Quando o assunto é documentário, não há nada melhor para te inspirar do que suas vivências e sonhos pessoais, é dessa forma que eu imagino e idealizo. Minha paixão começou quando eu ainda estava no ensino fundamental e assisti “Ilha das Flores” produzido em 1989 por Jorge Furtado, a partir daquele dia decidi ser documentarista, mesmo não sabendo nem definir o que é documentário.
Entrei para a universidade para o curso de Comunicação Social com habilitação em Rádio e TV sabendo que ao final – mesmo que isso não faça sentido para algumas pessoas – eu faria um documentário. A disciplina a qual esperei para o aprendizado dessa técnico-arte foi lecionada por uma professora maravilhosa e que instigou o crescimento dessa minha paixão.
O audiovisual consegue tomar proporções pelas quais nem mesmo o autor/produtor/diretor não entende e/ou espera, foi o que ocorreu comigo. Ao fim dessa disciplina, produzi um documentário a partir de uma realidade comum entre muitas pessoas e eu: o cabelo como forma de identidade. Essa ideia foi desde o início desafiadora, social e brilhante; mas o audiovisual é isso, é uma relação de amor e ódio esplêndida.
Tratar do negro pela visão de um negro leva uma grande diferença para os espectadores. Após a exibição pelas redes sociais eu já recebi muitos depoimentos emocionados e agradecidos de diversas pessoas que nunca vi na minha vida, isso não tem preço. Grande parte dessas pessoas fala que a direção só poderia estar nas mãos de alguém sensível e que possui conhecimento da causa, pois aquela narrativa estava isenta de preconceitos e afins. Saber disso através de um receptor que nem te conhece também não tem preço.
Infelizmente generalizamos a mídia com o mais poderoso audiovisual que conhecemos: a televisão; esquecemos que mídia é tudo aquilo que consegue através de imagens e/ou som disseminar informações em geral. Ter o domínio dessa técnica e linguagem ainda é restrito a uma pequena parcela da população brasileira, mesmo com o “barateamento” dos aparatos tecnológicos, grande parte da população ainda não tem ou teve acesso a esse conhecimento.
A democratização da comunicação é uma luta concreta de estudantes e cidadãos que sabem quão importante isso é e seria para a população. Afinal quanto mais crítica a sociedade for, menos desigualdades sociais teremos. O fato é que a “corte brasileira”, detentores das mais poderosas empresas, não fazem a mínima questão de ter uma população pensante.
Sim, o audiovisual TEM ESSE PODER. Já que tive a oportunidade de deter esse “poder” em minhas mãos, nada mais justo do que devolver á sociedade aquilo que eu acho mais ideal. Talvez eu seja uma utópica em pensar e idealizar uma sociedade mais justa, menos desigual e mais crítica, mas esse pensamento deixa de ser utopia e passa a ser realidade quando percebo as grandes proporções e os bons caminhos que o documentário O LADO DE CIMA DA CABEÇA tem conseguido até agora.
Assim como o audiovisual, há tantos outras técnicas que podem ser utilizadas como formação de opiniões críticas em salas de aulas, associações, grupos de pesquisas, universidades, famílias, entre outros grupos sociais. Juntar a crítica social e o audiovisual é o meu papel nessa sociedade, mas também pode ser o papel de muitos e muitas negros e negras, homoafetivos, mulheres, índios, pobres, entre outras tantas minorias que sofrem nesse país tão desproporcionalmente social e injusto. O nosso dever como cidadão é saber ensinar e aprender o tempo todo.
Assista