Está lançado o Comitê de Tecnologia da Marcha Global de Mulheres Negras 2025
O sonho como horizonte, quando abraçado pelas mulheres negras, se torna realidade. O lançamento do Comitê de Tecnologia da Marcha, no último dia 04 de setembro, é prova de que, quando sonhamos juntas, os limites são meras linhas de chegada.

Esse sonho começou a ser sonhado em maio, quando mulheres e homens negros, cis e trans, se juntaram no evento “Conexões para o Bem Viver, Reparação, Justiça Racial e Tecnologias Digitais”, no CEAO (Centro de Estudos Afro-Orientais) da UFBA, no 2 de Julho, em Salvador. Este evento, paralelo ao Fórum da Internet no Brasil, reuniu as pessoas que não tiveram suas propostas aprovadas no FIB e, na ocasião, foram debatidos temas como apropriação tecnológica, plataformas de redes sociais e racialidade, justiça ambiental e justiça algorítmica.
Foi a partir dessas conversas, confabulações e celebrações que Ação Educativa, Odara, Olabi, PretaLab, Blogueiras Negras, CEDENPA, AzMina, Instituto Sumaúma, AfrOyá, Rede Negra Sobre Tecnologia, FONATRANS, Sindicato do Serviço Público da Argentina, ABONG, Afroleaders, Observatório de Favelas e o Comitê Nacional da Marcha de Mulheres Negras 2025 se articularam e concretizaram o tão sonhado Comitê de Tecnologia.
No ano da Marcha Global de Mulheres Negras, o que temos acompanhado é a mais intensa dominação das tecnologias digitais, permeando as relações de trabalho, a vida privada, o lazer e tudo mais que é inimaginável. Os dados, como um dos bens mais valiosos nesse cenário, são disputados, manipulados, engolidos e regurgitados em forma de bens de consumo, propaganda e ainda mais conteúdo. As soluções através de Inteligência Artificial Generativa parecem subestimar a inteligência humana e ancestral.
As discussões em torno do que nós, enquanto mulheres negras, estamos disputando sobre o que é tecnologia, nossa memória e história de criação e invenção, além da apropriação e do hackeamento, foram os insumos para o debate no evento de lançamento do Comitê de Tecnologia da Marcha de Mulheres Negras de 2025. A criação deste espaço significa que a pauta tem cada vez mais tomado centralidade na ordem do dia dos movimentos de mulheres negras, do ponto de vista da incidência, da troca e do compartilhamento das experiências e também da preocupação com meninas, jovens e mulheres negras idosas no uso e acesso às tecnologias digitais.
A declaração, lida e em breve compartilhada, chama atenção para variados pontos nevrálgicos em relação às tecnologias e sua relação com a natureza, com as nossas comunidades, de mulheres negras LBTs, quilombolas e indígenas, e com o impacto nas relações de trabalho, de aprendizado e prazer. Os temas ali descritos conformam os anseios, mas também denunciam o racismo algorítmico, as violências políticas de raça e gênero e a exploração das mulheres negras no ambiente digital.
Com afeto, alegria, ousadia e muita emoção, a noite do dia 4 de setembro de 2025 ficará marcada na história, escrita por muitas mãos, com as palavras ditas por cada mulher negra, que encontraram abrigo em cada coração: reencantamento, paixão, felicidade, coletividade e confiança.
O Comitê de Tecnologia será um espaço estratégico de apoio, discussão e prática no pré, durante e pós-marcha, fortalecendo a organização coletiva, a corresponsabilidade e a circulação de informações e debates sobre tecnologias. As perguntas que nos rodeiam são muitas: Qual a perspectiva das mulheres negras para a tecnologia? Quem são e onde estão as resistências tecnológicas? Como a tecnologia pode ser usada para Reparação e para o Bem Viver?