Na universidade, recentemente uma mulher negra se utilizou das ferramentas da casa-grande para me avaliar, enquanto para pessoas brancas ela pedia mais posicionamento sobre as questões raciais, para mim, ela exigia, grosseiramente, que eu me posicionasse menos. Caso eu fechasse os olhos, eu poderia até achar que era uma mulher branca falando comigo, no entanto, era uma mulher negra cuja carreira é pautada nas questões da população negra. É estranho, não acham? Enfim, com isso, quero dizer que quando adentramos os espaços de produções de saberes, nós, mulheres negras, principalmente de pele escura, somos alvejadas a sangue-frio até pelos nossos. E, pasmem, a desculpa é sempre que estão nos protegendo do pacto da branquitude.
Reflitamos: se você usa as mesmas ferramentas da branquitude para me proteger, quem está sustentando esse pacto é você, por mais que não ganhe nada com ele. Nas relações de poder no espaço acadêmico, algumas de nós que conseguiram certo prestígio, esquecem-se da própria trajetória ou normalizam as agressões que sofreram, repetindo-as incessantemente. Se tornando uma peça fundamental na sustentação do privilégio epistemológico do branco nas universidades brasileiras.
Além disso, padrões intelectuais de comportamentos são exigidos com brutalidade e o mito de que devemos jogar o “jogo” do branco para sobrevivermos ao espaço acadêmico é feito de forma tão ridícula que, na verdade, o que observamos é o surgimento de intelectuais negros que servem a Casa-grande enquanto pisam naqueles que ainda experienciam a “plantação” das ideias coloniais.
Psiquicamente, tais reiterações das práticas racistas acadêmicas só fazem com que pessoas negras com ideias questionadoras sobre esse espaço nunca alcance um lugar de voz, pois foram exterminadas antes mesmo de poderem amadurecer as próprias ideias. Inclusive, a coletividade é mobilizada pelos intelectuais negros(as) da Casa-Grande para justificarem as suas práticas, então, sempre há a desculpa “Ah! Mas eu sou negro também, ela está se equivocando”.
Falhamos, miseravelmente, no espaço acadêmico quando nos tornamos porta-vozes do racismo acadêmico. Sem perceber, professores(as) negros(as) universitários adquirem uma certa “esquizofrenia simbólica”, isso quando não são afásicos. Aliás, falamos tanto da branquitude e do que ela tem feito conosco que esquecemos de fazer uma reflexão sobre algumas das práticas dos nossos que sustentam a branquitude nos espaços de poder. Chibata é chibata, não importa a cor da mão que a segura. É colonial, independente de quem a sustente.