Este título se deu a partir de uma conversa, em que me questionava a simetria do meu olhar. Sim! Parei para questionar a simetria do meu olhar rsrsrs.
Não sei vocês, mas por muito tempo me questionava o que o outro pensava sobre mim. Era como se precisasse de alguma aprovação, mesmo quando sabia que não precisava ter. Apenas a minha.
Ao escrever, percebo que a gente acaba permitindo o acesso de outras pessoas as nossas vidas e aos nossos corpos, mesmo sem elas saberem, por expressar uma simples opinião ou um comentário qualquer.
Não sei se tudo isso faz parte de um contexto social em que fomos criadas, em que a nossa opinião não possuía valor e os nossos corpos não nos pertenciam. Sim, nossos corpos não nos pertenciam.
Ver que, há algumas décadas, éramos postos como vitrines, avaliados como objetos a serem comprados, só confirma o quão grotesca foi a humanidade em relação ao corpo negro em nossa sociedade.
Sei! Não temos como fugir desse roteiro, está marcado em nossa história e, frequentemente, os noticiários nos fazem lembrar (só buscar as notícias da semana e ver o quanto é real o que eu estou falando).
Há alguns meses, vi uma notícia no G1 em que um jovem levou uma punição (suspensão) por mudar o estilo do cabelo, por estar usando trança, e mesmo com uma ação judicial o juiz permaneceu do lado da escola, que repreendeu o aluno negro por decidir o que fazer com o próprio cabelo. Aconteceu no estado do Texas (EUA), mas sabemos que os olhares e julgamentos como este também estão presentes em nossa realidade.
E me questiono: Estamos em 2025 e os nossos corpos ainda não nos pertencem?
A resposta para esta pergunta vem mudando, mas a passos lentos por ainda não ser a realidade de muitas e muitos. Porém, já começamos a ver, em algumas escolas, o quanto as discussões referentes sobre representação e antirracismo estão cada vez mais frequentes.
Meninas e meninos orgulhosamente mostrando sua coroa (seja ela crespa, cacheada, ondulada, entrançada…), realçando a sua beleza independe da opinião alheia, conhecendo sua história além do que os livros costumam retratar. É lindo!
Como em um trecho de uma música do Rincon Sapiência: “Que pretas e pretos estão se amando”, e isso é maravilhoso.
“Quente que nem a chapinha no crespo Não, crespos estão se armando Faço questão de botar no meu texto Que pretas e pretos estão se amando”
Música: Ponta de Lança (Verso Livre) / Rincon Sapiência
E pensar que, há alguns anos, passávamos alisante em nossos crespos para acharmos parte de um padrão que não nos permitia sermos quem somos. “Preferíamos” passar pela dor das consequências dos alisantes e da chapinha quente para sermos aceitas e aceitos pelo grupinho da sala (e não se impressione, nenhuma tinha cabelo crespo ou tranças).
Por muito tempo, não nos achávamos belos. Afinal, não éramos ensinadas e ensinados a nos amar.
Como Baco Exu do Blues nos coloca em sua música Autoestima: “Foram vinte e cinco anos pra eu me achar lindo”
“Sempre tive o mesmo rosto A moda que mudou de gosto E agora querem que eu entenda Seu afeto repentino Eu só tô tentando achar A autoestima que roubaram de mim Que roubaram de mim, que roubaram de mim”
Música: Autoestima / Baco Exu do Blues
E ver que, aos poucos, a nossa autoestima vem sendo recuperada, é sentir que não precisamos nos encaixar, pois já fazemos parte.
Mas é importante lembrar que nossa luta ainda não acabou, mas entendemos que nossos passos vêm de longe — afinal, nossos antepassados também vieram de reis e rainhas.
Me vejo agora e reflito sobre o meu passado. Que aquela menina que buscava, mesmo sem saber, estar dentro do padrão, hoje e a cada dia busca ser o seu próprio “padrão”, seja ele no pensar, no vestir e nas diversas vezes que mudo o meu cabelo.
É tão sublime encontrar rostos semelhantes ao seu, seja em livros ou revistas, nas publicidades, em novelas ou em filmes, entre outros meios. Ressaltando a nossa beleza e reforçando que não devemos seguir nenhuma receita social que não seja a sua.
Sim, meus amores, a representação importa, principalmente quando por muito tempo não tivemos uma.