Quissila Tavares Pires, Ilha da Gigóia, na Barra da Tijuca, Rio.
Ele parecia pacato. Todos gostam dele. Ninguém consegue acreditar no acontecido. Tudo isso foge ao nosso entendimento. Esse é o sentimento, vamos dizer assim, que se tem em relação ao crime. Aliás, que cara tem um feminicida? Maria da Penha nos responde – “quem é agressor, na maioria das vezes, é socialmente aceito. Quer dizer, é publicamente dócil, educado, e faz até com que as pessoas duvidem que ele possa cometer tamanhas atrocidades.”
Talvez nada em seu rosto denuncie de fato quem ele é, porque não existe um rosto, um perfil. Nossos agressores estão perto, muitas vezes dentro de casa, um espaço onde se sentem seguros e abrigados pelo pacto não dito de que ninguém vai meter a colher. São pessoas confiáveis, respeitáveis e amáveis até deixar de ser. E quem há de acreditar na vítima que denuncia essa pessoa tão legal?
O crime também causou espanto por ter sido cometido numa área bucólica, onde a vida passaria em outros termos que não os da violência doméstica. Acreditem, aconteceu.
Quissila Tavares Pires, uma mulher negra, jovem, foi assassinada a facadas, no seu trabalho. A notícia é dada brevemente, talvez quem a redigiu também desacredite. Onde está o nome do agressor? Não, não é importante.
O que seria importante veio em primeiro lugar no texto da internet, foi crime passional. Olha, um crime foi cometido. Existe um agressor. Mas ele não tem culpa. É o que o texto nos diz. Até quando vão justificar nossas mortes por meio da paixão quando a motivação foi o ódio, o machismo? A vítima é MORTA mais uma vez, cada vez que a estória é contada também em violência. Isso nos foge ao entendimento. Isso nos foge ao entendimento. Isso nos foge ao entendimento.