Por Charô Nunes, Larissa Santiago, Maria Rita Casagrande, Verônica Rocha e Zaíra Pires
O dia 20 de novembro simboliza uma luta que começou desde que x primeirx negrx escravizadx foi traficadx para o Brasil. A data foi escolhida em memória de Zumbi dos Palmares, principal líder quilombola de nossa história colonial. Sua herança ainda vive nas inúmeras comunidades tradicionais espalhadas pelo país e que hoje lutam pelo reconhecimento de suas terras.
Essa data é importante para nos lembrar que o Brasil é um país institucionalmente racista, que ainda divide cidadãos acordo com a cor de sua pele. A ilusão de que vivemos uma democracia racial baseada na meritocracia e na igualdade não sobrevive à análise de estatísticas que levam em conta a cor da pele. As consequências do regime de fato e de direito que durou 350 anos e foi baseado na discriminação racial ainda são sentidos até hoje, 125 anos após a abolição, pela população não branca, que constitui a maioria de brasileiros.
• VIOLÊNCIA – Segundo o Ipea, 70% das vítimas de assassinatos no Brasil são negras. Enquanto a taxa de homicídios de negros é de 36,5 por 100 mil habitantes, no caso de brancos, a relação é de 15,5 por 100 mil habitantes.
• TRABALHO – Entre as empregadas domésticas, 60,9% são mulheres negras. As crianças negras são a maioria entre as vítimas do trabalho infantil doméstico. A hora trabalhada do negro/pardo vale 63,8% da hora trabalhada do branco. A renda média da mulher negra equivale a 30,5% em relação à de um homem branco.
• EDUCAÇÃO – Entre os estudantes do ensino superior, apenas 8,9% são negros.
O racismo também tem consequências que não foram completamente mensuradas. Se o negro escravizado sofria de saudade de sua terra, chegando até mesmo a morrer, podemos apenas estimar os efeitos do estresse constante a que está submetida a pessoa negra numa sociedade estruturalmente racista como a brasileira. É sabido que nas crianças foram relatadas dificuldades de aprendizado e timidez causadas pela exposição a brincadeiras e xingamentos racistas.
No caso das mulheres negras, podemos inclusive falar em atendimento desigual nos postos de saúde, visto que não recebem atenção satisfatória por parte dos profissionais. Esse é o grupo mais afetado pelas mortes por causas externas. Aproximadamente 61% das mulheres assassinadas por seus parceiros são negras. Mesmo não sendo a maioria das mulheres que recorrem ao aborto, são elas as que mais morrem em função de sua prática em ambientes inseguros e insalubres.
O dia 20 é um dia para não deixar cair no esquecimento as atrocidades comedidas contra os negros africanos trazidos à força para tratamento subumano, trabalhos forçados, moradias precárias, humilhações, torturas físicas e psicológicas, estupros, mutilações, assassinatos. Atrocidades que se estenderam por séculos, e que foram se transformando e refinando sua crueldade ao longo dos anos, sendo hoje um sofisticado sistema de opressão, que culmina com a exclusão de todo um contingente de pessoas do acesso aos seus direitos mais básicos, como dignidade, educação, saúde, autoestima.
E todos os dias são de resistência da mulher negra, do homem negro, da juventude negra. De erguer a cabeça e não se calar. De ter consciência do lugar do negro na sociedade e de se juntar à luta pela eliminação de todas as formas de racismo e opressão.