Três histórias rondam os dias dela
como bailarinas desvairadas
descalças
sem maquiagem nos olhos
sem batom vermelho nos lábios
a mais nova está apenas se desenhando
mas a faz tão feliz!
uma alegria tão intensa
daquelas que a gente conta estrelas
e sorrisos ao mesmo tempo
faz a vida borbulhar nas veias
cantar cantar cantar
a outra, nunca termina, não tem ponto final
é a história mais apaixonada da vida dela
lhe tira o ar, dorme e acorda com ela
todos os dias, a história ensaia se apagar
quando falta bem pouco para desaparecer
a bendita explode das cinzas e retorna
como diamante bruto
e a história recomeça
a terceira é na verdade a primeira
foi ela quem transformou a menina em mulher
descobriu que paixão e amor andam sempre juntos
que a saudade é veneno: corrói, arranca lágrimas
é um conto de fadas em que o príncipe morre no final
e o fantasma cego perambula eternamente
pelo castelo da princesa uivando como louco
ela vive assim prisioneira das três histórias
passa o dia recontando passos, vozes, gestos,
beijos, as partidas, os reencontros, os novos encontros
a mulher? é aquela lá sentada sozinha no banco em
frente ao altar da igreja vazia
ela reza em voz baixa por horas a fio
desfila suas histórias nas contas do terço azul perolado
que ganhou do amado no dia perdido que foi pedida em
casamento.