Por Larissa Santiago para o Blogueiras Negras
No texto anterior, esta autora tentou enumerar didaticamente alguns dos motivos pelos quais as relações inter e intra raciais são tão estigmatizadas. Conseguimos juntos (através dos comentários e de outros textos que citarei aqui) mostrar que esse é um assunto com muito pano pra manga e que tem implicações profundas na cristalização e naturalização do racismo.
Começando pela história, é importante lembrar que as raízes da escravidão sempre cresceram de maneira forte na dinâmica social de um país de regime colonial como o Brasil. Como bem lembrou Mariana Santos de Assis:
“Todos conhecem as condições de existência dos negros escravizados no ocidente, porém quando pensamos em termos de construção da masculinidade a coisa toma proporções ainda mais assustadoras e cruéis. O homem africano vivia, em sua maioria, em sociedades patriarcais eram líderes e chefes de família. Nas colônias, igualmente patriarcais, esses mesmos homens se tornaram escravos e eram inferiores a qualquer mulher branca”
Ser homem negro aquela época era ser inclusive pior do que ser uma mulher negra! Esse sentimento que permeou todos os 3 séculos de escravidão não conseguiu desaparecer como num passe de mágica. Aliás, a magia está em poder escapar desse esteriótipo de inferioridade se juntando aos que lhe são superiores: nesse caso, a branquitude normativa.
Lembremos também que à época, o governo e suas instituições incentivavam o casamento entre negros para a diminuição da balburdia e agitação social que beiravam os oitocentos e assim, toda essa conjuntura resulta numa sistemática negação – mesmo que “inconsciente” – da própria negritude. Se ser branco é ter acesso a direitos como herança, terras, educação (lembrem-se que os filhos mestiços bastardos iam pra fora do país estudar, caso assim o Senhor quisesse), então o ideal é que eu me negue e me torne branco. Casar, relacionar-se com mulheres brancas significava (ou significa?) alcançar um status, se diferenciar dos seus, ao mesmo tempo em que ser o homem de uma mulher preta traz consigo essa obrigação, esse cumprimento do dever de reproduzir mais pretos para a manutenção do sistema colonial.
É claro que nem tudo é tão simples como esta autora coloca, nem muito menos tão verdade que não possa ser questionado, mas essa negação é tão perceptível quanto o número de jogadores negros que casam com mulheres brancas. Ou ainda, do espanto das pessoas ao verem um casal bi racial juntos num passeio pelo litoral de Pernambuco. Repetindo o que disse o querido poeta e prosador Lande Onawale:
É no campo da afetividade e da sexualidade que o racismo consegue mais vitórias sobre os negros (…).
Esperando provocar reflexões e comentários construtivos, a autora.
Larissa é baiana e escreve no Mundovão e no Afrodelia.
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