Em um corte equilibrado de humor e terror, Jordan Peele, levanta críticas pertinentes aos algozes de pele branca em seu recente filme lançado no Brasil Get Out (Corra! Em português).
A supremacia branca representada pelos Armitage, é o melhor retrato dos brancos ditos liberais, no caso dos Estados Unidos, e trazendo para o Brasil, os nossos queridos esquerdistas.
É a típica família branca que todo negro reconhece e sempre teve por perto, até porque eles mesmos não nos deixam em paz, com suas análises tão políticas, históricas e corretas sobre nós mesmos.
Percebi isso inclusive nas várias críticas que li e ouvi sobre o filme, na maioria pessoas brancas fazendo as críticas, e normalmente se colocando no lugar do personagem (que também é importante), mas não vi nenhum deles se colocando no lugar daqueles que praticam racismo.
Entre eleitores de Obama e da Dilma, permeiam o racismo velado, transitando em suas autoridades morais, existente em suas narrativas, mas sem fazerem autocríticas, afinal eles não se consideram racistas, apesar de saber da existência do mesmo.
De forma muito inteligente e criativa, o autor utiliza o recurso cirúrgico da lobotomia e a hipnose permeada por elementos gnósticos, para expressar, o controle massivo da população negra, através do sistema estruturante do racismo, o jardineiro Walter e a governanta Georgina, interpretados por Marcus Henderson e Betty Gabriel são os personagens que demonstram de forma magnífica, a sensação de ser negro numa sociedade racista, o negro se torna coadjuvante da própria história, enquanto o branco age como personagem principal, se tornando um hospedeiro em nossas vidas.
A gente não pode expressar o que sente verdadeiramente, fica com aquilo tudo que eles fazem entalado, quando a gente tenta dizer, somos taxados de loucxs, somos engessados como o personagem de Andrew Logan King feito por Keith Stanfield.
Através de diálogos que transitam entre “está na moda ser negro, desde que não seja negro”, transgredindo todas as entrelinhas que essa frase possa conter, o filme faz com que o Ogro (a mulher branca) personagem tão citado nas obras de Eldridge Cleaver (1968), mostre sua verdadeira face, que normalmente é escondida atrás de um personagem doce, frágil de cabelos sedosos e lisos, interpretada por Allison Williams, a figura perfeita para que o homem negro continue perpetuando a falácia de que amor não ter cor, mesmo quando irmãos como Rod Willians, os alertam, para que sua vida não se torne um “terror da democracia racial, enaltecida pelas relações inter-raciais”.
É o que Fanon (1963) chamava de alienação colonial gerado através da colonização escravista, que serve como manutenção do racismo até os dias atuais, são as fagulhas da Síndrome de Cirilo instaurada numa mente quase lobotomica, em Peles Negras, Mascaras Brancas o autor ainda diz:
“(…) não quero ser reconhecido como negro, e sim como branco (…) quem pode proporcioná-lo, senão a branca? Amando-me ela me prova que sou digno de um amor branco. Sou amado como um branco. Sou um branco” (…).
Chris, o personagem de Daniel Kaluuya, reflete de forma significativa, essa ânsia de ser branco, que circunda as mentes negras desde de muito cedo, mas também demonstra o nosso “torna-se” negro. Pois, mesmo perdido dentro de si, busca saídas para não ouvir “a colher girar na xícara”, conseguiu compreender o que deixava sua mente condicionada, “branca”, mas como conseguir tal proeza, se por dentro me liberto, mas por fora a imortalidade da colonização continua a passos largos?
Por fim, a mesma energia que usamos para sermos aceitos por essa supremacia, é a mesma que utilizamos para libertar-nos, o forro de algodão retirado do braço da poltrona, a sirene colorida do carro de polícia, o flash da máquina fotográfica, é a conjunção de elementos que simbolizam nosso insurgência ou nossa eterna alienação, que permeia entre questões subjetivas e coletivas, e sobretudo políticas, sobre a sobrevivência do negro nesta história de terror chamada: Racismo!