por Bia Cardoso
De 19 a 27 de julho acontecerá em Brasília/DF o VI Latinidades – Festival da Mulher Afro-Latina-Americana e Caribenha. Um dos principais eventos da cultura negra, com foco nas mulheres, do país. A inscrição pode ser feita pela internet gratuitamente e permite acesso a palestras, debates e oficinas.
Esse ano, a programação inclui debates sobre: políticas públicas para a cultura negra, empreendedorismo e economia criativa, gastronomia, o poder feminino nas matrizes africanas, literatura, capoeira, entre outros temas. Além de exposições fotográficas e apresentações musicais.
O Festival é realizado desde 2008 e objetiva relembrar e resgatar a história negra considerando demandas específicas: a organização social e política do povo negro, os rituais religiosos, a contribuição científica, o saber popular e, no caso da mulher negra, o desenvolvimento do feminismo negro, tão bem formulado por ativistas como Sueli Carneiro, Epsy Campel, Matilde Ribeiro, Luiza Bairros, Benedita da Silva, Lélia Gonzalez e tantas mestras populares, como Carolina de Jesus, Cora Coralina, mulheres quilombolas, de santo, griots, entre outras.
O tema central de 2013 é: Arte e Cultura Negra – memória afrodescendente e políticas públicas. Importante lembrar que esse ano, a Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial – SEPPIR completou 10 anos de sua criação, com a proposta de institucionalizar e promover a igualdade racial no Brasil.
Entre as principais ações realizadas em uma década estão: a Lei 10.639/2003, que estabelece o ensino da História da África e da Cultura afro-brasileira nos sistemas de ensino; a Política Nacional de Saúde Integral da População Negra (2006); o Estatuto da Igualdade Racial (Lei 12.288/2010) e a Lei nº 12.711/2012, a “Lei das Cotas”. Porém, sabemos que avançamos pouco no combate do racismo estrutural, que mata milhares de jovens negros por ano, que invisibiliza e coloca no fim da pirâmide social as mulheres negras.
Estive presente em duas edições do Festival Latinidades (2011 e 2012) e pude participar de ótimos debates sobre a cultura negra, diversidade sexual, educação e a representatividade da mulher negra na sociedade. Tive contato com pessoas como Sueli Carneiro e Kabengele Munanga. É uma oportunidade única de mergulhar durante uma semana na discussão das questões raciais, um espaço raro de ver em Brasília. Uma cidade tão cheia de contrastes que tem por padrão manter a população negra afastada da Esplanada dos Ministérios.
Ao longo de nossa história muitas mulheres negras contribuíram para a aquisição de direitos importantes para a população negra, direitos que se estendem não só as negras, mas a homens e crianças, pretas ou não. Como a história do Brasil não é contada por mulheres, não é surpresa que as negras brasileiras venham percorrendo uma trajetória desconhecida e invisibilizada por conta de sua cor, sexo, classe social, gênero, orientação sexual. É uma trajetória que tem origem na escravidão, na violência, na opressão, no estupro. Porém, apesar de todas as violações, as mulheres negras reagem todos os dias e lutam por mais justiça e igualdade.
Os seis anos do Festival Latinidades são uma grande conquista para as mulheres negras brasileiras. Se tiver oportunidade, não deixe de participar.