Entre os tantos desafios que enfrentamos ao realizarmos ações na Educação, o SERNEGRA traz mais um consigo. Desde o início estamos cientes de que, se um evento tem o potencial de convergência e exponenciação de uma luta histórica, traz consigo também o perigo de limitação da interpretação ao fato em detrimento do processo. Desde 2012 em ação, tivemos duas edições de semanas intensas que, para nós devem se irradiar no tempo e no espaço, levando o que nelas foi vivido para a práxis de cada pessoa que nelas estiveram. É assim que esperamos rever os participantes das edições anteriores neste 2014 para mais uma semana de convivência: mais vivxs, mais ativxos, mais combativxs e, oxalá, mais esperançosxs.
Desde o lento despertar de nosso sonho de convivência racial harmônica, impulsionado, sobretudo pelos movimentos negros e pela produção acadêmica progressista a partir do enfraquecimento da ditadura em meados dos anos 1970, foram muitas as batalhas e importantes as vitórias no combate ao racismo estrutural brasileiro. Contudo, temos ainda um longo caminho pela frente nessa luta, que a cada dia vem sendo amplamente assumida por setores estratégicos da sociedade, e sobretudo vem sendo assumida como tarefa também do Estado. Foi o que vimos acontecer a partir do ano de 1998 com a criação da Secretaria de Políticas para a Promoção da Igualdade Racial (SEPPIR) pelo Governo Federal e, sobretudo a partir da primeira década do século XXI com a criação de leis específicas de combate ao racismo e promoção da igualdade na diversidade e com o incentivo à pesquisa sobre racismo e relações raciais no Brasil.
Entre as leis, merece destaque a Lei nº 10.639 de 09 de janeiro de 2003, que altera a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, incluindo no currículo oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-Brasileira”. Em 2008 a Lei 11.645 amplia a obrigatoriedade para a “História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena”. Em 2012, após 10 anos de implantação das primeiras políticas de ações afirmativas nas universidades públicas brasileiras, foi promulgada a chamada Lei de Cotas, a Lei 12.711/2012, que determina em seu artigo 3º que “Em cada instituição federal de ensino superior, as vagas de que trata o art. 1º da Lei [50% das vagas] serão preenchidas, por curso e turno, por autodeclarados pretos, pardos e indígenas, em proporção no mínimo igual à dos pretos, pardos e indígenas na população da unidade da Federação onde está instalada a instituição, segundo o último censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística”.
Para além das determinações legais e incentivos das políticas atuais, de todo bem-vindas, a inadiável urgência de superação do modelo de discriminação e exclusão sobre gênero que afeta a totalidade das sociedades do planeta e ganha em profundidade e perversidade em nosso país quando combinada com nosso racismo estrutural, torna prioritárias ações de relevo que promovam reflexões e espaços duradouros e irradiantes de enfrentamento da questão racial e de gênero em nossa sociedade. Como um lugar concebido para a formação de pessoas dentro dos princípios da solidariedade, do desenvolvimento sustentável e da educação para a cidadania ativa, a Escola IFB deve obrigatoriamente se inserir no enfrentamento contundente do quadro de exclusão social baseada na raça e no gênero, devido sobretudo ao seu caráter estrutural e estruturante assumido no contexto das relações sociais brasileiras, o que por si só impede a construção de um coletivo de fato.
Foi nesse contexto de combate às discriminações de raça e de gênero e à dupla perversidade dessas discriminações quando atuam em um só corpo, o corpo negro feminino, que levou o Grupo de Pesquisas Culturais a organizar em novembro de 2012 o piloto da Semana de Reflexões sobre Negritude, Gênero e Raça do Instituto Federal de Brasília, que se repetiu em 2013 em uma edição significativamente ampliada. Esta edição representou um momento importante de amadurecimento do evento e das discussões que nele aconteceram, e agora em 2014 partimos para a terceira edição, que pretende contribuir ainda mais para a consolidação do espaço da Semana de Reflexões sobre Negritude, Gênero e Raça do Instituto Federal de Brasília como um encontro de referência nacional sobre o tema. Segue a proposta em formulário próprio, encaminhado por memorando, à Coordenação Geral de Pesquisa e Extensão do Campus Brasília para os devidos encaminhamentos.
HISTÓRICO
Em 2012, a edição piloto do SERNEGRA atingiu um público aproximado de 300 pessoas que se distribuíram entre duas oficinas de dança (Dança Negra Contemporânea e Dança Africana da Guiné); uma apresentação de dança na abertura do evento; duas palestras ministradas por convidados externos (Ângela Nascimento – Secretária de Políticas de Ações Afirmativas da SEPPIR, Bruna Jaquetto, mestranda na Universidade de Brasília; Creomar de Souza, Professor da Universidade Católica de Brasília e Nelson Inocêncio, Coordenador do Núcleo de estudos Afro-Brasileiros da Universidade de Brasília) e um almoço afrobrasileiro organizado pelos estudantes do 2º Módulo do Curso Técnico em Eventos do Campus Brasília/DF.
Em 2013, a programação contou com um simpósio acadêmico com doze Seções Temáticas com mais de 100 propostas de comunicação enviadas, além de palestras com artistas, pesquisadores e pessoas públicas com renome internacional (Joel Zito Araújo, Jocélio Teles dos Santos – UFBA, Ângela Nascimento – SEPPIR, Rosane Borges – CNIRC-Fundação Palmares, Breitner Tavares – UnB, Carmen Luz – Cia Étnica de Dança, Grupo Embaraça). Tivemos um público médio de oitocentas pessoas, vindos dos mais diferentes locais do país (RJ, SP, MS, AL, BA e outros), entre inscritos no evento, participantes e visitantes em uma atividade ou outra, como a abertura oficial que aconteceu no Cine Brasília, com a exibição do filme Raça. Alcançamos nosso objetivo de promover a discussão e a reflexão juntamente com a construção de uma vivência prazerosa e plena de experiências e experimentações de artes.
Serviço
Semana de Reflexões sobre Negritude, Gênero e Raça do Instituto Federal de Brasília, IFB – SERNEGRA.
Esse ano estamos na terceira edição do evento e será realizado entre os dias 19 à 23 de novembro, Brasília – DF.
Em breve publicaremos a programação. Mas estão abertas as Comunicações Orais e foi lançado o Edital de Apresentações Artísticos Culturais.
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