Em 1996, na 20ª RBA [Reunião Brasileira de Antropologia], a empresa responsável pela organização do evento contratou apenas funcionárias/os brancas/os, justamente no ano em que tal reunião se realizava em Salvador, cidade com grande número de população negra no país.
Em 2005, o professor Kabenguele Munanga propõe à ABA que na 25ª RBA, realizada em 2006, fosse proposta uma mesa para discussão do tema das ações afirmativas e tal pedido foi negado pela diretoria de tal instituição.
Na realização da 25ª RBA, tal mesa ocorre, somente após um professor e uma professora brancos proporem o mesmo tema a essa associação. Fato que culminou na ausência permanente deste pesquisador negro renomado no campo da antropologia em sua reunião nacional. Já em 2014, durante a 29ª RBA, realizada em Natal, as/os monitoras/es negras/os fizeram uma manifestação durante a Assembleia Final denunciando a discriminação racial sofrida no evento. Em 2018, na mesa de abertura da 31ª RBA, foi percebida por todas/os presentes a inexistência da presença negra em lugares de reconhecimento científico e, lamentavelmente, a presença negra apenas em lugares de subalternidade, como servindo bebidas ou atuando como segurança.
Assim numa temporalidade cíclica observamos que há mudez das estruturas raciais é reproduzida nas RBAs de modo sistemático e simbólico. Dessa maneira, nós antropólogas negras e antropólogos negros, participantes da 31ª Reunião Brasileira de Antropologia, manifestamos publicamente nosso repúdio à inexistência de representatividade negra na mesa de abertura, ocupando espaços de reconhecimento científico.
Sabemos que todas/os nós estamos imersas/os numa sociedade racista e a desnaturalização e a percepção dos privilégios é um exercício que deve ser constante. Desta maneira, com o intuito de combater esse fosso racial dentro da Associação Brasileira de Antropologia, nós, antropólogas/os negras/os, reivindicamos a criação de um Comitê Permanente de Antropólogas Negras e Antropólogos Negros dentro desta associação, colaborando de forma pedagógica e construtiva nos espaços de decisão desta instituição e da nossa disciplina de forma plena.
Nosso intuito com tal reivindicação é que as instâncias deliberativas da antropologia brasileira estejam permeadas por uma sensibilidade plural que incorpore sujeitas/os produtoras/os de conhecimentos étnico-raciais diversos.
Por fim, gostaríamos que esta moção fosse publicada em todos os meios de comunicação da ABA, publicada nos anais deste evento e encaminhada a todas/os filiadas/os desta associação, programas de pós-graduação, cursos de antropologia e ciências sociais do país e instituições parceiras.