Veridiana Alves para o Blogueiras Negras
Segunda-feira, dia 13 de Maio, foi um dia em que os movimentos negros se mobilizaram para denunciar a existência gritante do racismo na sociedade brasileira pós 125 anos de abolição, neste dia não comemoramos a lei Áurea, mas sim a denunciamos, pois trouxe apenas a igualdade formal e não material .Esta …lei também ajudou a solidificar e consolidar a hierarquia de uma sociedade que se recusou a olhar os negros enquanto seres humanos , deixando-os a margem da sociedade, sem direitos básicos como :educação e moradia. Isto caracteriza a lei Áurea como uma falsa abolição, e hoje certamente também temos a nossa falsa abolição, ou melhor, inclusão, chamada PIMESP (Programa de Inclusão com Mérito no Ensino Superior paulista).
Não é de hoje que as universidades cumprem um papel importante neste processo de legitimação do racismo, afinal não foram das ruas que surgiram as teorias racistas ou melhor o racismo cientifico do século XIX. Então, para além de refletir sobre a sociedade , as universidades cumprem um papel de legitimar ou estabelecer certos paradigmas.
Não é por acaso que os Movimentos negros, tem como pauta de reivindicação,a transformação da educação, e como consequência uma atenção muito grande para políticas de ações afirmativas que são medidas pontuais e alternativas que visam eliminar as desigualdades étnico- raciais e sociais existentes na sociedade brasileira, tais como a Lei 10.639, que torna obrigatório o ensino de história da África e cultura afro-brasileira, em conjunto com a Lei 11.645 que acrescenta na primeira Lei citada,o ensino da história e cultura indígena.
Outro tipo de ação afirmativa, são as chamadas cotas etnico-raciais que são reservas de vagas para alunos negros e indígenas nas universidades publicas .Esta política tornou-se constitucional no ano de 2012, fazendo com que as universidades se organizassem a fim de atender esta política. Eis que neste cenário, surge como iniciativa das estaduais paulista a falsa inclusão, o PIMESP.
A Casa-grande,vulgo estaduais paulistas, resolveu ”incluir” ao seu velho e tradicional modo, pela porta dos fundos, com a criação de um College que obriga os estudantes cotitas a passarem por um curso de 2 anos a distancia, antes de adentrarem nas universidades,segregando os estudantes dos espaços de socialização das universidades. Outro ponto é que, os cotitas estarão realizando os mesmos papéis que sua ancestralidade realizou no período colonial: a de mão de obra. Enquanto os filhos dos senhores, tem direito a viajar pro exterior subsidiado com bolsas, por programas como o ”Ciência sem fronteiras”,os negros e indígenas, são ofendidos com este programa segregador e racista, que recaptura a mentalidade colonialista, de que negros e indígenas são inferiores e menos inteligentes, porem aptos para trabalhar. Dizer que negros e indígenas,necessitam de um reforço, é só confirmar a visão racista que a elite brasileira e principalmente a paulista tem.
Mas não são apenas os negros e indígenas afetados por esse projeto, os brancos pobres estudantes de escola publica, que cresceram na educação PSDBISTA, vão ter que pagar pela precariedade do ensino publico, ocasionado por este governo.
Enfim, 125 anos se passaram da ”abolição da escravidão”, e o que temos são novos grilhões, disfarçados de políticas inclusivas, que escondem o medo que a elite paulista tem de abrir as portas para quem a sustenta: o povo. E assim como a lei Áurea foi uma forma que as elites brasileiras acharam de excluir os negros da sociedade brasileira, o PIMESP exclui o povo daquilo que é dele por direito: a educação.
Eu, mulher negra e pobre, sou a favor de uma política de cotas proporcionais e que atenda de fato as demandas que os movimentos negros reivindicam: a de retirar o negro da posição de objeto, tornando-o sujeito do conhecimento e de sua história.
Veridiana Alves é mulher negra, bissexual, universitária e militante do grupo Identidade – Grupo de luta pela diversidade sexual de Campinas.