Estudar em uma ambiente majoritariamente branco é algo que ocorreu durante minha vida desde que entrei na adolescência. Estudei em escolas públicas até entrar no ensino médio onde prestei uma prova para entrar em um colégio e passei; esse colégio era considerado um dos melhores da minha cidade e foi naquele momento que eu me descobri negra.
Foi um choque, as pessoas de lá não eram iguais a mim e por mais que ninguém me destratasse aquele não era o meu lugar, eu não me encaixava e não entendia o porquê, eu estava triste, afastada, tentava fazer parte e não entendia o porquê aquilo não dava certo; passei os primeiros seis meses assim, tentando viver um dia de cada vez, me descobrindo e tentando entender o que estava acontecendo, minhas amigas estavam beijando e eu só tinha beijado uma vez a anos atrás, minhas amigas estavam tendo encontros e eu estava de vela, minhas amigas tinham vários paqueras e ninguém se interessava por mim.
A construção do meu amor próprio foi tardio, começou a acontecer quando comecei a ter contato com as únicas três meninas que eram iguais a mim, elas eram negras, e em um ambiente onde antes eu não enxergava meus semelhantes e não entendia o porquê eu encontrei três garotas que passavam pelos mesmos problemas que eu, que sentiam as mesmas coisas que eu que se se viam da mesma maneira que eu. Abri meus olhos e foi o momento mais importante da minha vida, a construção desse amor foi diária, foi e é um trabalho árduo de aceitação, empoderamento e consciência sobre si e sobre nossas ancestralidades, foi e está sendo fantástico, estou aprendendo muito cresço a cada dia.
Ter outras pessoas em quem se inspirar é algo extraordinário e fantástico, eu tinha minhas amigas, a força que tivemos, o amor que tivemos uma pela outra formou muito do que sou hoje, eu percebi que juntas erramos mais fortes que podíamos ser quem somos e que isso era algo bom, era bonito, libertador e que era como um vírus, foi se espalhando. Eu ao mesmo tempo que era a inspiração delas elas eram minhas inspirações, foi uma troca tão maravilhosa que inspira e sei que inspirará outras meninas; eu quero que minhas filhas sintam esse amor ao nascer, quero que elas não tenho vergonha do que é, quero que tenham orgulho de seus ancestrais e que entenda quão magnífico é seu passado e sua cultura.
O engraçado é que estou digitando em uma versão de 2013 do word e ele insiste em me dizer que empoderamento está errado, que é algo que não existe, e realmente, até pouco tempo atrás ele realmente não existia, empoderamento é sim meu cabelo crespo para o alto, empoderamento é sim esse texto que estou escrevendo, empoderamento é tomar para si, se identificar e ter voz, isso é empoderamento, empoderamento é construído, e por mais que me digam que isso é moda, que é uma maneira de chamar atenção ou algo do tipo, empoderamento é muito mais profundo, é revolucionário e libertador, e isso tudo tem a ver com amor próprio, amor que os meus não nasceram sentindo sobre seus cabelos, sobre seus traços, sobre que é.
A luta continua, existe um imenso caminho a ser percorrido, mas se amar e amar os seus é um grande passo que já está acontecendo, precisamos estar em todos os lugares, mostrando que somos capazes e muito, precisamos nos levantar e não abaixar mais a cabeça, podemos e conseguiremos, um passo de cada vez e uma luta de cada vez, o que é nosso será nosso pois estaremos lá.
Imagem de destaque – Glowing Pain