Estive pensando em muitos modos de começar esse texto e o melhor deles, pra mim, foi questionar: o que a professora Diva Guimarães pode nos ensinar através da sua fala de quase 12 minutos durante a FLIP 2017? Antes de tudo, peço para quem não assistiu ao vídeo, por favor, assista!
Separei em alguns pontos que para mim formam melhor o perfil de Diva.
Diva é professora de educação física, negra, neta de escravizados e nascida no interior do Paraná. Sua mãe era sua principal incentivadora e lavava roupas para fora em troca de material escolar para que a filha pudesse estudar. Diva, já maior de idade, foi para Curitiba estudar e lá encarou o racismo mais uma vez de frente. No terceiro dia da 15ª Festa Literária Internacional de Paraty (FLIP), o ator e escritor Lázaro Ramos e a jornalista portuguesa Joana Gorjão Henriques debateram sobre como Brasil e Portugal lidam com o racismo, mesa do Território FLIP/Filipinha intitulada “A pele que habito”. E foi lá que Diva pediu a palavra e deu seu depoimento de força e sobrevivência da mulher negra na sociedade brasileira. Separei, com muita honra, ensinamentos dessa professora preta para todos nós.
“Eu sobrevivi e sobrevivo hoje, como brasileira, porque tive uma mãe que fez de um tudo, passou por tudo ‘que é’ humilhação para que nós pudéssemos estudar”
“Desculpa que eu tô me estendendo, é que é a grande oportunidade da minha vida que os dois (Lázaro e Joana) e a palestra de ontem (sobre mães) deram para eu poder falar”
Essa fala de Diva eu preciso comentar: deixem as mulheres, principalmente as mulheres negras, falarem! Elas não querem mais as pessoas dando voz a elas! Elas querem às pessoas dando ouvidos! Precisamos ouvir mais Donas Divas!
“Sou neta de escravos. Aparentemente a gente teve uma libertação… que não existe até hoje!”
“Esse país vive hoje porque meus antepassados deram condições para todos!”
Isso é importante frisarmos sempre! O país foi construído e viabilizado através de sangue negro!
“E ela (freira) contava essa história para contar pros brancos como a gente era preguiçoso, e não era verdade, e não é verdade, se não a gente não tinha sobrevivido. Eu sou uma sobrevivente pela educação, pela luta da minha mãe.”
Só a luta muda a vida!
“A gente, como negro, não é querer ser vítima, eu não sou! Eu sou grata à minha mãe.”
Não é vitimização, não é mimimi! Além de Diva, Lázaro também falou sobre o assunto. Segundo o Portal Uai E+, “ Lázaro afirmou que a acusação de vitimismo às pessoas que denunciam o racismo é reincidência da agressão. ‘Dói quando dizem que é mimi.’”
“Quando você falou de racismo (Joana), eu falei pra moça ao meu lado: ela não está falando de Portugal, ela tá falando de racismo nos dias de hoje.”
“Eu falava pros meus alunos (…) contava minha história pra eles. Não como miséria e sofredora, eu falava “vocês são capazes!”. “Você tem dois olhos, dois braços, você pensa! Você quer ser respeitado? Seja melhor do que ele, estude, que ele vai precisar de você e ele vai te respeitar.”
Ao terminar essa fala, Diva diz que na escola em que trabalhava era vista como subversiva, por falar isso para as crianças, principalmente porque lecionou durante a Ditadura Militar.
“A minha história é longa, mas com todos os preconceitos, todas as coisas, eu venci!”
Sim, Diva! Você venceu! Agora o mundo todo conhece sua trajetória e a respeita! Você com certeza ajudou muita gente com suas palavras! Receba meu humilde Muito Obrigada!