Em Pensamento Feminista Negro, Patricia Hill Collins nos ensina algo interessante e
eu, particularmente, concordo, que para algumas mulheres “a maternidade promove crescimento pessoal, eleva o status nas comunidades negras e serve de catalisador para o ativismo social” (Collins, p.296, 2019). Enquanto mulher negra, ouso complementar dizendo
que a Maternagem nos ajuda a (re)elaborar rotas e sonhos.
Digo isso, pois, após ter me formado em Ciências Sociais, a possibilidade de regressar
à Academia em prol de um Mestrado era impensada por acreditar que a área acadêmica não
me contemplava. Essa síndrome tem nome: Impostor. Contudo, anos depois, tornei-me mãe
de Aisha e foi no processo do Maternar que surgiu o desejo de retorno à academia para um
Mestrado na área e Instituição dos meus sonhos: a Comunicação no Programa de Pós
Graduação da Universidade Federal do Recôncavo Baiano. E falar de sonhos de mães negras
é sobre falar de aspirações que não são individuais. Afinal, parafraseando Angela Davis, se
“quando a mulher negra se movimenta, toda a estrutura da sociedade se movimenta com ela”,
o mesmo acontece com as mães negras.
Ter me tornado mãe alavancou meus interesses não só por compreender a importância
de ser a referência e esteio de alguém, mas também por perceber que toda e qualquer
movimentação que eu fizesse sobre mim, teria impacto na vida das pessoas que me cercam,
sobretudo da minha filha. Então, percebi que minha realização pessoal, ainda que culmine
numa mobilidade econômica, geraria movimentações materiais e simbólicas na minha
estrutura familiar.
Portanto, a Maternagem é a minha mola propulsora. É ela que tanto me ensina e me
possibilita lentes que enxergam novos mundos. Ela me encoraja e engaja minhas pesquisas
sobre Maternagens Negras nas Mídias Digitais. E, embora saibamos da importância dessa
catapulta, precisamos ainda mencionar que a academia não está para nós, mães negras. Penso
ser um erro grotesco discutirmos evasão universitária desconsiderando a importância de
políticas públicas que acolham essas pessoas que maternam. Mais erro ainda é pensarmos a
democratização da educação desconsiderando nossas presenças (efetivas e afetivas).
Ainda que não diga a respeito da minha trajetória pelo fato de ter encontrado boas
companhias nesse percurso acadêmico, a regra é o desamparo e a culpa sobre os ombros da
mulher que pode escolher estudar. Mas que seja dito: não queremos abrir mão da nossa
Maternagem. Ao contrário, queremos políticas que incluam nossas dinâmicas nas agendas
das Universidades. E por “nossas dinâmicas” entendam tudo o que nos constitui, inclusive
nossas crias, pois se a Academia não é segura para nós, tampouco se configura como
acolhedora para elas.
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Referências bibliográficas
COLLINS, Patricia Hill. Pensamento Feminista Negro: conhecimento, consciência e a política do empoderamento. Tradução Jamille Pinheiro Dias. 1ª edição. São Paulo: Boitempo Editorial, 2019. 495 p.
Edição: Wellington Silva
Designer: Helida Costa