniões com foco na circulação de saber entre o povo preto, com especial atenção ao acúmulo de mulheres negras no que tange o feminismo, essa iniciativa precisa ser celebrada, na pessoa de Carla Akotirene – feminista negra que dá as caras nesse projeto de mulheres mulheres negras de água e fogo.
“Mais que necessário pra seguir em frente pra inverter a pirâmide social. Desnaturalizar desigualdades e sintonizar transformação”, testemunhou Lena Souza da Silva ao avaliar a Opará que aposta na antiga mas ainda eficaz estratégia de apostar na educação como ferramenta de libertação e resistência.
Salve as Águas!
16. TamoJuntas
A TamoJuntas nasce por conta da campanha #MaisAmorEntreNos com o intuito de atender mulheres vítimas de violência de forma gratuita, a partir da advocacia probono prevista no Estatuto da OAB. (…) O objetivo é tirar dúvidas das mulheres, orientá-las e atendê-las. A coletiva fica baseada em Salvador e compõe a Rede de Ciberativistas Negras.
A reunião dessas mulheres aconteceu através da resistência online por meio de um post de Laina Crisóstomo que logo aproximou Carolina Rola, Aline Nascimento e outras mulheres feministas que atuam contra violência contra as mulheres.
Mas além de Salvador, a TamoJuntas também atua tentando articular advogadas e outras redes que possam assistir a mulheres vítimas de violência.
Recentemente, a representante da coletiva participou de um vídeo que finalizava o capítulo da novela global Outro lado do paraíso, falando sobre violência doméstica e suas consequências. Outra de suas ações mais marcantes são os Ovulários, que são momentos de reflexão e estratégias sobre a temática do Aborto e os direitos sexuais e reprodutivos.
Por mais iniciativas como essa!
17. Coletivo de Mulheres Negras Aqualtune
O Coletivo de Mulheres Negras Aqualtune é “um espaço plural e diversificado, não confessional e não governamental e não partidário” que completou 8 anos de resistência capixaba pensando direitos sexuais e reprodutivos, genocídio do povo preto, saúde integral e afeto.
“Mas que saber de uma coisa? Apesar dos baques da vida, Vamos juntas. E não precisamos estar fisicamente juntas para sabermos que quando uma precisar, seja pra comemorar, pra chorar e pra lutar a nossas força se multiplicarão.” Foram seus votos para 2017 e os nossos votos para o grupo em 2018. “E que possamos sempre caminhamos juntas nas lutas do dia-a-dia, com muita gargalhadas ao longo do caminho.”
18. Coletivo As Carolinas
O Coletivo As Carolinas é uma das consequências e resultados da articulação na Marcha de Mulheres Negras de 2015. Reunidas em Natal, Rio Grande do Norte, cerca de 10 jovens negras tem atuado nas discussões sobre gênero e raça na cidade e no seu entorno.
Articuladas para participar do II Encontro de Negras Jovens Feministas, As Carolinas tiveram apoio financeiro que permitiu uma série de ações preparatórias e pós-encontro, como oficinas de comunicação, formação política e encontros de autocuidado.
Um coletivo jovem, engajado e comprometido com as pautas do feminismo negro que se destacou nesse 2017. Parabéns a todas Carolinas: Amanda Raquel, Amanda Pereira, Ligys Tavares, Jenair Alves, Jullyana Assunção e todas as outras pretinhas.
19. Nós, Mulheres da Periferia
A Nós, Mulheres da Periferia é um projeto pensado e protagonizado por mulheres que vivenciam a Periferia. Uma de suas conquistas é fazer da comunicação um direito aproximando quem faz e quem se utiliza dela para se informar, um feito de resistência tão grande quanto a concentração dos meios de comunicação nas mãos de poucas pessoas.
Formado em 2012 por jornalistas, ainda esse ano, o grupo foi indicado ao Troféu Mulher Imprensa, representando o potencial dessa disputa que é ocupar outros espaços, sem esquecer ou abandonar seus próprios territórios, a partir de nossas narrativas.
Elas também dirigiram o documentário que estreou esse ano (no dia 8 de março) intitulado Nós, Carolinas que narra histórias de mulheres negras periféricas, inspirado em Dona Carolina – uma senhora de 93 anos – e na nossa querida Matrona, Carolina Maria de Jesus.
Parabéns mulheres e muito obrigada! Que venham muitos anos.
20. Transfeminismo
O Transfeminismo talvez seja um dos grupos feministas mais antigos da internet que se descreve como “Feminismo Socialista Interseccional aplicado às questões trans. Coletivo que busca empoderar e dar visibilidade à causa trans.” Sua resistência se aplica a todos os aspectos da vida, desde o direito de ir e vir, acesso à banheiros públicos, acesso à educação e trabalho digno.
Como outros grupos uma das ferramentas para pensar seus objetivos é o uso estratégico da comunicação que coloca a pessoa trans como autora de suas próprias narrativas, combatendo por exemplo a patologização de suas existências. Por exemplo, através da necessidade da aprovação de um médico para ter acesso à cirurgias que possam adequar seus corpos segundo seu desejo.
As meninas inclusive estão na campanha de financiamento do site pra que elas consigam manter tudo de pé. Vamo ajudar?
Um trabalho referência, obrigada!
21. Rede de Ciberativistas Negras
Nascida em janeiro deste ano, a partir de uma articulação nacional liderada pela Criola, a Rede “atua em defesa dos direitos das mulheres negras, buscando desencadear ações rápidas, através do ciberativismo, bem como potencializar estratégias de comunicação desenvolvidas por mulheres negras que contestem narrativas racistas e sexistas no âmbito online e offline”, segundo seu documento construído coletivamente.
Desde que nasceu, a Rede tem atuado em praticamente todos os estados da federação, tendo celebrado seu lançamento no Maranhão, Pernambuco e Espírito Santo.
Para 2018, a iniciativa que reúne coletivos, organizações, grupos e ativistas individuais, prevê ações no âmbito da formação, campanhas dentre outras que visem a defesa das mulheres negras não só online, mas também offline.
22. Quilombo Paiol da Telha, Paraná
A comunidade Quilombo Paiol da Telha que fica localizada na Reserva do Iguaçu, Centro-Sul do Paraná foi um dos coletivos que teve sua luta em destaque nesse ano de retirada de direitos, onde o Marco Temporal foi questionado – na tentativa de diminuir ainda mais a demarcação de terras quilombolas no Brasil a fora – e por causa dele, a resistência das mulheres e homens quilombolas. Alguns assassinatos brutais e truculências inimagináveis foram cometidos contra diversos quilombos, que tem cada vez mais sofrido perdas incalculáveis.
Como destaque na luta quilombola, a Comunidade Paiol da Telha protagonizou a audiência pública na Assembléia Legislativa do Paraná, num debate sobre direito a terra e território, também protagonizando a campanha da Terra de Direitos Na Raça e na Cor.
No ano em que nós, mulheres negras, lideramos a campanha em todo Brasil #NenhumQuilomboAMenos , em nome de todas as comunidades quilombolas pelo país (Rio dos Macacos, Adelaide Maria Trindade Batista, Talhado), nos juntamos a luta do Paiol da Telha e louvamos sua força e resistência.
23. Articulação de Negras Jovens Feministas
Nascida a partir do II Encontro de Negras Jovens Feministas, realizado de 7 a 10 de setembro no interior de São Paulo, a Articulação tem como objetivo continuar a mobilização das negras jovens dos estados que estiveram presentes, além de convidar e agregar mais negras jovens brasileiras.
Com representação de todas as regiões (Norte, Nordeste, Centro-Oeste, Sudeste e Sul), a Articulação tem encaminhamentos práticos, como a continuação da construção da plataforma, além de ações de formação e de pós-encontros nas regiões e estados mobilizados.
Parabéns a Negras Jovens Feministas que se dedicaram e conseguiram reunir mais de 300 jovens num encontro incrível, de troca geracional com as mais velhas e que, temos certeza, gerará muitos frutos. Evoé!
24. Coletivo Mulheres de Axé
O Coletivo de Mulheres do Distrito Federal e entorno tem em seu fundamento as tradições de matriz africana. Tem como objetivo enfrentar a intolerância e celebrar papel das mulheres nesse universo. Não por acaso questões como a vestimenta, o ir e vir de corpos femininos negros numa cidade que nos mata, a necessidade de sermos respeitadas em nossas práticas são discussões recorrentes.
Sua atuação também fala do direito à cidade, afinal a intolerância e o racismo religiosos tem levados os filhos de santo para cada vez mais longe, para poder exercer suas vivências sem o risco de sofrer diversos tipos de violência. Uma resistência que também fala da preservação do meio ambiente, afinal voduns, orixás e inquices só existem onde há folha. Quem perde infelizmente são as cidades.
Que possamos aprender mais e mais com a resistência das mulheres de axé e do povo de santo!
25. Coletivo de Mulheres Negras da UFRRJ
A exposição de “Menina Mulher da Pele Preta”, de Renato Candido de Lima, na Universidade teve como consequência a formação do Coletivo de Mulheres Negras da UFRRJ – Alice Bruno. Entre suas ações está a incidência nas “calouradas” e nas “semanas de integração”, sem deixar de pensar em ações ao longo do ano que possam colaborar para que as pretas e pretos que está entrando ou já estão na universidade resistam a um ambiente hostil.
Nesse sentido os piqueniques são uma ação muito preciosa. Nesses momentos o coletivo promove espaços de afeto e resistência, por meio do pertencimento racial e de gênero. Uma ferramenta também de combate ao racismo institucional que se manifesta no modo em que a própria instituição que ocupam se estruture.
A cada uma que se forma e cada uma que entra na universidade uma comemoração. Vamos longe!
>>MENÇÃO HONROSA<<
As menções honrosas são o nosso jeito de homenagear os trabalhos que admiramos, porque o trabalho dessas mulheres também têm impacto inclusive no próprio Blogueiras, seja como exemplo de luta coletiva, seja pelas pautas que defendem. Vem com a gente para esse momento mais que especial do ano.
Articulação Nacional de Mulheres Negras (AMNB)
Fundada em setembro de 2000, a Articulação é formada por diversas organizações de mulheres negras proveniente de diferentes regiões do Brasil.
Criada com o objetivo inicial de permitir o protagonismo das mulheres negras durante o processo de realização da III Conferência Mundial contra o Racismo, Xenofobia e Intolerâncias Correlatas (África do Sul, 2002).
Após a Conferência, a AMNB passa a se dedicar ao monitoramento das recomendações e do Plano de Ação e a formulação de estratégias de desenvolvimento inclusivo para o Brasil, centradas na proteção e na promoção dos direitos; na geração de oportunidades no mundo do trabalho na cidade e no campo.
Hoje, responsável por diversas ações, a AMNB foi uma das organizações que protagonizou a mobilização em torno da Marcha de Mulheres Negras de 2015, e depois dela, apoiou e deu continuidade a diferentes iniciativas que nasceram após a Marcha, na efervescência dos debates contra o racismo e pelo bem viver.
Esse ano, além de ter realizado encontros internos espalhados por todo Brasil, a AMNB também deu suporte ao II Encontro de Negras Jovens Feministas e abraçou o desafio de um calendário nacional no Julho das Pretas, que se espalhou por diversos estados brasileiros.
A I Virada Feminista Online Pela Legalização do Aborto aconteceu em 2016, no dia 23 de setembro, sendo um sucesso na rede e esse ano ganhou uma proporção ainda maior, já que as ações online cada vez mais tem ganhado destaque.
Como elas próprias se definem a Virada “é um coletivo de mulheres que já estão nas redes com seus blogs e páginas propondo debates acerca dos muitos desafios que temos de enfrentar por sermos mulheres diversas nesta sociedade excludente. Nosso interesse é promover debates feministas nas redes sociais em conjunto com a atuação das mulheres nas ruas.”
Numa página que reúne mais de 600 seguidores, a missão da Virada é justamente utilizar as redes sociais como forma de resistência aos retrocessos políticos e estruturais que têm impactado a vida das mulheres, unindo ativistas de toda América Latina para a discussão sobre descriminalização e legalização do aborto.
Essa mobilização merece compor nossa menção honrosa por manter viva essa discussão em tempos de tanta violência e ataques fundamentalistas religiosos.
Coletivo Afronte
Nascido no seio da Universidade Federal de Pernambuco, o Coletivo Afronte se descreve como aqueles que “visam unir a força negra da UFPE, empoderar e ocupar espaços que nos são negados!”
Atuantes desde 2015, reúne jovens negras e negros dos diferentes cursos de graduação e promove o evento negro mais proeminente na Universidade: A Semana de Pretas e Pretos.
Com discussões que envolvem arte, comunicação, saúde, direito, a Semana que já está na sua segunda edição promove o encontro das negras e negros que estão espalhados pela Cidade Universitária, além de agregar a comunidade e a militância, atualizando as conversas sobre negritude e política.
Que o Afronte permaneça enegrecendo a academia.
Maria Lab
A MariaLab é um hackerspace feminista interseccional – com a presença de mulheres negras e brancas – que se autodenomina um espaço coletivo e aberto para a criação e troca de informação.
A Maria explora as ciências exatas com o objetivo de encorajar, empoderar e unir mulheres através do interesse pela cultura hacker, pautamos a interseccionalidade, elas são contra o machismo, homofobia, transfobia, misoginia, xenofobia e racismo.
Envolvidas em muitíssimas iniciativas bacanas que falam sobre tecnologia e internet feminista, a MariaLab é a grande responsável por um projeto incrível, mencionado recentemente no relatório Latin America in Glimpse : a Vedetas – um amplo projeto de tecnologia feminista que sobretudo agrega uma Servidora Feminista que existe justamente para ajudar grupos feministas em suas atividades online, aumentando a segurança e a autonomia das mulheres na rede.
Além de, claro, ter contribuído junto com as Blogueiras Negras, a Universidade Livre Feminista e o CFEMEA (com mais parceiras ainda) na construção da Guia Prática de Estratégias e Táticas para a Segurança Digital Feminista. Só sucesso.
Baseadas em políticas anti-opressão espaços, sejam eles físicos ou virtuais, em ambientes politizados e realmente inclusivos, as meninas da MariaLab tem sido um dos destaques desse ano e tem merecida presença na nossa lista!
Fundada em 2016 e de composição mista (com mulheres negras e homens negros) a Associação dxs Profissionais do Audiovisual Negro é uma instituição de fomento, valorização e divulgação de realizações audiovisuais protagonizadas por negras e negros bem como a promoção de profissionais também negros para o mercado audiovisual.
A APAN tem em suas raízes a luta pela inclusão e real protagonismo dos profissionais negros no Audiovisual, levando em consideração as problemáticas históricas estruturantes do racismo, presente em todas as esferas, inclusive no cinema e nas produções audiovisuais.
Uma de suas ações mais bem sucedidas são os Lab – Negras Narrativas, uma imersão de cinco dias com profissionais devidamente inscritos e que fornece consultoria para projetos de ficção e documentário em formatos de curta-metragem, longa-metragem e séries.
A Mostra do Audiovisual Negro de SP também é um de seus projetos de sucesso, que já está na sua segunda edição, esse ano com o encerramento realizado na Ocupação 9 de Julho, em São Paulo.
Na nossa lista, celebrando e honrando a memória dos que vieram antes e olhando para o futuro, a APAN existe e resiste!