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Série Contos Blogueiras Negras

Selo

 

os olhares vão te estranhar pela tua cor

o teu cabelo vai ser negado até a curva do último fio

o medo de ser medida pela cor e não pela competência vai tomar teus pensamentos

o espelho vai te dizer que aquele reflexo não tem espaço num mundo bonito

o mundo vai te dizer que tu estás sozinha para buscar teu lugar

estás sozinha pra lutar

sozinha para gritar e, se corrrer, coisa boa não é

vão te dizer exótica, sensual, forte e boa de parir

vão te negar mulher de direitos, vão te gritar mulher de defeitos

vais sentir o medo de enegrecer, de amigos não ter, amores não sentir

ou sentir e ter que perder, por um racismo que vai te diminuir, te inferiorizar e te afastar do que teu é de direito

 

para ver teus iguais, sai dos espaços de poder

vai para o canteiro de obras, vai para a cozinha, vai para a senzala

não sai de lá, é lá teu lugar

menor

submissa

inferior

 

vão negar tua inteligência

quando ela for inegável, vão te dizer branca

vão negar tuas virtudes, ao menos que te embraqueçam – daí serás mui digna

menos preta menos pobre mais inteligente

quase branca

 

vão te dizer igual, vais achar que não há diferença

vão te colocar a culpa, dizer que tu que não te esforçaste para conquistar teu lugar

vão dizer, do alto dos seus privilégios, que a carga pesada que sentes nas costas é invenção da tua cabeça

será que essa carga nas costas dói mais por causa das chagas das chibatas?

 

vão justificar que teu povo também te escravizou

foi ele quem te colocou no tronco

te tirou da tua terra

te usou como bicho e depois libertou?

 

liberdade não se dá

 

liberdade se tira

 

 

Imagem destacada: Créditos Ariane Oliveira.

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