Há no Brasil uma teoria de que somos todos iguais,
Mas na prática é bem diferente
E já vou lhe mostrar os sinais
Democracia racial no Brasil
É só um mito a mais.
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Para entender melhor minha fala
Voltemos um pouco ao passado,
Quando os negros foram jogados
E piores que animais foram tratados
Tendo tudo, inclusive, a vida
Como direito negado.
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Trabalhando de sol a sol
Num sofrimento inenarrável
Sob o olhar do feitor
Uma vigilância implacável
E ainda tinha o capitão -do –mato
Outro monstro intragável
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Mas eles não aceitavam
Essa vida de crueldade
Várias revoltas aconteciam
Em busca de um pouco de felicidade
E os quilombos eram formados
Bem distantes das cidades
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O que mais se destacou
Dos outros de vários lugares
Foi formado em Alagoas
Onde muitos negros montavam novos lares
Foi liderado por Zumbi,
O famoso Quilombo dos Palmares
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Até que em mil oitocentos e oitenta e oito
Uma pseudo-redentora
Depois de muitas leis assinadas
Assinou a “lei Libertadora”
Dá até vontade de rir
Com uma história tão enganadora.
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Hoje, em pleno século XXI
Muita coisa, sim, mudou
Mas a luta continua
Para termos nosso valor
Numa sociedade racista
Que ainda nos julgam por causa da cor.
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A juventude negra está morrendo
E ninguém parece importar
Sem falar da solidão da mulher negra
Sem afeto, carinho, alguém para amar
Vendo sempre, mulheres brancas
O seu lugar a ocupar.
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A nossa autoestima é abalada
De nossa aparência tem sempre alguém pra rir,
Nossos cabelos, nossos narizes, nossos lábios…
Precisamos diariamente reagir,
E a mídia eurocêntrica sempre contribuindo
Para nos destruir
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Tudo do negro é demonizado
Inclusive sua religião
Vemos sempre casos absurdos
De pessoas sem noção
com racismo religioso
Destilando ódio, nos causando indignação.
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Playboy branco, filho de rico rouba,
Mata e nada acontece,
Mas se é preto e pobre
Na cadeia apodrece
É a justiça brasileira
Dando aos brancos sua benesse
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A polícia brasileira
Só pode ter problema de visão
Cada vez que vê algo na mão do negro
Sempre diz que foi confusão
Engraçado que com o branco
Ninguém ouve falar a mesma situação.
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Em sessenta e três anos de Miss Brasil
“ Apenas “ três negras coroadas
Deise Nunes, Rhaissa Santana
Monalysa Alcantara, nordestina arretada
Linda, negra, cacheada
Deixando às vinte e seis desbancadas.
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Bastou à coroa receber
E os racistas manifestaram
Ódio e racismo na internet
O mais rápido vociferaram
Chamando a bela de “cara de empregada”
Contra o concurso de rebelaram.
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Até entendemos o ódio
Dos racistas de plantão,
Pois acostumaram por anos
Verem negros em servidão
E, hoje, negros frequentando os mesmos espaços
Para os racistas, é muita indignação.
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A luta não acabou,
Mas estamos no combate
Lutando dia após dia
Para termos mais destaque
Cerrando nossos punhos
E partindo para o ataque.
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Caros leitores,
Agora finalizo minha produção
Sei que não falei tudo,
Mas espero compreensão
Afinal, são muitas coisas
Para citar num cordel- narração.
Imagem – Histórias de cenários nordestinos