Cansada de tanta dor, tristeza e melancolia, resolvi falar das alegrias de ser mulher negra.
É bem verdade que, no nosso caso (e aqui falo em nós porque acho que represento algumas poucas vozes) tudo precisa ser feito em triplo: ser mais educada, mais polida, mais inteligente – pra provar que podemos ocupar os espaços que conquistamos.
A alegria de ser quem somos, de conhecer nosso passado e por ele mesmo conseguirmos dar a volta por cima. Assumir nossa negritude nos traz a felicidade de se reconhecer no outro e de poder estar feliz com nosso corpo, nossos traços, nossa originalidade. Mas, deixando de lado essas “minúcias”, há alegrias também: a de poder ver na simplicidade, na natureza e ser o reflexo de sua própria alegria. Apreciar o pôr-do sol e poder contemplar cada nascer da estrela, ouvir as crianças brincarem e sorrirem, ao mesmo tempo em que os pássaros cantam.
No ônibus, mesmo lotado, ver um sorriso generoso e uma palavra atenciosa dos trabalhadores na volta para casa.
Tudo isso pode ser até considerado um privilégio, se pensarmos no nosso povo privado de algumas dessas pequenas alegrias. Sim, ver o sol nascer é um privilégio! Apesar das nossas dores diárias, da violência e dos medos que nos assombram (de ser estuprada, do assédio nos lugares públicos, da perda de nossos filhos), ainda há alegria em nos cuidarmos, cultivarmos amor entre os nossos, poder ter orgulho dos nossos cabelos, enfim, poder desfrutar a cada dia de um pouco do que a vida (apesar de sofrida) tem pra nos dar.
E por fim, dizer que a nossa alegria, mesmo que tão sofrida, está em poder enxergar nos nossos uma outra alegria, cada nova vitória. Que a alegria de ser mulher preta nos circunde sempre e, como dizem as Pretas Candangas “por nós, por amor”.
Imagem de destaque – L’Express