Por Bia Cardoso para as Blogueiras Negras
No dia 01 de abril, a professora Doutora Nilma Lino Gomes foi empossada no cargo de reitora pro tempore da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira – Unilab. É a primeira vez que uma mulher negra assume a reitoria de uma universidade federal no Brasil.
Sobre sua nomeação e sobre racismo, Nilma declarou:
— Tem algo que não é só meu (sobre a nomeação). É da luta coletiva de políticas raciais no Brasil. Tudo isso soma para a minha nomeação, que envolve a minha trajetória profissional, pessoal e o processo de luta por democracia e igualdade racial.
— O Brasil convive com um racismo estrutural na forma como as instituições se organizam. Há mudanças significativas, mas não podemos dizer que as coisas estão resolvidas. Há muito para se construir, o racismo vai se afirmando pela negação dele. Todos os negros vivenciam isso no cotidiano em situações corriqueiras como piadas e brincadeiras.
Segundo a ministra da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (SEPPIR), Luiza Bairros: “A posse de Nilma Lino representa uma conquista pelo que existe de especial em sua trajetória e é muito importante para nós, brasileiros, e principalmente para nós, negros”.
Aloizio Mercadante, ministro da Educação, destacou: “Em 1997, os negros eram apenas 2% da população universitária. As iniciativas do governo federal como a Lei de Cotas está ajudando a reverter esse quadro de desigualdades”, lembrando que 25% dos alunos do Programa Ciência sem Fronteira são negros.
Quando paramos para pensar que apenas em 2013 uma mulher negra chega ao cargo máximo de uma universidade federal, percebemos o abismo decorrente do racismo, da desigualdade social e do sexismo que afetam as relações sociais, educacionais e trabalhistas no Brasil.
Porém, importante também perceber que Nilma está numa universidade bem específica. Não consegui descobrir qual foi o primeiro reitor negro de uma universidade federal brasileira. Sei que o reitor da faculdade Zumbi dos Palmares (Unipalmares) é negro, José Vicente. É claro que é importante celebrar, mas é preciso não esquecer de olhar para esses detalhes, porque pode ser também um meio de colocar os negros em seu lugar, em faculdades que na verdade seriam guetos.
A Unilab
Fui pesquisar mais sobre a Unilab. A universidade iniciou as atividades acadêmicas em 2011 com cinco cursos, hoje possui dois mil alunos em sete cursos. Tem dois campus: o da Liberdade, localizado em Redenção (CE), local simbólico, pois há 130 a cidade foi a primeira localidade a libertar os escravos durante a campanha abolicionista brasileira — cinco anos antes da assinatura da Lei Áurea, que só ocorreu em 1889. E, o de Palmares, em Acarape (CE).
Em sua posse, Nilma anunciou que outros estão em implementação e, este ano, deve ser inaugurado um campus em São Francisco do Conde, na Bahia. Mais do que uma oportunidade para estudantes brasileiros, a instituição faz parte de um projeto de integração entre o Brasil e os demais países membros da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), especialmente as nações africanas, com o inutito de promover o desenvolvimento regional e o intercâmbio cultural, científico e educacional.
Nilma Lino Gomes
Pesquisando sobre Nilma na internet, encontrei dois bons artigos em formato .pdf:
– Corpo e cabelo como símbolos da identidade negra.
– Diversidade étnico-racil. Inclusão e equidade na educação brasileira: desafios, políticas e práticas.
E um discurso, no youtube, sobre processos para a transversalidade emancipatória da África.
[youtube=http://www.youtube.com/watch?v=zT-CFX-OSP4]Nilma Gomes possui graduação em Pedagogia pela Universidade Federal de Minas Gerais (1988), mestrado em Educação pela Universidade Federal de Minas Gerais (1994), doutorado em Ciências Sociais (Antropologia Social) pela Universidade de São Paulo (2002) e pós-doutorado em Sociologia pela Universidade de Coimbra – Portugal (2006). Atualmente é professora associada do Departamento de Administração Escolar da Universidade Federal de Minas Gerais, Bolsista de Produtividade/CNPq, coordenadora-geral do Programa Ações Afirmativas na UFMG e do NERA – Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre Relações Raciais e Ações Afirmativas. É conselheira do Conselho Nacional do Educação, onde integra a Câmara de Educação Básica. Tem experiência na área de Educação e Antropologia, com ênfase em Antropologia Urbana, atuando principalmente nos seguintes temas: organização escolar, formação de professores para a diversidade étnico-racial, movimentos sociais e educação, relações raciais, diversidade cultural e gênero.