“Aqui o troco. Vaza, sua feia!”. Foi assim que o cobrador do ônibus que eu estava devolveu o troco de uma mulher, negra, alta, aparentemente com seus 20 anos. Engano dele se achou que ela aceitaria calada tamanha ofensa.
Pois levantou-se e afirmou para que quem estava fora e dentro do ônibus pudesse escutar: “Você está achando que por eu ser mulher vou ficar calada? Me respeite e me dê o dinheiro”. Burburinho. “Se fosse um homem ele não falava assim”, “Tá muito ousado esse cobrador, viu?”, “Só porque a menina cobrou o troco que é dela por direito? ”, “Oxe, ele tá se passando…”, foram algumas das reclamações em um típico baianês que circulavam no ônibus.
Entre indignações e palavras de apoio à mulher, parei para pensar em como a violência nos atinge de vários lados. Quando, mesmo na ocasião em que a menina foi cobrar aquilo que lhe pertence, foi verbalmente agredida, afinal, determinadas palavras e/ou expressões ferem diretamente nossa autoestima e mexem, inclusive, com nosso psicológico.
Ela foi ofendida por ser mulher. Desrespeitada por ser mulher.
Passei a refletir sobre a necessidade que os homens têm de xingar e rebaixar uma mulher quando algo que lhe desagrada acontece. Quantas vezes vimos casos de mulheres agredidas por recusarem um envolvimento? A exemplo, entre tantos outros, do caso da nutricionista agredida fisicamente após negar um beijo a um folião durante o carnaval de Salvador (http://bit.ly/23fegrS).
Quantos relatos de amigas/parentes escutamos diariamente afirmando terem sido xingadas e humilhadas por não aceitarem cantadas misóginas? Quantas vezes ao andar nas ruas NÓS escutamos comentários machistas? Agir diante de atitudes como essas é revolução! Mostrar que nós, mulheres, não iremos nos calar com ofensas gratuitas é escancarar para a sociedade que não abaixaremos a cabeça, vamos em frente mostrando o nosso direito de sermos respeitadas!
É preciso, sim, que gritemos! O machismo mata diariamente.
Essas vozes que ecoam e reagem além de influenciar outras mulheres mostram a importância do debate sobre o tema que envolve, além da violência, o medo que a discriminação de gênero causa em muitas de nós.
Não sei o nome da mulher do ônibus, nem lembro de tê-la visto na vida, mas sorri para ela e disse que faria o mesmo. Ela sorriu de volta. Seguimos caminhos distintos, mas carregando a luta diária contra a opressão em comum.
12 comments
Obrigado pelo registro. Muito bom o texto. Não estar de acordo com o machismo, sexismo, racismo não é o mesmo que ser anrirracista. Não adianta a indignação silenciada. Há de se falar, de comentar, de gritar… A atitude faz a diferença e constrói solidariedades.
Sim! Seguiremos gritando e dizendo ‘não’ aos machistas que estiverem em nosso caminho!
Wynne, é tão bom ler textos que contenham as vivências do dia a dia. Poderia ser outra realidade, mas é preciso falar o que acontece para que ocorra mudanças. Você diz com propriedade, porque você tem um olhar atento e consciente desse espaço hostil onde nos mulheres temos que lutar todos os dias. Beijos, Van.
Ainda precisamos combater diariamente a nossa sociedade patriarcal, machista e racista, Van. Por isso seguimos na luta!
Muito bom texto. Acredito sim que através das palavras,atos e atitudes pacíficos mas com atitude ,poderemos mostrar as outras pessoas que os racistas, preconceituosos e intolerantes raciais não vão se sobressair aí poder das palavras que pregam a igualdade das pessoaas independente de cor,credo ou religião. Parabéns e continue.
Seguimos!
Que orgulho de Wynne Carvalho. Essa sim eu digo q me representa.
Te amo muito minha dinda ♥
Belo texto Wynne, infelizmente esse tipo de coisa acontece diariamente, fico feliz por ver pessoas como a mulher que você relatou aí na situação não aceitando esse tipo de coisa, parabéns pelo trabalho e pelas observações, esse tipo de atitude torna a militância cada vez mais forte, sucesso.
Obrigada Adenilson. Precismos nos fortalecer cada vez mais. Vamos em frente..
Situações como essas que demonstram o quanto é necessário o fortalecimento da autoestima e da consciência de si.
Eu faria o mesmo e talvez pior.
Exemplo de mau profissional e de homem mal educado.
Isso mesmo Taisa. Estamos juntas e não vamos mais nos calar diante de atitudes tão grosseiras e machistas. Seguimos…