Por que o nosso corpo se tornou uma fortaleza blindada? Por que não podemos assumir nossa fraqueza? Por que temos de provar para nos mesmas e para os outros o quanto somos boas? O nosso dia a dia é uma luta sem fim. Nas ruas, somos obrigadas a aceitar investidas machistas e sexistas, quando reagimos somos escrachadas verbalmente, afinal uma mulher negra reagindo a um “elogio” é um absurdo para nossa sociedade. Não, não queremos nossos corpos expostos como um carne de segunda: globeleza não é elogio, “mulata exportação”, “você é negra, mas é bonita”, “beleza exótica” ou quaisquer outras expressões em relação as nossas formas, as nossas etnias, a nossa raça não são elogios. Guarde-os para você!
Não, não somos mercadoria barata!
Os nossos corpos e as nossos atitudes não têm de estar nos seus padrões: podemos saber sambar ou não; podemos ter bundas avantajadas ou não; podemos ter o nariz largo ou não; podemos ter lábios grossos ou não; podemos alisar os nossos cabelos ou não; e não deveria ter nenhuma surpresa nisso.
Não, não temos de ser forte o tempo todo!
Nós podemos nos sentir fracas, podemos nos sentir cansadas, sim. Cansadas de relacionamentos abusivos que, muitas vezes, deixamos que eles passem por cima de nossos próprios princípios e valores. Recebemos elogios por nossa capacidade de tolerar e suportar sozinhas situações negativas, mas seria mesmo um “elogio”? Culturamente temos de estar sempre prontas para encarar e aceitar sermos abusadas, caladas, agredidas.
Nós temos o direito de nos sentirmos cansadas quando nossas vozes são silenciadas: somos sempre loucas demais, vitimistas demais, neuróticas demais, radicais demais, problemáticas demais. Quando somos agredidas, maltratadas, traídas, esquecidas e ignoradas e, muitas vezes, colocadas na posição de culpadas por vários motivos. Temos de aceitar tudo isso como algo corriqueiro, afinal “mulher negra é forte”, “mulher negra nasceu para lutar!”. Somos mães solteiras, somos mulheres agredidas, somos vozes dominadas, somos deixadas às margens, somos mortas todos os dias; e ninguém tem nada a ver com isso.
Pensam que devemos sempre superar situações, que devemos sempre ter um sorriso largo estampado no rosto, que devemos sempre estarmos prontas para ganhar a batalha, mas, no final de tudo, como ficamos? Como ficam nossos sentimentos e nossas perspectivas? No final desse texto, deixo as minhas lágrimas, as lágrimas de todas nós, mas no peito a certeza de que somente juntas poderemos continuar lutando e, sobretudo, compartilhando o nosso direito de nem sempre sermos tão fortes quanto querem que sejamos.