E ORI é a palavra mais oculta porque é o homem, sou EU. Porque é o indivíduo, a identidade. A identidade individual, coletiva, política, histórica. ORI é o novo nome da História do Brasil. ORI talvez seja o novo nome do Brasil. Este nome criado por nós, a grande massa de oprimidos, repri- midos. Reprimidos antes, depois oprimi- dos, torturados. Transgressores.
Beatriz Nascimento
Saudações
Muitas de nós crescemos ouvindo e praticando o respeito aos mais velhos, um dos princípios mais fundamentais das religiões de matriz africana, onde o pedido de bênção aos que vieram antes precede nossas ações e palavras. É costume também em nossos rituais e festas, que nos posicionarmos em roda para agradecer, dançar e louvar.
A pessoa mais velha fica ao lado daquela que é mais nova, em respeito que sinaliza o elo inquebrável que transforma a memória em ferramenta de construção da nossa autonomia. Na pessoa de Mãe Ana de Xangô, sucessora de Mãe Stella de Oxóssi no Terreiro Ilê Axé Opô Afonjá, saudamos assim as mães, nossas mães, aquelas que renascidas se dedicam a fazer nascer o mundo através de cada uma de nós.
A lista
A lista que a gente ama fazer começou ainda em 2013, com grande repercussão em toda a rede. E o que a gente disse desde a primeira vez ainda está valendo, « é como se cada nome representasse na verdade outras 50 mulheres. ». Em 2014, a construção foi feita à muitas mãos. Em 2015 a tarefa foi árdua mas prazerosa e recompensadora como sempre.
No ano seguinte, dedicamos nossas homenagens a presente Luiza Bairros, que ano senhoras. Em 2017 fizemos a nossa lista e nos encontramos no Latinidades, com muito amor. Obrigada Vilma Reis, foi inesquecível. Em 2018 falamos sobre os projetos de civilização das mulheres negras.
No ano passado, mantendo nosso jeitinho de fazer que vocês já conhecem, sem nos preocuparmos em ranquear as mulheres aqui celebradas ou fazer nossas escolhas a partir de números de visualizações e até mesmo por sua presença online, decidimos deixar um gostinho de quero mais em nossas postagens de final de ano, quando as #25WebNegras costumam ser publicadas.
A novidade dessa vez é o seu tema e a data de publicação, que não poderia ser outro que não hoje. Nesta edição queremos celebrar as mulheres negras que estão na linha de frente da luta Contra o Racismo Religioso.
E tem mais. Convidamos algumas mulheres para construir essa lista com a gente, tendo como ponto de partida a constatação de que nossas redes são como teias que se espraiam em diversos tempos, territórios e nações.
Assim, agradecemos pelo trabalho e empenho em ampliar nossos olhares diante da complexidade que é ser uma mulher negra que professa e respira a vida nos terreiros em todo o país.
Motumbá Thiane Neves Barros, « afro-amazônica, paraense, afrorreligiosa » e doutoranda no Programa de Pós-Graduação Comunicação e Cultura Contemporâneas da Universidade Federal da Bahia e autora, além de ter participafo de nossa equipe de Coordenação.
Ahonukaka Vodunsi Patrícia de Obaluayê, filha de Mãe Kabeca de Xangô da Casa Fanti Ashanti no bairro do Anil em São Luís.
E a tantas outras mulheres e axé que contribuiram direta ou indiretamente para que conhecêssemos as matriarcas, as que guardam o segredo e o sagrado. As que conversam e preservam a memória da cultura de matriz africana no Brasil. Modupè!
2019 de fé e luta
No ano passado, também falando sobre o Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa, dissemos como « é o discurso que mata e a violência que fere em toda a sua institucionalidade nos âmbitos público e no privado, nas leis e nas conversas entre vizinhos » e têm como alvo nossa religião. Os números do ódio continuam alarmantes. Não há surpresas.
Mas a resistência teve um grande capítulo, e resposta às declarações racistas da organização internacional cristã Good Books for All Ships (GBA Ships) e a ONG Operação Mobilização (OM) que vieram no navio Logos Hope que abriga a maior livraria flutuante do mundo até a cidade de Salvador fazendo « pedidos de oração » uma vez que a cidade seria « conhecida pela crença das pessoas em espíritos e demônios ».
A voz dos tambores ecoou por todo o país, através de um ebó coletivo convocando a ampla comunidade pela Frente Makota Valdina contra o Racismo Religioso num « ato político que representa a determinação de lutar pela vida e dignidade do povo negro e das religiões de matriz africana neste país, numa referência à nossa capacidade de união e força, guiada pela Ancestralidade. »
« O demônio quem traz são vocês! A Bahia é de todos os Santos, encantos e Orisás! »
O ano de 2019 também bateu recorde de Casas de Axé depredadas, Filhos de Santo agredidos e lugares sagrados demonizados: iniciamos o ano com a Pedra de Xangô recebendo quilos de sal e encerramos o ano com casa de Recife e Brasília tendo seus santuários depredados e com Irôko pegando fogo.
E no intuito de não esquecer e sobretudo compartilhar com as nossas uma nova possibilidade e um novo lugar de resistência no Axé, escrevemos para dizer que sobreviveremos! Que as crianças continuam sendo iniciadas e que nossos Ilês continuam sendo preparados para receber mais dos nossos.
A nossa lista #25WebNegras então, se dedica a fazer conhecidas nossas lideranças no Axé, nossas Yàs, Mametos e Nochês, mulheres que mantêm os costumes e ideias da nossa cultura, para além da religião; as sábias das folhas e donas dos conhecimentos matemáticos de Ifá. Essa lista é também uma homenagem às nossas mais velhas que hoje são Ancestrais e que compartem conosco seus conhecimentos desde o Orun. A elas, nosso compromisso de continuar!
À todas as mães, pedimos a bença!
#25WebNegras
01. Maria Genoveva Bonfim
Maria Genoveva Bonfim é um dos nomes fundamentais de sua nação, tendo assumido o comando da Nzo fundada por seu sacerdote no final da primeira década do século passado. Sua casa deu origem a algumas das mais renomadas casas do país como o Terreiro Tumba Junçara, o Terreiro Bate Folha, o Terreiro Tanuri Junçara, Terreiro Awziidi Junçara.
Sua casa, o Unzó Tombeci, em Salvador/Bahia, ficou conhecida durante seu reinado como “Cá te espero” em referência a uma placa colocada na porta da casa, advertindo as autoridades policiais sobre sua disposição de enfrentar a perseguição religiosa. Uma das estórias que permaneceram na tradição oral da casa foi o fato de que o delegado Pedro Gordilho, que ameaçava invadir a casa, foi tomado por Nkossi e nada pode fazer contra a sacerdotisa.
Foto: Reprodução Facebook
02. Mãe Anastácia
A trajetória de Anastácia Lúcia dos Santos (1869 – 1971) é de grande importância para o povo de santo. Nascida em Codó, foi iniciada por Manoel Teu Santo e fundou o Terreiro da Turquia em junho em 1889, homenageando a família do Almirante Balão. A casa permanece em atividade, no Maranhão, tendo comemorado 130 anos em 2019 como uma das mais antigas em atividade no estado. Seu legado foi estudado por Regina Célia de Lima e Silva em Da escrita à oralidade na encantaria do Terreiro da Turquia.
Por alguns anos a casa foi orientada por uma tríade de sacerdotes: Pai Euclides Menezes, Pai Wender Pinheiro e a Vodunsi Anamineles Menezes.
Foto: Reprodução Facebook, Mãe Anastácia com o Pai de Santo Satiro Ferreira.
03. Mãe Xagui
Em 2016 Mãe Xagui completou 80 anos de iniciada, tendo assumido sua casa como matriarca em 1977. Celebrar essa sacerdotisa é reverenciar todos aqueles que lutaram e lutam ainda hoje para preservar as tradições afrobrasileiras num cenário historicamente adverso, pois sua trajetória espiritual se confunde com aquela das práticas Congo-Angola na Bahia e em todo país, inclusive com a de Mãe Maria Neném, fundadora do Terreiro Tumbeci, sediado no bairro de Pero Vaz, em Salvador. Ela é considerada como a filha mais velha de Oxoguiã no seu estado, orixá que alguns traduzem com seu inquice Lembá e ao vodum Lissá.
Foto: Reprodução Facebook
04. Mãe Meninazinha de Oxum
Mãe Meninazinha de Oxum foi indicada como herdeira de suas mais velhas ainda no ventre de sua mãe, Mariazinha de Nanã, no Rio de Janeiro. Em 2015 lançou um livro de memórias intitulado “História de uma Meninazinha – O legado ancestral” onde conta sobre a fundação do Ilê Omolu Oxum, falando inclusive sobre a necessidade de pedir autorização às autoridades policiais para cultuar seu sagrado em 1968: “Bambala diz que hoje as coisas estão melhores em relação a isso, mas veja que isso aconteceu, a nossa autorização, em 1968 e não foi há tanto tempo assim.”
Em 1987 sua casa abrigou o 1º Encontro Regional da Tradição dos Orixás, em 2012 o Encontro de Saúde e Promoção dos Direitos Humanos. No ano seguinte abrigou o Seminário Nacional Ancestralidade, Memória e Patrimônio Afro-brasileiro. Denuncia com veemência o ataque às religiões de matriz africana com seu testemunho sobre a perseguição policial e o fundamentalismo religioso.
Foto: Reprodução Facebook
05. Mãe Ana de Xangô
Ana Verônica Bispo dos Santos ou Mãe Ana de Xangô foi iniciada aos 23 anos por Mãe Stella de Oxóssi. Foi anunciada pelo babalorixá Balbino Daniel de Paula, o Obaràyí, como a sexta matriarca do Terreiro Ilê Axé Opô Afonjá, com grande repercussão na imprensa no final de 2019. É pedagoga e leciona em uma escola particular em Salvador.
Em suas primeiras entrevistas foi considerada a “mãe do silêncio” por sua posição assertiva em tratar os assuntos internos da casa como discussões que devem ser feitas apenas entre os filhos da casa: “Nem tudo se divulga”.
Mãe Ana de Xangô resgata e confirma os fundamentos do povo de santo da Bahia, no entendimento de que nossa ancestralidade age independente dos nossos quereres e saberes. Que sua liderança seja de discernimento e respeito!
Foto: Reprodução Facebook
06. Vó Luiza de Iemanjá
Vó Luiza de Iemanjá é a mais velha das sacerdotisas de religiões de matriz africana no país e guarda em sua memória e trajetória toda resistência necessária que tivemos de construir historicamente para cultuar nossos sagrados e encantos. Nascida numa sexta-feira santa, neta de africanos escravizados, lembra das histórias contadas por seu avô paterno, inclusive de como foi comercializado num porto em Moçambique. Foi iniciada por Manuel Fanho, responsável por sua formação como sacerdotisa em 1927 após ter sido Mãe Pequena na mesma casa.
Recentemente sua história foi documentada através de um depoimento gravado na Tenda Vovó Caximbi em Camboriú, Santa Catarina, para Umbanda: Vó Luiza, o filme. Para a sacerdotisa centenária o racismo persiste: “O que me chama a atenção é que a libertação dos escravos pela princesa Isabel deveria ter trazido a união, mas a discriminação continuou. Ainda hoje muitos dizem “Deus o livre, um negro casar com uma branca”.
Foto: Reprodução Facebook
07. Mãe Marcia de Obaluaye
Mãe Marcia de Obaluaye iniciou sua jornada em 1988 com uma relativa resistência sobre o caminho a ser seguido. E assim nasceria o Ilê Asé Oluayiê Ni Oyá que acaba de completar 30 anos, no Rio de Janeiro. Foi porém um episódio de racismo religioso e sua com uma de suas filhas de santo que projetou seu nome para muitos em todo o país: “o diabo está em quem chama”. Mas a estória não parou por aqui. Algum tempo depois, sua projeção ganharia ainda mais vigor por conta de seu filho, o comediante Yuri Marçal. Hoje é possível através de suas redes acompanhar o cotidiano dessa sacerdotisa e fã fervorosa de Alcione para quem “a fé vem do coração, por isso não se ensina”.
Foto: Reprodução Facebook
08. Mãe Raidalva
Raidalva Silva Souza dos Santos ou Mãe Raidalva é a sacerdotisa que reina no Ilê Axé Oyá Tola, em Candeias. Iniciada há 70 anos pelo babalorixá Raimundo da Cruz, festa que comemora em setembro deste ano. Seu sacerdócio abrange não apenas a sua casa de axé mas também a Associação dos Amigos do Ilê Axé Oyá Tolá que defende valores como saúde e educação junto à comunidade onde está inserida. A benção Yá Ijitundê!
As “Memórias de Mãe Raidalva” documenta a história dessa importante militante da luta dos povos de santo e de mulheres negras da Bahia. Vida longa, Minha Mãe.
Foto: Reprodução Facebook
09. Equede Sinhá
Gersonice Azevedo Brandão nasceu no ano de 1945 dentro do Ilê Axé Iyá Nassô Oká ou terreiro da Casa Branca, em Salvador, considerada o terreiro mais antigo do país, fundado em 1830 e atualmente sob os cuidados de Pai Air José, depois da morte de Mãe Tatá Oxum Tomilá, no ano passado. Alli, Gersonice se tornou a Equede Sinhá, cujas memórias se confundem com a história de sua casa e também do Brasil, tendo sido contadas na autobiografia “Equede – A Mãe de Todos”. Para essa mãe, o caminho contra a intolerância religiosa é a educação e o respeito. Porém a luta se faz necessária: “A gente não pode mais deixar que isso aconteça. Acho que está na hora de nós estarmos juntos e lutarmos pela mesma causa”.
Foto: Reprodução Facebook
10. Mãe Jaciara de Oxum
Mãe Jaciara de Oxum, nome pelo qual é reconhecida Jaciara Ribeiro dos Santos, é a sucessora no Ilê Axé Abassa de Ogum em Salvador. Este é um nome fundamental no combate ao racismo religioso no Brasil, uma vez que o Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa foi instituído em memória do falecimento de sua mãe biológica, Mãe Gilda, morte essa motivada pelo ódio, tendo sua imagem atacada pela Folha Universal do Reino de Deus, com a matéria ‘Macumbeiros charlatões lesam o bolso e a vida de clientes’.
Apesar de a data trazer muita dor para a sacerdotisa, ela acredita que “a luta é sempre válida quando a gente acredita no amor”, Mãe Jaci segue incansável sempre com a sabedoria e os segredos de seu orixá: ““Sempre usei minha força de mulher negra oprimida e de Oxum, que, sendo da água, se tiver uma pedra no caminho, bate mas contorna.”
Sua benção, Mãe Jaci!
Foto: Reprodução Facebook
11. Yabasse Vera Baroni
Vera Regina Paula Baroni nasceu no Rio de Janeiro em 1945. Como muitas mulheres negras, procurou nos terreiros a fortaleza para compreender seu lugar político de mulher negra feminista e assim foi iniciada no segredo e se tornou Mãe da Cozinha do terreiro Ilê Obá Aganju Okaloya, conhecido como Terreiro de Mãe Amara, na periferia do Recife.
Ao construir em Pernambuco o Uiala Mukaji, espaço para mulheres negras, descobriu que muitas eram de terreiro. Mais tarde as mulheres desse grupo decidiram fortalecer a Rede de Mulheres de Terreiro, agora com braços na Bahia, Paraíba e Ceará. Em 2018 aconteceu o 12º Encontro das Mulheres de Terreiro na cidade de Recife ocasião em que a Yabassê declarou que “o futuro no Brasil nos parece preocupante. E nós especialmente das comunidades de terreiro, precisamos nos acautelar”.
Foto: Reprodução Facebook
12. Makota Valdina
Valdina de Oliveira Pinto ou Makota Valdina nasceu em Salvador, no ano de 1943. Foi iniciada no Terreiro Tanuri Junsara em 1975, onde foi confirmada para ocupar o cargo que exerceria no Terreiro Nzo Onimboyá. Publicou “Meu caminhar, meu viver”, um livro de memórias e foi a protagonista do documentário “Makota Valdina – Um jeito Negro de Ser e Viver”
Um dos grandes nomes no combate ao racismo religioso e uma fonte inesgotável de filosofia africana, a Makota Inspirou a construção da Frente Nacional Makota Valdina que “se constitui como um fórum amplo de defesa das Religiões de Matriz Africana formada por redes, coletivos e organizações.” que se colocam em luta contra o racismo religioso e ódio.
A mulher de caminhar lento e palavras assertivas nos deixou em 2019, mas seu legado permanecerá para o povo de Axé da Bahia e do Brasil.
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13. Onontochê Sandra de Xadantã
A Onontochê Sandra de Xadantã foi iniciada em 1984 pelo paraense radicado em Diadema Toy Vodunnon Francelino de Shapannan. No ano passado foi agraciada com o título de Mestre da Cultura Popular. Em sua casa, o Kwe Mina Odan Axé Da-Hô, em São Paulo, são preservadas o Tambor de Crioula e o Bumba-boi do Maranhão.
Sua importância se dá sobretudo pela dedicação , delicadeza e apego às tradições com um olhar no futuro do Tambor de Mina que tem difundido no Sudeste, com o culto a voduns daomeanos e encantados, dando seguimento ao legado de seu sacerdote, reconhecido em todo Brasil por sua atuação política em favor das tradições de matriz africana.
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14 . Gaiaku Luiza
Gaiaku Luiza Mahin, como foi conhecida Luiza Franquelina da Rocha, fundou um terreiro de tradição jeje-mahi na Bahia em 1952. O Hunkpame Ayíonó Hùntóloji. Sua trajetória foi contada no documentário Gaiaku Luiza: força e magia dis voduns.
Nasceu em Cachoeira em 1909, sendo iniciada tanto no Ketu quanto no Jeje-Mahi por sua tradição familiar. Viveu durante uma época em que a abolição ainda era recente e as tradições religiosas africanas foram intensamente perseguidas. Faleceu em 2005 indicando como sua sucessora sua sobrinha carnal Gaiakú Regina Avimajesì.
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15. Vovó Cici
Vovó Cici como é chamada a Ebomi Cici ou Nanci de Souza Silva nasceu no Rio de Janeiro em 1939. É uma das maiores griôs do Brasil, tendo morado por mais de 30 anos no Ilê Axé Opô Aganju, em Salvador e colaborado com Pierre Verger no catálogo de mais de 11 mil fotografias que reúnem imagens excepcionais. É considerada patrimônio vivo da fundação do Fatumbi.
Para saber um pouco mais sobre essa figura fundamental no candomblé brasileiro, basta ficar atenta à sua agenda que cobre o Brasil todo com oficinas de contação de histórias e dança.
Foto: Reprodução Facebook
16. Mãe Beth de Oxum
Mãe Beth de Oxum ou Maria Elizabeth Santiago de Oliveira nasceu em Olinda em 1964. É a matriarca do Ilê Axé Oxum Karê, que organiza uma série de atividades como Coco de Umbigada. Tem um vasto currículo como percussionista e foi uma das primeiras a incluir mulheres no Afoxé Filhos de Oxum, onde foi presidente. Também presidiu o Afoxé Alafin Oyó. É grande entusiasta da cultura e das novas tecnologias como ferramentas de construção de indivíduos autônomos. Foi ela quem esteve à frente do game Contos de Ifá, um game educacional criado dentro de seu terreiro, premiado pelo mundo afora.
Apesar das perseguições ao seu terreiro e trabalho político, Mãe Beth continua carregando a bandeira da liberdade e da luta radical pelos direitos dos povos negros e de terreiro. “Tá na hora do pau comer”, ela grita.
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17. Equede Cristiele França
Cristiele França dos Santos nasceu em 1994 em Salvador, sendo filiada ao Ilê Axé Oya Mesi, cuja matriarca é Mãe Carmem. Foi iniciada aos 9 anos de idade sendo consagrada como Ekedi. É radialista, trabalhando na Rádio Metrópole de Salvador, com um programa voltado para as tradições de matriz africana. Também tem um canal no youtube, com a mesma temática “para ajudar a quebrar paradigmas e preconceitos sobre o legado ancestral.”
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18. Egbonmy Conceição de Ogum
Falar sobre Egbonmy Conceição de Ogum ou Maria Conceição Casemiro dos Reis, paulistana e iniciada no Ilê Asé t’y Oya e Oxossi em 1973 pela matriarca Vera de Ossanha, é uma oportunidade para discutir a imprensa feita pelo povo de santo. Tem a coluna Rouxinol no Conexão Afro e escreveu no Jornal Umbanda e Candomblé por 10 anos, além dos periódicos A voz do Candomblé, Jornal Odara entre outros.
Integra a Coordenação Executiva do Intecab São Paulo, articulado com o Instituto Nacional da Tradição Afrobrasileira, tendo participado da construção do Informativo Siwaju, palavra que significa “cavaleiro que vai à frente”.
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19. Ìyá Sandrali de Òsún
Sandrali de Campos Bueno ou Ìyá Sandrali de Òsún é a matriarca do Ilê Àsé Orisá Yemanjá em Pelotas, praticante do Batuque há meio século. Também é “psicóloga, especialista em Criminologia, servidora pública e atualmente Secretária Executiva do Conselho do Povo de Terreiro do Estado do Rio Grande do Sul.”, tendo sido candidata a deputada estadual, documentada em seu canal no youtube.
Denuncia o descaso estado para com a população negra, enfatizando que “o estado do Rio Grande do Sul é o que mais se autodeclara de matriz africana, isso é significativo e tem que repercutir em termos de construção de políticas públicas.” ao mesmo tempo em que “é extremamente racista e machista, e não reconhece essa autodeclaração” que deveria implicar no projeto de políticas públicas.
Foto: Reprodução Facebook
20. Ekedji Joice Ty Sangó
A paulistana Ekedji Joice Ty Sangó como é chamada Joice Aguiar nasceu em 1990, é cantora e compositora. Explora as redes sociais como o youtube e o instagram para difundir cânticos sagrados, discutir e promover as religiões de matriz africana, sempre louvando nosso rei. Kaô Kabiecile!
Foto: Reprodução Facebook
21. Doné Conceição de Lissá
Maria da Conceição Cotta Baptista ou Doné Conceição de Lissá integra o movimento negro e estudou Direito e Psicologia. É a matriarca do Kwe Cejá Gbé, terreiro de tradição Jeje-Mahi localizado em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense e que foi criminosamente incendiado em 2014. Os ataques perduraram por anos desde o assédio e invasões até tiros disparados contra o terreiro e a casa da sacerdotisa.
Todas as ameaças foram registradas como intolerância religiosa. “Eu sempre fui muito firme com relação a essa questão. Soube de alguns casos que queriam investigar como injúria ou difamação, qualquer outro crime de menor potencial ofensivo. Mas eu fui muito firme, mesmo com relação aos tiros que a situação foi registrada como tentativa de homicídio, mesmo.”
No dia 19 de setembro, Mãe Conceição recebeu uma ligação da Defensoria Pública pedindo a ela o comparecimento na sede para dar prosseguimento às investigações. A religiosa disse que há interesse em manter a denúncia, mas que efetivamente não tem notícias sobre as investigações. Mãe Conceição afirma que ela tem todo interesse em falar sobre o assunto, mesmo que seja muito difícil. Nas palavras dela: “Eu vou falar sim, mesmo que com o coração sangrando.”
Foto: Reprodução Facebook
22. Mãe Flavia Pinto
Flávia da Silva Pinto ou Mãe Flavia Pinto é uma das grandes lideranças contra o racismo religioso, nascida no Rio de Janeiro. É socióloga, ativista pelos direitos humanos, escritora e matriarca da Centro Espírita Casa do Perdão em Campo Grande, que tem mais de 20 anos de trabalhos dedicados à Umbanda. Foi candidata ao cargo de Deputada Federal nas eleições de 2018.
“Constitucionalmente o país é laico, mas faltam condições para que as diferentes correntes religiosas possam conviver em harmonia. Além disso, alguns grupos prevalecem inclusive no poder.”, denuncia a sacerdotisa ao refletir sobre a escravidão e a mentalidade colonial de parte da sociedade brasileira como causa da violência contra as religiões de matriz africana, entre elas a umbanda.
Foto: Reprodução Facebook
23. Mametu Muiandê
Uma das mais respeitadas mulheres de Axé de Minas Gerais, Mametu Muiandê como é conhecida Efigênia Maria da Conceição, é a matriarca do Quilombo Manzo Ngunzo Kaiango há mais de quarenta anos. Nascida em Ouro Preto em 1947, ela construiu seu terreiro na Zona Leste de Belo Horizonte com muita luta e respeito, tendo iniciado centenas de filhos na nação Angola. Seu trabalho também é referência para a cultura afrobrasileira, através do samba e da capoeira, pelo qual recentemente recebeu em 2007 o reconhecimento de sua comunidade como remanescente de Quilombo.
Mametu Muiandê, como uma boa mulher de Matamba, tem compromisso com seu axé e sua comunidade com o Projeto Educacional Kizomba, estruturado principalmente em oficinas, que incluem capoeira, danças, penteados afro, maculelê, samba, uso de folhas medicinais, entre outras atividades baseadas em um saber que une os conhecimentos tradicionais a um processo de combate à intolerância religiosa e racial. Sobre a dedicação ao axé “É um “catar folhas” cotidiano”.
Foto: João Sales, Reprodução Facebook
24. Mãe Kabeca de Xangô
Isabel Mesquita dos Santos reconhecida como Mãe Kabeca de Xangô é a matriarca da Casa Fanti Ashanti, fundada em 1958 por Pai Euclides Menezes, onde são tocados o Tambor de Mina e de Candomblé Jeje-Nagô, localizada no Cruzeiro do Anil, São Luís. Neste mês a sacerdotisa celebrou os 60 anos de vida dedicada ao sagrado, com grande alegria da comunidade.
Uma das tradições que se faz presente nessa casa é o Baião das Princesas,tambor marcado pela grande delicadeza e beleza. No ano passado, o terreiro realizou o primeiro Sarau do Axé, com o objetivo de contribuir para a preservação do conjunto arquitetônico da casa, considerado patrimônio da cultura afrobrasileira.
Foto: Mãe Kabeca com sua primeira bata de tambor, Reprodução Facebook
25. Mãe Beata de Iemanjá
Beatriz Moreira Costa ou Mãe Beata de Iemanjá, nascida no Recôncavo Baiano em 1931, reinou no Ilê Omi Oju Arô, na Baixada Fluminense, Rio de Janeiro. Participou do enfrentamento a diversas questões como a prevenção do câncer de mama e DSTs/HIV/Aids, a violência de gênero e de raça bem como o racismo religioso, tendo sido presidente de honra da Ong Criola.
Publicou em 1997 o livro Caroço de Dendê – a sabedoria dos terreiros e As histórias que minha avó contava em 2005: “Eu enfrento com a palavra. Eu luto com a fé e o amor”, declarou.
Mãe Beata foi pro Orum em maio de 2017, mas nos deixou em vídeo os ensinamentos mais lindos que o povo de axé pode ter. Obrigada pra sempre, Mãe das nossas cabeças!
Foto: Reprodução Facebook
Até o ano que vem!
referências
RATTS, Alex.Eu sou atlântica sobre a trajetória de vida de Beatriz Nascimento. São Paulo: Instituto Kuanza; Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2006.