Sinto falta de tudo que era meu.
Tudo.
Da rua sem asfalto iluminada
pelo sol seco.
Do apito do carrinho do senhorzinho
que conserta panelas.
De assistir a casca da laranja se transformar
num espiral perfumado e infinito.
Saborear cada gomo sem pressa pra vida.
De sentir o cheiro do feijão refogado
na casa da vizinha.
Ouvindo a mulher que canta sua saudade
com voz trêmula e melancolia.
Na vitrola, a música que revela seus segredos.
Sinto falta de tudo que ficou pelo meio.
Das vozes que não pedem licença.
Dos olhares que pedem licença.
Das tardes de sábado.
Do mingau de aveia.
Gemada.
Do cheiro do café coado e
do pão fresquinho.
Das vidas inseparáveis.