No meu caminhar como professora de educação infantil, sempre questionei o papel daqueles livros de contos de fadas onde os personagens principais e de maior credibilidade eram sempre brancos, com cabelos lisos, na maioria das vezes claros e compridos.
Primeiro, eu comecei a trabalhar, em sala de aula, e só depois eu passei a estudar, ainda na faculdade, sobre a história da África que é a minha história. E então, a cada momento que via meus alunos e alunas não sendo representados (as) por aqueles contos, fui me sentindo profundamente incomodada e com uma grande responsabilidade em mudar aquele contexto.
Passei então a ensinar aos meus alunos a outra versão da história que normalmente não é contada, a nossa história, e substituí da sala de aula aqueles livros que não os representavam por livros onde eles pudessem se ver e se espelhar de forma positiva, livre e autêntica, sem estereótipos.
Já somam-se 6 anos que estou incluindo a literatura infantil negra em minhas aulas de contação de histórias e tenho tido bons resultados no que tange o respeito a diferenças e principalmente a auto estima da crianças negras.
A literatura infantil é um elemento indispensável e muito importante no desenvolvimento da autoestima, cognitivo e social das crianças por que através das histórias elas se veem, relacionam os conflitos fictícios com os vividos por elas, trabalham oralidade, atenção, aprendem a fazer uma leitura de mundo e desenvolvem o gosto pelos livros.
Mas se a criança não se vê, se a realidade retratada na história nunca é a dela ou a sua realidade é retratada de forma recorrente carregada de estereótipos e com uma carga subliminar negativa, é esperado que essa criança não desenvolva uma imagem positiva dela própria. Infelizmente é o que vemos na maioria dos livros infantis que estão distribuídos nas bibliotecas das escolas públicas e particulares.
Desse modo, engajada por uma representação positiva dos negros nos contos infantis indico ao blog uma lista de alguns livros que fazem parte de meu trabalho como educadora/ativista do movimento negro em sala de aula.
Intitulado Princesa Violeta, esse livro é como um sonho para toda menina negra que teve que aturar em toda sua infância, admirar princesas que não pareciam com elas.
Escrito por Veralinda Menezes, mãe da atriz Sheron Menezes, a obra traz uma história de fantasia e encanto. Podemos observar uma narração leve, uma linguagem que atinge todas as idades e o melhor, descreve as características dos personagens, negros, sem estereótipos, focando na beleza natural de cada um deles. Comparando a cor da pele dos personagens com chocolate e brigadeiro e os cabelos encaracolados com favos de mel, encantando e representando qualquer criança que se vê naquelas descrições. Outro ponto positivo da obra é a força da mulher. A princesa violeta luta para proteger seu reino e prova ao seu pai que, mesmo sendo mulher, ela pode ser forte, inteligente e garantir a continuidade de seu reino.
Editora: Príncipes Negros – compra do livro
Histórias da preta é um livro diferente, não é de contos de fadas, de princesas nem de príncipes como conhecemos, mas na realidade ele traz a histórias dos verdadeiros príncipes e princesas, aqueles responsáveis por estarmos aqui. A autora, Heloisa Pires conta histórias de Áfricas, com uma linguagem própria para a infância. É um livro para as crianças não só se divertirem com as histórias, mas também para aprenderem sobre o povo que veio das Áfricas, sobre escravidão e sobre como nos tornamos Brasileiros com raiz africana. “Uma recordação da infância, um conto sobre o Deus que dormiu debaixo da árvore, uma experiência de racismo: de história em história a Preta vai contando com quantas cores se faz uma pessoa negra.”
Editora: Companhia das letras – compra do livro
Outras obras que toda criança negra deveria conhecer, que faz parte da minha biblioteca e que eu considero como parte da literatura negra:
Menina Bonita do laço de fita – Autora: Ana Maria Machado – compra do livro
Feliz Aniversário Jamela – Autor: Niki Daly – compra do livro
A África meu pequeno Chaka… – Autora: Marie Sellier – compra do livro
Com as histórias contadas nesses livros, vi olhos brilharem, vejo gostos pela leitura nascerem, vi conflitos resolvidos, ganhei o amor e confiança de muitas crianças que tinham em mim uma referência, uma esperança, amor e carinho. Até hoje continuo adquirindo livros que fazem parte da literatura negra e continuo derrubando barreiras, porque a cada turma que encontro, novos desafios se apresentam para serem superados, mas só mudam os protagonistas, os modos de reagir e enfrentar, porque os dilemas continuam a serem os mesmos.