Não tenho nada contra pessoas brancas, tenho vários amigos que são. Eu tenho sim, contra racistas. Então se você é branco e acha que racismo não existe, que é coisa de preto vitimista, esse texto não é pra você. Pode parar de ler por aqui, porque não quero ocupar seu tempo com meu textão.
Se você é do tipo desconstruidão e que está em constante processo de aprendizagem, talvez possa te interessar o que vou escrever aqui, uma vez que está tentando ser uma pessoa melhor, ler uma mulher negra falando sobre racismo talvez possa te ajudar a atingir o nirvana dos bons sujeitos.
Esse texto é para aquelas pessoas brancas que dizem que entenderam como o racismo funciona, que conseguem perceber como ele está entranhado nas estruturas sociais brasileiras. Se deram conta de como é um processo de violência e exclusão que fomenta as desigualdades.
Cara pessoa branca bem intencionada, esse texto é pra você.
Pra você que leu teóricos negros, segue as pretas nas redes sociais, lê tudo que é publicado aqui no Blogueiras Negras, participa dos eventos dos coletivos negros universitários e consegue debater depois com a gente, mostrando que reconhece seu lugar de privilégio.
Esse texto é pra dizer que reconhecer seus privilégios é uma obrigação, mostrar interesse por aquilo que nós estamos dizendo e ler o que escrevemos é o mínimo que esperamos, visto que fizemos por longos anos o caminho inverso. Sim, nós estudamos a sua história, os seus elementos simbólicos identitários, introjetamos seus padrões e tipos ideais, mas com o tempo, percebemos o quanto isso nos violentava.
Então não adianta você mostrar interesse e destilar por todos os cantos que respeita a nossa luta se não fizer nada que possa mudar essa realidade. Não adianta fazer textão na internet mostrando sua insatisfação com os espaços brancos onde você atua, se não contribui em nada na mudança dessa estrutura. Reconhecer seus privilégios é só o primeiro passo, não espere biscoito por isso.
Se você leu e entendeu sobre o que é lugar de fala, deveria também colocar em prática. Afinal, teoria sem prática são só caracteres numa folha em branco. Pense nas suas ações para promover a ascensão das pessoas negras que te rodeiam. Analise que tipo de capital cultural você possui que pode utilizar de forma a dar voz a quem sempre foi silenciado.
Falar sobre como você percebeu o racismo e porque é favor da nossa luta não te faz um igual. Um apoiador? Talvez. Mas esse apoio tem que ultrapassar os limites do discurso, até mesmo porque não precisamos de interlocutores, precisamos de reconhecimento e espaço. Sim, porque ficar falando sobre você é só mais uma forma de manter um dos muitos privilégios que a branquitude tem.
O sofrimento branco é cheio de redenção, já perceberam? Assim como toda a maldade e atrocidades cometidas que, com uma simples confissão e umas doses de arrependimento, são superadas com facilidade.
Então, cara pessoa branca bem intencionada, é preciso que você entenda que na luta antirracista o foco não é você. Abra espaços, dê voz a quem nunca é ouvido a menos que entre metendo os dois pés. Precisamos de aliados, vocês são muito bem vindos, mas não basta nos ler, ouvir e reconhecer seus privilégios. Tem que arregaçar as mangas e saber usar de todo seu capital para abalar as estruturas segregacionistas que vocês já aprenderam a criticar.
Lutar não é um privilégio que nós negras e negros podemos agregar em nossas práticas ou curriculum lattes. Lutar, pra nós é uma questão de sobrevivência e não, não estou falando no sentido simbólico. Morremos de muitas formas, inclusive quando perdemos o protagonismo sobre nossas pautas.
Então, assim, não é nada pessoal, mas tente dar um passo adiante e pensar melhor sobre as atuações de vocês em busca de solucionar um problema que é exclusivamente da branquitude: o racismo.
Porque, cara gente branca bem intencionada, de boas intenções o inferno está cheio e sabemos que até mesmo o inferno é uma invenção da branquitude, certo?
OBS: o texto contém altas doses de sarcasmo.