Por Charô Nunes, Larissa Santiago, Maria Rita Casagrande, Verônica Rocha e Zaíra Pires
Nós, as Blogueiras Negras, viemos a público manifestar nosso descontentamento.
Nosso trabalho foi criado após a constatação de que, apesar de haverem mulheres negras escrevendo nos espaços que acessávamos, nos faltava um que reunisse conteúdos coletivos e que privilegiassem a escrita feminista negra. Não conhecíamos portais que celebrassem nossa diversidade e que não nos tratasse de forma pasteurizada, sem dar conta de nossas vivências a partir de variáveis de gênero, identidade racial e étnica.
Quanto menos perceber especificidades de orientação sexual, identidade de gênero, formato do corpo, religião e classe social não hegemônicos, ou seja, com diversas opressões intersecionadas sobre nossas existências e ostensivamente as invalidando. Assim como o feminismo não dá conta das demandas raciais das mulheres não-brancas de classe média e o movimento negro não alcança as nossas questões de gênero.
Nossa iniciativa é inédita e sabemos do seu valor. Além de todos os predicados já citados, temos a qualidade de reunir todos esses conteúdos em um único espaço, nos tornando um banco de informações sobre negritude e amplificando as vozes das mulheres negras como um megafone. Justamente por isso, nos posicionamos com firmeza com relação aos interessados em reproduzir nossos conteúdos pela rede ou fora dela a partir da publicação desse artigo. Não admitiremos, sob nenhuma hipótese, que utilizem nossos materiais de forma desrespeitosa.
Nossas autoras se esforçam excepcionalmente para produzir conteúdos inéditos, que sistematizem e traduzam situações que permeiam nosso dia a dia de mulheres negras, e que comumente não são abordadas em outros meios. Cada uma das autoras, à sua forma, enriquece o debate sobre o feminismo negro contemporâneo, algumas mais academicamente, outras de forma empírica, mas todas com muita legitimidade e qualidade.
São depoimentos generosos e preciosos, aos quais há que se dar o devido reconhecimento e justo tratamento. Nossos artigos têm circulado em listas de discussão, fóruns de debate, salas de aula, sites, jornais, revistas, conversas formais e informais. Personalidades de relevo no cenário da comunicação, do jornalismo e da militância negra, feminista, LGBT, social e de direitos humanos como um todo têm se debruçado sobre as palavras de nossas autoras e as tratado como os documentos históricos, sérios e relevantes que são.
Estamos compondo mesas de debates e palestras, nossos artigos têm servido de pauta para grandes veículos de imprensa. Isso só denota o quão valiosos e urgentes são nossos temas, e como temos que, cada vez mais, aprimorar nossa escrita e tratar com muito respeito e valor o que produzimos. Mais do que nunca, sabemos que há espaços em que queremos contribuir e há outros aos quais declinamos, por saber do caráter exploratório que essa reprodução tem.
Além do conteúdo excepcional, vale ressaltar o trabalho incansável da equipe de facilitadoras do Blogueiras Negras em por esse site na rua, fazer viva a comunidade e movimentar as redes sociais. É um esforço tremendo reunir um time vibrante de autoras, manter uma linha editorial diversa e coerente, tudo apresentado num formato atraente e agradável de se navegar. Tudo isso se deve a um time talentoso e engajado, voltado para o mesmo norte, que é a luta pela eliminação de todas as formas de opressão.
Nesse cenário, hoje destacamos o trabalho de nossa webmaster, Maria Rita Casagrande, na implantação do novo site quando migramos do endereço wordpress para o domínio próprio. Ela foi responsável por todas as etapas do processo de implementação de nossa nova interface, desde a escolha do tema à sua personalização, com a opção pelos widgets, aplicativos, cores, diagramação. Todo esse cuidado demonstra não somente nosso interesse no conteúdo de qualidade, mas em como ele precisa ser bonito, acessível e agradável.
A esse respeito, recentemente percebemos que um dos sites que se pretende parceiro (republicando nossos conteúdos), modificou seu tema para o mesmo que usávamos, o Jarida, e o customizou com a mesma linguagem, as mesmas cores, a mesma organização espacial dos widgets, como se fosse a repetição da identidade visual de duas páginas interligadas. Não houve, por parte deles, nenhum contato conosco. Nem antes nem depois da instalação do seu novo template.
Os temas wordpress, tanto os pagos quanto os gratuitos, estão disponíveis a quem quiser e puder contratá-los. Aos pagos, sempre é possível customizar e individualizar para que seja, o quanto possível, exclusivo para os seus compradores. Maria Rita Casagrande trabalhou com minúcia e carinho com nosso tema, para que nossas leitoras e leitores tivessem prazer em nos ler assim como temos imenso prazer em escrever. E para que nosso formato fosse apenas nosso, aquelas fossem as cores das Blogueiras Negras.
Esse portal que utilizou o mesmo tema não tinha nenhum impedimento legal em utilizá-lo, trata-se de uma questão de ética. Afinal, o que mais nos surpreendeu, sua equipe reorganizou os widgets e botões exatamente como os nossos, e usou o mesmo tom de vermelho, sendo que, antes da personalização, a cor original do Jarida é a laranja. Inclusive, por mais que nossos conteúdos estivessem licenciados para reprodução, a customização do template, um trabalho autoral e criativo, não compartilha dessa licença e não poderia, sob nenhuma hipótese, ter sido reproduzido.
O quão tristes ficamos e o quanto sentimos nosso trabalho desrespeitado é incomensurável. E por esse sentimento de tristeza e desrespeito, resolvemos modificar mais uma vez nosso site, instalando e customizando um novo tema, e endurecendo nossa política de republicação e parceria. Inclusive, o tema escolhido inicialmente por Maria Rita Casagrande e aprovado pela equipe de facilitadoras, o já citado Jarida, era o que acreditávamos ser ideal para nosso tipo de conteúdo e de público, e tivemos que nos reinventar em pouquíssimos dias, ainda sob o risco de perdermos leitores por essa modificação e consequente perda de identidade.
Afora esse caso pontual, há diversos sites que republicam nossos conteúdos sem dar os devidos créditos, sem respeitar a estrutura dos nossos posts, incorporando os conteúdos como se fossem produção própria e invisibilizando ora a autora, ora o Blogueiras Negras. Nos questionamos muito sobre a contrapartida de fornecer conteúdo gratuito à agenda de veículos maiores e mais robustos que nós, alguns comerciais, sem receber reconhecimento ou remuneração por isso. Essa visibilidade parasita não nos interessa.
Mas isso não há de nos abater. Não esmoreceremos, porque estamos cientes da luta que nossos ancestrais travaram e nos deixaram como legado. A luta feminista negra incomoda, porque ameaça muitos espaços de privilégio – principalmente quando se coloca intersecional e atenta às diversas demandas que atravessam a vida das mulheres negras.
Em contrapartida, a inexistência de portais que realizam trabalhos semelhantes ao nosso, nos coloca em posição de destaque como produtoras de conteúdo, como mídia independente e militantes do feminismo negro, fazendo com com que muitos queiram incorporar nossos textos. Por si só, esse interesse é muito oportuno para nós e nossas autoras, mas é estritamente necessário respeitar nosso trabalho, sem tentar nos ludibriar ou promover-se através de nossas palavras.
A partir de agora, temos regras claras e firmes de reprodução que podem ser encontradas no Manual de Parcerias. Entendemos que quem desrespeitá-las está ciente de que podemos tomar de medidas legais para proteger nossa obra. De nossa parte, temos uma política editorial muito clara, cujos princípios se relacionam diretamente com as atuais discussões sobre ética no jornalismo e sobre a confiabilidade do que se produz na web. Aproveitamos também para publicar o Manual da Blogueira Negra, material que vai orientar a todas as mulheres negras e afrodescendentes que queiram escrever conosco.
E o que nos resta de dúvida é: será que veículos que apenas replicam informações pode ser chamados de redação? Será que um jornalista que desrespeita a produção de um colega e o publica sem dar os devidos créditos não está tentando que o publico associe a produção à ele, menosprezando e invisibilizando seu autor? Para essa reflexão, recomendamos a leitura do código de ética do jornalismo brasileiro, tão necessário para o exercício do jornalismo e tão esquecido em tempos de internet, da prática do copy + paste e do kibe como forma de sobrevivência de muitos dos sites que sobrevivem por número de pageviews. Vale destacar especialmente o item 9 do artigo 6º, que diz: “respeitar o direito autoral e intelectual do jornalista em todas as suas formas” e em como essa premissa tem sido ignorada em nossas relações.
Por fim, cientes de que todo nosso conteúdo preto tem relevância e importância pra comunidade negra nós, facilitadoras no Blogueiras Negras, em nome da nossa comunidade e em respeito ao trabalho de Maria Rita Casagrande e de todas as nossas autoras, exigimos o mesmo respeito que dispensamos a outros veículos. Sempre estaremos abertas ao diálogo e a parcerias para com aqueles que saibam valorizar nosso conteúdo e nossos esforços com justiça e ética.
Acompanhe nossas atividades, participe de nossas discussões e escreva com a gente.
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