Os últimos tempos têm sido tenebrosos. Assistimos estarrecidos, desde o início dos mandatos do legislativo e executivo deste país, a investidas retrógradas e estrategicamente elaboradas por políticos da bancada BBB (Bíblia, Bala e Boi).
Estamos vendo ser violados sem nenhum escrúpulo nossos direitos conquistados com muita luta, suor e resistência. Desde a tentativa – com sucesso – da retirada do termo gênero dos planos de educação em diversos estados, passando pela aprovação do Projeto de Lei 5069 (que tenta praticamente extinguir o aborto legal no Brasil) até a investida contra a nossa juventude negra com a discussão e posterior tentativa de aprovação do Projeto de Lei 171 pela redução da maioridade penal.
Temos o congresso mais conservador e fundamentalista desde o fim da ditadura. Os deputados que ajudamos a colocar no parlamento brasileiro dão um show de machismo, racismo e transfobia, ignorando princípios democráticos e de direitos quando ameaçaram estuprar mulheres, tratam a outros deputados com racismo, agridem manifestantes. Ferem o princípio de laicidade do Estado, tentando trazer para dentro das instituições públicas leis baseadas em pensamentos judaico-cristãos e ignorando o fato de sermos um país diverso no que diz respeito a prática da religiosidade.
Tais atos, capitaneados pelos que se dizem “cidadãos de bem” e “representantes da lei”, reforçam a violência, o ódio e a intolerância principalmente contra as religiões de matriz africana. Continuamos tendo nossos templos atacados, queimados, sendo desrespeitados nas nossas práticas e filosofias.
Quem são os que defendem os nossos interesses? Quem são aqueles que nos representam?
Ratos que se aproveitam da ignorância do povo. Hipócritas que usam de prestígio e notoriedade entre os seus para acordos mesquinhos, ilícitos, em que nada de bom e justo é garantido ao povo. À essa corja que acredita que estamos cegos, desarticulados e de braços cruzados, deixamos nosso recado:
#FORACUNHA
Nós, mulheres negras, continuamos a morrer todos os dias de Salvador ao Rio Grande. O mapa da violência só aponta o óbvio: somos as que morrem mais. Nos hospitais morremos sem atendimento digno, seja por parto ou aborto. As que continuam ignoradas nos presídios femininos, abandonadas por maridos e família; somos as que que ganham menos, as empregadas domésticas mal remuneradas e as que estão nas triplas jornadas de trabalho.
Nossos filhos, irmãos, pais continuam a ser executados sem nenhum pudor pela polícia, pela milícia e com o aval do Estado.
Estamos fartas de contar nossos mortos e olhar nosso passado que tem tão poucas vitórias e avanços: todas medidas reparatórias estão longe dos nossos desejos ancestrais. Esse Estado nos deve até a alma e não descansaremos enquanto a reparação não for completa.
Por tudo isso repudiamos os recentes ataques ao direitos sociais e civis de mulheres negras, trans e cis, da população preta e pobre desse país. Resistiremos às investidas dos fascistas e racistas contra nossa dignidade e bem viver. Denunciamos o Estado machista e misógino que insiste em deslegitimar a gestão de uma mulher no poder – eleita de maneira democrática e legal – atacando-a em sua dignidade, imputando-lhe os adjetivos mais nojentos e machistas que se pode haver.
Exigimos a destituição do Sr. Dep. Eduardo Cunha da Presidência do parlamento brasileiro, visto que são obvias as suas ligações com crimes como sonegação de impostos, recebimento de propina e lavagem de dinheiro. Clamamos pela sua caçassão e afastamento das atividades como legislador e político, já que sua conduta e prestação destes serviços tem atentado contra os direitos do povo – principalmente das mulheres, negros e pessoas LGBTT.
Exigimos que o parlamento brasileiro legisle em nosso favor, aprovando leis que garantam nosso acesso aos direitos básicos e permitindo que nós mulheres, negros e pessoas LGBTT’s tenhamos a nossa dignidade respeitada, como versa a constituição.
Não permitiremos mais que avancem o machismo, a misoginia, a transfobia e o racismo nas instituições públicas, sejam elas quais forem.
Sairemos para as ruas, ocuparemos as escolas, tomaremos as comissões legais e os locais de representação para gritarmos basta ao abuso de poder, basta o nosso genocídio e a negligência do Estado em nos deixar agonizar.
Por fim, nos posicionamos contra o golpe arquitetado pelos políticos acéfalos e pelas mídias hegemônicas. Golpe ilegítimo, burro e sem fundamento, já que legalmente suas provas não garantem a destituição do poder da presidenta da república. Entendemos que essa manobra é sintomática, pois a direita conservadora se nega a aceitar as eleições de 2014 – legítimas e democráticas – que permitiu a permanência da primeira mulher a governar este país.
Reiteramos nosso laço com a luta das mulheres negras, trans e cis, reforçando que continuaremos em marcha, ocupando e empoderando as nossas no objetivo de ter uma sociedade sem racismo, machismo ou nenhuma outra fobia. Não mais permaneceremos caladas – Vivas ou mortas, jamais escravas!