Esse é o 8º ano consecutivo que nós, Blogueiras Negras, publicamos uma lista com os textos mais lidos. O modo de fazer você bem conhece. Os textos não são apresentados em ordem de visualizações, mas sempre agrupados em torno dos temas que abordaram. Ficamos muito curiosas em construir a lista deste ano tão desafiador para entender o que nos mobilizaram esse ano, nós as Blogueiras Negras no ano em que reafirmamos que o Ori é o nome da história.
Em primeiro lugar nossos agradecimentos a todas as mulheres que tem se reunido ao longo de todos esses anos em torno dessa ideia que um dia foram as Blogueiras Negras e que agora se materializa através dos laços de afeto, amizade e admiração, mesmo com questionamentos e tensionamentos entre nós. Que também é essa plataforma em que uma parte de cada uma de nós habita, sendo testemunho e desejo nosso que agora aqui estamos, como tributo para quem veio antes e para as que virão depois, Ana Flávia Magalhães e Rosane Borges.
É em seu nome, Liliane Martins, que participa dessa lista com três textos, agradecemos e nos abraçamos, mesmo de longe. Sabemos que Ainda podemos ser vendidas, compradas, comercializadas. Conhecemos as dores negras pela vida e muitas vezes nos perguntamos Até quando mulheres negras precisarão ser fortes. Mas seguimos no propósito de caminhar ao lado dos movimentos de mulheres negras, construindo informação pra fazer a cabeça.
Gostaríamos de falar sobre o cardápio da ceia de final de ano, mas para muitos de nós a fome espetada no olho é mais que uma metáfora. No ano em que a palavra antirracismo ganhou as redes, todas nós fomos assediadas por uma branquitude sedenta por perfis que poderiam educar suas tardes enfadonhas. Quando já não era mais possível compartilhar seu estilo de vida palaciano, correram para desfilar nossos corpos como seus aliades de ocasião.
Que não nos esqueçamos das vozes das companheiras Maria Clara Araújo e Larissa Santiago. Desconfiem de quem se afirma decolonial, mas não rompe com o epistemicídio! No sistema capitalista em que vivemos não tem sopa de graça, “violência gera violência” é a falácia colonial. Alguns corpos seguirão caindo enquanto a interseccionalidade, restrita aos meios que se denominam feministas, for nada mais que uma palavra complicada e bonita que usamos em nossos textos e falas públicas mas não aplicamos em nossas ações mais cotidianas.
Carolina Rocha não poderia ter descrito melhor o ano de 2020, NOVO VÍRUS, VELHOS PROBLEMAS. E os problemas não são outros que não a morte, sentida em cada uma das vítimas de mais uma pandemia cuja a vacina ainda é um horizonte muito distante para nós, pessoas negras. Nesse ano nós choramos incessantemente nossos mortos em todo o Brasil, as mães rezaram incessantemente para que pudessem chegar ao final do ano com todos os seus.
Lorena Borges nos lembra oportunamente que ainda escorrem as Lágrimas Negras (em respeito às mães que perderam seus filhos). O ciclo da desigualdade como escreveu Murielle Calixto, persiste na vida de cada uma de nós. Como vimos na série Coisa mais linda, a invisibilidade da mulher negra ainda é um muro que estamos escalando pouco a pouco, Luana Rocha. Os desafios que se colocam não são de pouca monta.
Inclusive no âmbito das relações interpessoais. Amar uma mulher negra segue um ato político, Dara Ribeiro. Falar da Responsabilidade emocional e racismo e dizer o óbvio, que pessoas pretas têm sentimentos ainda se faz mais que necessário, Juliana Sankofa.
Ser invisível ou Solidão da mulher negra ao meu e ao nosso olhar segue uma ferida que está longe de ser curada, Mariana César.
Entretanto, a resposta já foi anunciada. No ano em que completamos os 5 anos da Marcha de Mulheres Negras, salve Nilma Bentes, as mulheres negras exaustivamente fizemos e vivemos política, inclusive ao lado dela, Ingrid Farias, que nos fez pensar sobre as Cotas raciais nas eleições 2020. E que nos fez perguntar: E se, nas eleições, os 30% fossem de homens? Agora os desafios são muitos mas felizmente podemos contar com mulheres que têm vivido e pavimentado novos caminhos, Valdecir Nascimento e Taliria Petrone, nesse ano em que em que o Atlântico Negro mais uma vez se banhou de sangue.
No momento em que escrevemos, uma segunda onda da pandemia começa a castigar nossos corpos. E antes que comecem a nos pedir números, vamos a eles. No Rio de Janeiro a doença afetou duas vez mais negros. Em Maceió, pessoas negras foram 60% das vítimas. Entre os povos indígenas, as batalhas têm sido as mesmas no vácuo deixado pelo estado que aqui grafamos com letras miudinhas para denunciar seu descaso.
Não podemos nos esquecer que o agrupamento de pessoas pretas e pardas é uma luta histórica do movimento de negro por acaso. A morte nos alcança a todos. E é hora de nos perguntar se Afinal, no Brasil existe colorismo?, como fez Aline Djokic. De questionar o que é O colorismo e o privilégio que ninguém te deu, não é, Gabriela Bacelar? Os Afrobeges ou o colorismo que refuta a lógica racista, que tem por objetivo “encobrir e camuflar a negritude de mais de 50% da população brasileira”, como escreveu Laila Oliveira.
Uma de nossas apostas é a educação. Que Rafaela Giffone nos motive a sempre questionar – Professor(a), a educação antirracista está entre as suas tarefas históricas? E que estejamos ao lado de cada uma das nossas, na dura batalha da sala de aula promovendo a construção de novos mundos. Que possamos sempre estar ao lado de todas as mulheres negras que se perguntaram e se perguntarão como é Ser uma professora negra, Luciane Silva.
Um ano de muita reflexão e luta com o aprofundamento das violência contra as mulheres negras. Um ano em que respondemos reafirmando nossos compromissos de caminharmos juntas em diversos espaços de disputa de nossas vidas e narrativas. O que não teria acontecido sem que acreditássemos no nosso sonho, nós que estamos compartilhando, lendo, escrevendo, pesquisando, colaborando, apoiando e coordenando essa rede que somos as Blogueiras Negras.
Nosso muito obrigada para todas as pessoas que estão com a gente.
Mais uma vez, essa lista foi feita por vocês. Saúde pra nós!