Aviso de gatilho.: se você está sensível, triste ou ansiosa, recomendamos que leia este texto um pouco depois.
.
.
.
.
.
.
A minha janela está aberta, sinto que estou sendo observada, não sei se sinto medo, não sei se choro.
Quero tanto chorar, mas não consigo, para purificar a minha alma, cicatrizar as feridas.
Não aguento mais senti dor…
Não aguento mais senti abandonada, sozinha…
É tantos temores, bagunça, confronto dentro de mim
Eu sou uma bagunça
ELA me compreende, preenche meu vazio, com a leveza do ar
da poeira que se levanta com seus passos de búfala
Fechei a janela, escutei os murmúrios internos ou externos? Senti medo, senti vontade de chorar, de morrer e ELA? Ouviu o meu ressoar.
Acho que deixei as pessoas me fazerem acreditar que eu sou negativa. Mas, sinceramente eu não sou, nunca fui. Sempre me autonominei como realista.
Quando mais nova sempre fui assim, de repente era mais fácil lidar com a vida dessa forma. Tive uma infância boa, isso nunca neguei. No entanto, ser negra de pele escura numa sociedade obscura que te ama e te reconhece pela cor sempre foi algo que me assombrou. O fato de não ter uma família que me dissesse _ “Você é linda, seu cabelo é lindo!” da maneira deles procuram formas de legitimar a minha aparência, escovando o meu cabelo, mas sempre dizendo palavras assim “ Tá doendo pentear o seu cabelo? Se quer ficar bonita tem que sofrer” “ Preto, tem que ser duas vezes melhor”. Então a minha existência foi pautada em ser melhor, mas em que? Toda a minha vida procurava formas de me diferenciar, formas que acabavam me afastando do meu núcleo familiar.
Formas de enfrentamento que não apenas corrigia a minha postura, linguagem, escrita me corrigia como ser humano ou simplesmente me estragava, me despedaçava e me reconstituía, pois escrever, ler é lindo abre um caminho de possibilidades e acessos. Eu não vou mudar, as pessoas não mudam, elas melhoram. O confronto consigo mesmo é uma missão diária desde acordar e dormir novamente, às vezes a cabeça te prega umas peças colocam pensamentos cruéis e os transformam em pesadelo e você acorda se sentindo estragada, alguém que necessita de um milagre de divino.
Andando pela o centro de Belo Horizonte, estava correndo, me sentindo mal, sentindo ansiedade comprei numa banquinha um cigarro, acendi como se minha vida dependesse disso precisava acalmar, para ao menos consegui atravessar a rua e uma senhora baixa me parou e falou baixo assim “Jesus, vai operar milagres na sua vida” e eu não entendi prontamente, pensei que ela perguntava sobre qual estação do move que passava o ônibus tal… Enfim ela repetiu e disse libertação olhando para a mão que eu segurava o cigarro e eu sorrir, agradeci e não disse que era do candomblé e tinha visões diferentes e o cigarro eram os menores dos meus problemas. Mas, ela nem me conhecia, mas se importou.
Vejo pessoas todos os dias e nem todas pessoas se importam com a minha vida, se importam em cochichar para dizer a melhor maneira que eu devia sobrevive-la. Tenho 27 anos e uma alma pequena e ao mesmo tempo tão grande quanto os meus sonhos, mas me sinto travada em realizá-los, de escrevê-lo ainda mais no sentido acadêmico é como se eu olhasse para o céu e a pressão do mundo caísse em mim, escrevo tremendo [agora], estou ansiosa.
Eu sou ansiosa, quando fico ansiosa demais eu bebo, encharco a cara, digo as verdades menos sinceras, guardo em mim a mágoa de uma mulher negra que procura as (sobre) viver todos os dias, não senti culpa 24 horas por dia por “se dá um tempo” se dá uma folga, de fumar um cigarro… Queria ser a máquina da sociedade, mas ainda sou um ser humano, não sou uma fortaleza, me sinto fraca, triste e várias vezes fracassada.
Me sinto machucada por dentro e por fora, inadequada, aleatória, um peso morto. Tenho procurado andar no meu ritmo, celebrar pequenas alegrias e não me importar com o que as pessoas dizem “ Você não é boa filha” “ Você não é boa pessoa” “ Você é alcoólatra” “ Uma péssima irmã de santo”. Pensar em tudo o que eu passei e estou passando para chegar até aqui, me faz me entender como alguém que luta todos os dias, até nos dias que quero apenas cobrir a minha cabeça e ficar imóvel na cama. Existe tanta culpa, mas também existe amor, existe perdão e a vontade de ser perdoada por escolhas ruins. Dizem que podem ter sido castigo de Iansã, desacredito nessa hipótese por mais que havia um pedido dela para mim e eu fiz a escolha de não segui ELA reconhece que a vida é minha.
Teve dias que chorei dentro do quarto, do banheiro, com meu olhar e atitudes pedi socorro. Não quero ser ingrata com nenhum amigx, imagine que quando um ente seu morre e um amigx próximo te procura, ajuda no reconhecimento do corpo, daí te cuida, faz um belo café e aí vem à missa de sete dias toda aquela atenção não existe mais, pois cada um volta para sua vida. Eu não estou questionando, mas o pior sempre fica para depois a solidão, a tristeza, o abandono…
Na universidade há muitos casos de suicídio e vejo as mulheres pretas ao meu redor sofrendo caladas, tomando remédios ou nem tomando por sofrer algum tipo de repressão de outras mulheres pretas. Mas, mesmo com todo esse furacão Oyá nunca me abandonou até mesmo quando pareceu que eu a abandonei.
É uma escrita minha, que colocaria no meu diário pessoal e pensei que talvez podia compartilhar com uma irmã preta que não me conhece ou nunca me viu. Tem uma música da minha cantora preferida Tássia Reis “ Não se avexe não” em momento assim gosto de ouvi-la alimenta a minha alma de alegria e um pouco de esperança, me permitir se ajudada, amada. Oyá, sempre coloca pequenas mãezinhas ao meu redor, que cuida de mim, que me olha com braveza e fala na lata. Sou muito grata as pessoas que aparecem na minha vida não apenas com um manual de “ como viver a vida”, mas dizendo que está pronto para ir a guerra comigo, comissão de frente, dizendo sem dizer o quanto é importante se sentir bonita, se valorizar, se colocar para cima é onde que eu vejo que é minha santa, dona da minha cabeça, dona da minha vida me dizendo “ Minha filha você não está sozinha, eu estou aqui”.
Obrigada Professora Cida Moura e muitas outras mãezinhas.