Para todas as minhas, as suas, as nossas que foram silenciadas, amedrontadas, violentadas, amordaçadas, inferiorizadas, apagadas, iluminadas. Física e simbolicamente, veementemente, frequentemente.
Por todas as guerras que não pudemos ganhar. Por todas as que ganhamos, mas que se recusaram a nos dar, a aceitar. Por todas as guerras que ainda vamos travar.
Invoco a força de todas as minhas, as suas e as nossas que tem o poder de trovoar, tempestar, marejar, o poder da terra, do sol, da água, do mar, do fogo, de nós, das nossas mãos, dos nossos olhos e dos nossos úteros.
O silêncio é a supressão de algum ruído e em todo silêncio mora uma voz. Quando você não ouve a sua voz, o que você ouve? A voz dos pássaros, da brisa nas folhas, das ondas, você ouve essas vozes?
Nos nossos silêncios estão as vozes de nossos algozes. As vozes daqueles que falam de nós, por nós, sem nós. Nos calamos e ouvimos gritos, armas disparando, linhas de tradições seculares se arrebentando, gostas de sangue jorrando, o pranto da terra se deteriorando. Nossos silêncios são carregados de sons de vários tipos.
Determino que a parte de mim, todas que vieram antes de mim cuja dor atravessa gerações comigo e para todas as que virão depois, que esse ciclo estará rompido. Determino a cura pela voz. A voz de vocês. Chega de silêncios.
Grandes-mães, ancestrais, matriarcas, deusas, mãe-terra. Se todo silêncio tem voz, reivindicamos para nós silêncios onde as únicas vozes que nos permitimos ouvir são as vozes de vocês. E apenas esses.