Protagonismo Negro no Museu da Abolição
O Museu da Abolição (MAB) é uma instituição pública federal, vinculada ao Instituto Brasileiro de Museus (IBRAM), autarquia do Ministério da Cultura, único museu federal com temática afro desta autarquia, que tem suas ações norteadas pelos princípios da Sociomuseologia. O MAB foi criado por Lei Federal em 1957, em homenagem aos abolicionistas João Alfredo e Joaquim Nabuco, e efetivamente implantado em 1983. Todavia, desde 2005, sob inspiração da nova Política Nacional de Museus, o MAB iniciou um processo participativo de elaboração do seu Plano Museológico, com ampla mobilização das comunidades afrodescendentes, com as quais vem trabalhando em parceria, voltando sua Missão e Objetivos para temas que vão além da Abolição, incluindo a condição da população negra brasileira como objeto de seus interesses e preocupação institucional, contribuindo assim para a afirmação do protagonismo negro na construção da sociedade brasileira, o que pode ser conferido na atuação e atividades desenvolvidas pela instituição, disponível no site http://museudaabolicao.museus.gov.br/.
A exposição “Os da Minha Rua: Poéticas de R/existência dos Artistas afro-brasileiros”, em cartaz no MAB desde o dia 19 de outubro, foi desenvolvida em parceria com a historiadora e curadora Joana D’Arc Lima, patrocinada pelo Funcultura e exibe produções de dez artistas negros e negras representativas das artes visuais afro-brasileira contemporânea. A exposição foi idealizada para proporcionar diálogos entre artistas nacionais e locais e ampliar o debate em torno das produções destes artistas, dando relevo não só quanto à sua existência, mas, sobretudo, quanto à sua resistência. Resistência apresentada sob uma perspectiva poética, que reflete o olhar de cada um dos artistas sobre a questão racial brasileira, suas ancestralidades, suas memórias, seus afetos, mas também suas invisibilidades e tensões que subjazem no tecido social brasileiro, presentes desde sempre, e que revelam a construção da nossa realidade social ao longo dos últimos 500 anos. Foi Inspirada na poética da obra de mesmo título “Os da minha rua”, do escritor angolano Ondjaki, e propõe que novos olhares sejam lançados na busca de transformar realidades de jovens e adultos que vislumbram na arte, na dança, na poética, no corpo, na música, na voz, na cultura enfim, a possibilidade de mudança de suas histórias de vida, para que, ao contrário dos que encontram a morte, a prisão, ou as drogas – realidade de grande parte da juventude negra brasileira –, passe a escrever, desenhar, pintar, moldar uma outra possibilidade para suas vidas.
A exposição e atividades complementares nos trazem, portanto, o indizível, o imaterial, o afeto, a memória, o olhar, o gesto, a expressão da alma destes resistentes artistas brasileiros e cumprem o objetivo de viabilizar a Missão e objetivos institucionais quanto à promoção da arte, da cultura, da memória, dos valores históricos, artísticos e culturais, do patrimônio material e imaterial dos afrodescendentes, por meio de estímulo à reflexão e ao pensamento crítico, contribuindo para o fortalecimento da identidade e cidadania do povo brasileiro.
Os fatos narrados na matéria “Novos Lugares? Novas Falas? Ocupação do espaço e protagonismo negro no Museu da Abolição”, datada de 07.11, neste blog, nos causou estranheza uma vez que a instituição Museu da Abolição não tomou conhecimento dos acontecimentos citados, e não foi procurada para se posicionar diante das denúncias. Por este motivo, preocupados com a repercussão de atitudes que não refletem nosso compromisso com os objetivos institucionais acima referidos, e com a imagem e papel que a instituição detém, estamos, equipe e direção do MAB, junto com a curadoria da exposição, promovendo um encontro com todos os interessados e interessadas, para abrir um diálogo, para refletir sobre as questões apontadas e outras de interesse do público. O que nos move para a abertura deste diálogo, além da gravidade do momento que se nos apresenta, em que devemos somar esforços para a construção de uma sociedade mais justa, que garanta direitos e lugares de fala, é garantir o posicionamento institucional que tem por valores a ética, zelo e transparência na gestão do patrimônio e recursos públicos; o comprometimento e compromisso com a comunidade local, especialmente afrodescendentes; o respeito à diversidade dos públicos; e o respeito e valorização da equipe de trabalho.
O MAB aguarda a todos os interessados e interessadas no dia 21.11 às 16:00, no Museu da Abolição para mediar este debate com a curadora da exposição.