editorial bn
Awa osoro neapos ile wa o!
Awa osoro neapos ile wa o!
Esin Ka ope Oye
Esin ka ope Oye ka wa ma so oro
Awa osoro neapos ile wa o!
Nós cultuamos a memória de nossos ancestrais em nossa casa!
Nós cultuamos a memória de nossos ancestrais em nossa casa!
Não há religião no mundo que impeça.
Não há religião no mundo que nos impeça de cultuarmos a memória de nossos ancestrais em nossa casa.
Nós cultuamos a memória de nossos ancestrais em nossa casa!
Esse é um trecho de um material importante sobre o dia 25 de julho, lançado no ano de 2008 por uma Comissão Especial, instituída pela Alerj, para Discutir Questões Relacionadas aos 120 anos da Abolição. Um escrito que encontramos, não por acaso, e que nos fez pensar sobre a memória das mulheres negras no dia de hoje!
Blogueiras Negras pede licença às ancestrais para compartilhar algumas reflexões neste Dia da Mulher Negra Latino-americana e Caribenha. Neste dia, lembramos as mulheres que se reuniram em 1992 em Santo Domingo, República Dominicana, fundaram a Rede de Mulheres Negras Afro-caribenhas e Afro-latinas, e instituíram o dia 25 de julho como data não apenas para celebrar, mas para visibilizar e fortalecer a luta das mulheres negras, assim como para denunciar a ausências de políticas públicas e de direitos para a população negra.
Hoje é dia de denunciar as realidades das mulheres negras em todos os setores da sociedade. O momento em que vamos nos mobilizar em prol da superação do racismo, da violência, da LGBTfobia, do machismo, da intolerância religiosa, do cárcere, da fome e da pobreza. Rastros nefastos do colonialismo e do patriarcado, que ainda são reforçados para manter privilégios de quem sempre os teve. Pode parecer injusto que exatamente nós tenhamos que fazer isso. É porque nós sabemos – há muito tempo – que nossos direitos não nos foram oferecidos e, sim, penosamente conquistados. Que nossas pretinhas e nossos pretinhos saibam disso.
É importante entender uma parte da história que não é contada e, propositalmente, também não compõe o ranking dos assuntos mais falados nas redes sociais. A internet nos possibilitou a ampliação das narrativas e nos aproximou umas das outras, ao mesmo tempo que inclinou o debate racial para um lugar perigoso e superficial. E quando falamos isso, entendemos que nem sempre a sociedade valoriza as importantes e históricas contribuições de mulheres como Raquel Trindade, Neusa Santos Souza, Valdecir Nascimento, Nilma Lino Gomes, Luiza Barros, Jurema Werneck e tantas outras, que ainda continuam dedicando sua vida à luta por direitos ou que já estão no orun.
Vale lembrar também das mulheres que não tiveram suas histórias contadas. Nossas mães, tias, avós, madrinhas, vizinhas e tantas outras mulheres anônimas. Algo que estamos conseguindo superar, ainda de forma lenta, a partir do esforço de resgatar documentos, fotos, vídeos, escritos, livros e artigos, que preenchem os registros de resistência e luta contra as opressões, intencionalmente apagados. Quem são as mulheres negras próximas a nós que foram as primeiras a conquistar alguma coisa? Um emprego público, um diploma, uma viagem ao exterior, a liderança da comunidade, um cargo eletivo ou a casa própria. Contem essas histórias! Falem sobre como estudaram à noite para aprender a ler e escrever. Falem sobre como fizeram para chegar à universidade e para permanecer naquele ambiente até sua formatura. Falem das mulheres que desenvolveram tecnologias em seus territórios. Falem também daquelas que colecionaram diários escrevendo suas memórias.
Falem de Carolina Maria de Jesus e sobre Conceição Evaristo. Falem sobre aquelas que especularam sobre nosso futuro, acreditando piamente na conquista da nossa autonomia. Falem de Lélia Gonzaléz que nos explicou como as mulheres negras vivem dando rasteiras nos sistemas convencionais para que tenhamos lugar para exercer nossas tradições, assim foi com o pretuguês. Será que esgotamos o debate sobre os feitos de cada uma delas ou apenas preferimos priorizar quem atende aos delírios do mundo moderno lotado de algoritmos?
Nem sempre temos sido cuidadosas umas com as outras e isso é importante ser dito. O sistema é mal e nos faz competir ao invés de somar. Ele nos rouba dinâmicas de reflexão num fazer acelerado que dilui o tempo dedicado à lapidação das nossas relações mais caras. Revolução não se faz de um dia para o outro e estratégias coletivas não podem ser pensadas individualmente. Nosso tempo é outro e por isso precisamos entender o que devemos priorizar, ainda mais estando mergulhadas em uma estrutura que nos fala o tempo todo que “ter” é mais importante do que “ser”.
A história das mulheres negras é a história do mundo, por isso nos dedicamos há 10 anos a esse propósito. De norte a sul, inclusive internacionalmente, temos a honra de compartilhar essa tarefa com tantas mulheres negras que também reforçam o quanto a memória é a nossa autonomia.
Celebre este dia com sua ancestralidade. Você é o resultado de gerações de mulheres negras que lutaram (e acredite, ainda lutam) para que você esteja aqui. Neste dia, lembre-se de suas antepassadas, dos sorrisos, dos carinhos, da alegria, da dureza, das dores, da firmeza, da luta, do silêncio e do canto. Se puder, esteja com outras mulheres negras que compartilham dessa herança ancestral. Mulheres que, desde que pisaram nas Américas – traficadas, escravizadas, sequestradas – lutam por liberdade e direitos.