Parto primeiramente do pressuposto de que a criança é um ser inocente e ingênuo, e que a mesma não nasce racista e tão pouco hipócrita, e sim que a partir do momento em que é inserida na sociedade, é que acontecem as influências, os conflitos, sendo que vivemos em uma sociedade hipócrita e infectada de estereótipos.
Acredito que o principal apoio na vida da criança é a família, onde a identidade da criança terá uma resistência diante dos problemas da sociedade. A família deverá valorizar a identidade da criança, principalmente a identidade da criança negra, onde tem todo um histórico de sofrimento, onde a sociedade exclui e visa mostrar apenas o que quer.
Comigo não foi diferente, nunca fui uma pessoa de maltratar as pessoas, nem tão pouco fazer práticas de racismo, pois minha família sempre me ensinou a respeitar as pessoas, suas diferenças e que temos o mesmo valor, ninguém é melhor que ninguém. Porém me deixei ser influenciada na minha identidade, na minha beleza negra.
A adolescência é uma fase de mudanças, transformações, indagações, foi nessa fase que me deixei ser influenciada, como? Nos momentos de escola, de amizades onde eu via as minhas colegas de cabelos lisos, escovados e até que um dia comecei a alisar, escovar, e quando você se vê, já não se conhece mais. A partir daí a sua auto estima fica lá em baixo, então eu me olhava no espelho e me sentia desconfortável.
Outro apoio importantíssimo na valorização da identidade da criança negra é a escola, que é o segundo lar da criança, onde a mesma sente a necessidade de ser aceita e amada do jeito que é. Neste ponto da minha adolescência a escola veio á falhar, quando dei por mim eu percebi que a minha identidade tinha sofrido uma ruptura muito grande, e decidir valorizar a minha identidade negra e assim ficar bem comigo mesma.
Pra mim não foi um momento doloroso a transição, onde pra muitas é muito difícil, mas eu estava decidida aí então hoje estou super feliz, me olho no espelho e me conheço, minha auto estima esta ótima, meus cachos tem liberdade de expressão, deixo solto, amarrado, uso turbantes, que é algo que vai além de um acessório, tem toda uma luta, uma história.
Hoje digo que qualquer preconceito não me abala, qualquer piadinha de mal gosto não me afeta, eu já ouvi comentários horrorosos, que machucam, principalmente aquelas pessoas sensíveis, mas isso não me abalou em nada, muito pelo contrario me deu força e resistência, pra continuar lutando, pois a minha identidade e minha cultura é muito importante para ser tirada assim tão fácil. Algo que me deu um suporte nessa fase é o meu curso de Licenciatura em Pedagogia, que trabalha com toda essa questão, a valorização da identidade do sujeito, como entender as fases e as necessidades da criança, o poder da escola na construção da identidade da criança.
Enfim , quero agradecer ao blogueirasnegras.org por essa oportunidade maravilhosa de contribuir um pouquinho da minha vida e superação, onde acredito que servirá de incentivo para muitos jovens e adolescentes, e com certeza o meu trabalho final do meu curso será sobre essa questão, onde acredito que é de suma importância na vida do sujeito.
Imagem – Reprodução steampunkmama/pinterest