EDITORIAL BN
Imagem: Sandir Costa
Há um som que nos move. Tambores históricos, com a dança afro de D. Marinalda, anunciaram mais um momento histórico que ecoou a ancestralidade, nossa pluralidade e a resistência que somos, além do futuro que estamos construindo. Entre os dias 06 e 08 de dezembro, cerca de 200 mulheres negras do Nordeste se reuniram em Recife, Pernambuco, para o Encontro Regional de Mulheres Negras em Marcha por Reparação e Bem Viver. Foi mais que um evento: foi um ato de radicalidade política, uma reafirmação de que o Bem Viver não é apenas um sonho, mas um projeto coletivo revolucionário que desafia diversas estruturas políticas no nosso país, sobretudo aquelas edificadas em privilégios.
O que vimos ali foi a síntese de nossas lutas: mulheres negras dialogando sobre a pluralidade dimensional do nosso território, juventude, intergeracionalidade e enfrentamento ao racismo e ao capitalismo. Falamos sobre a captura de nossas narrativas pelo capital, denunciamos as violências nos territórios quilombolas, indígenas e periféricos e reafirmamos: não há Bem Viver sem reparação. Mas também celebramos a vida, a força que mobiliza nossos corpos e a organização coletiva que nos impulsiona.
Marchar com 1 milhão de Mulheres Negras em Brasília, em 2025, é mais que alcançar um número simbólico. É um movimento transfronteiriço, que se reafirma como global ao conectar as lutas das mulheres negras do maior país da América Latina às de mulheres negras da região e de outros territórios ao redor do mundo. Trata-se de construir um novo pacto civilizatório que rejeite a lógica predatória em favor de um futuro sem prazo de validade para nós. E, para isso, precisamos de articulação política, mobilização de recursos e, acima de tudo, coragem para exigir o que nos é devido. Filantropia, neste e em outros contextos quando se trata de mulheres negras, não é caridade, mas um compromisso político com a transformação de outros imaginários possíveis.
As Blogueiras Negras estiveram em marcha em 2015 e estaremos novamente em 2025, porque marcharemos sempre que for necessário. Nosso compromisso é com a memória e a luta que nos trouxeram até aqui, e com a construção de um futuro onde o Bem Viver seja realidade para todas as mulheres negras.
Que este seja o chamado: à juventude, para que assuma a linha de frente com energia e inteligência; às mais velhas, para que sigam nos guiando através de suas memórias e sabedorias; a todas nós, para que, em qualquer fragilização de nossos direitos, lembremos de marchar. Porque nós somos o movimento, e a marcha tem o tamanho da nossa coragem.
Nós, as que marcham, sabemos como, onde e quando é hora de fazer história.
Edição: Wellington Silva