Os 16 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência contra as Mulheres, que é uma mobilização anual, praticada simultaneamente por diversos atores da sociedade civil e poder público engajados nesse enfrentamento. Desde sua primeira edição, em 1991, teve adesão de cerca de 160 países. Mundialmente, a Campanha se inicia em 25 de novembro, Dia Internacional da Não Violência contra a Mulher, e vai até 10 de dezembro, o Dia Internacional dos Direitos Humanos, passando pelo 6 de dezembro, que é o Dia Nacional de Mobilização dos Homens pelo Fim da Violência contra as Mulheres. O caso é que nós, mulheres negras, não somos lembradas nem na figurinha que ilustra o evento e nós, Blogueiras Negras, queremos uma participação efetiva de pretas neste momento porque é sobre nós, é sobre nos salvarmos.
Sabemos que a intersecção entre racismo e sexismo está muito presente na história brasileira de modo a trucidar a vida das mulheres: essa intersecção faz com que as mulheres negras sejam maioria entre as vítimas de violência doméstica (59,4%, segundo consta no Raseam 2014, o Relatório Anual Socioeconômico da Mulher, editado pela Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência).
Vamos mais do que lembrar que somos também vítimas de violência doméstica, queremos listar as mulheres negras mortas pela violência doméstica e não só coloca-las como números, queremos 16 dias para contar as suas histórias. Mostrar como a mídia retratou essas mortes e enfatizar que essas estórias importam e que o nosso genocídio também é real.
Usaremos a já criada campanha #GritePorElas que damos início em outubro desse ano para falar de como a violência tem afetado a nós, mulheres negras.
Convidamos os coletivos de mulheres negras, a sociedade inteira e cada mulher negra individualmente a participar da campanha, escrevendo um pequeno texto com a história de alguma mulher (conhecida ou não) que foi vítima de violência doméstica. Denunciando sempre o machismo e a misoginia dos casos, dando destaque a vida dessas mulheres de maneira a denunciar o feminicídio a que estamos submetidas.
Precisamos juntas:
- escolher a história de uma mulher negra vítima de violência
- escrever um pequeno texto sobre o caso, dando ênfase na vida daquela mulher, naquela história
- descrever no texto sugestões de como combater as violências contra as mulheres
- Usar a hashtag #16DiasDeAtivismo #GritePorElas #NenhumaAMenos
- Enviar para [email protected]
Vivas ou mortas, Jamais escravizadas!
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Quando somem com nossas vidas
Viviany Crisley desapareceu no dia 21 de outubro, quando saiu para se distrair em João Pessoa, no Bar Bebericos. Foi vista pelas câmeras do estabelecimento acompanhada de três rapazes que até hoje não sabíamos de quem se tratava.
Seu corpo, encontrado carbonizado numa mata da região metropolitana (em Bayeux) no último dia 7 de novembro é prova de mais um feminicídio. Exatamente ontem – data que marca o início dos 16 dias de ativismo pelo fim da violência contra as mulheres – os suspeitos de terem assassinado Viviany foram presos no Rio de Janeiro; a motivação do assassinato: “ela gritava muito pedindo para voltar pra casa”.
Viviany era mulher negra, trabalhadora, mãe, periférica e o motivo do seu assassinato é a misoginia – o ódio às mulheres.
O nordeste do Brasil tem os mais altos índices de assassinato de mulheres negras. Entretanto, a vítima, geralmente, é silenciada e culpabilizada. Quando ela faz parte de grupos marginalizados, a negligência dos órgãos públicos, que deveriam assegurar sua integridade, é gritante. Não queremos mais morrer, o genocídio não pode ser nossa regra.
Por Viviany e por todas as outras #GritePorElas #16DiasDeAtivismo #NenhumaAMenos