Por Letícia Maria para as Blogueiras Negras
Algumas vezes, quando visito meus pais nos finais de semana, se volto de trem faço algumas observações.
No fim de semana do Dia dos Pais, minha mãe me ligou me convidando para ir até a casa deles no sábado, pois alguns tios iriam jantar lá a noite. Como chovia muito, topei ir de trem, visto que normalmente vou visitá-los em domingos de moto, passo o dia e retorno.
Naquele dia dois pais, voltei de trem, de Novo Hamburgo a Porto Alegre, e reparei vários homens com crianças. Domingo à noite, o trem estava vazio, mas somente no vagão onde eu estava, haviam pelo menos uns 12 homens sozinhos, com crianças. Achei curioso, e percebi que era um domingo dos pais que findara, e esses homens estavam a devolver as suas crianças às mães. Em um primeiro momento, achei bonitinho… depois achei triste. Tenho muitos amigos homens que tem filhos, e realmente fazem um esforço para estarem presentes na vida dos seus pequenos. Assim como conheço alguns (vários) que pagam pensão e não estão nem aí para as crianças.
Como filha de uma família nuclear e tradicional, sei da importância da presença de ambos. Mas senti a tristeza de alguns daqueles pais, muitos deles jovens como eu, que queriam realmente estar com seus filhos por mais tempo e não podem, não pela relação com as mães, mas pela própria vida.
Triste, mas também vi aqueles que estava estampado na cara, que já tinham cumprido sua obrigação paterna, e o expediente estava terminando. Ai eu me pergunto, quantos daqueles pequenos não chegaram por acidente, sem planejamento ou por irresponsabilidade mesmo, daqueles pais? Seria mesquinho culpar alguém, sobretudo da minha posição feminista… Mas estou certa de que a culpa não é das mães.
Mas sim, um dia dos pais que termina na hora de devolver a criança a mãe, é um dia muito triste. Insisto,quando digo que filhos não estão nos meus planos de vida, quando são estes que acabam sofrendo as consequências da irresponsabilidade e do desprezo dos adultos quando há crises em meio as relações.
Outro dia voltando à Porto Alegre de trem, observei essa realidade novamente. Filhos são a maior responsabilidade que alguém pode ter, para que seja banalizada. Você pode escolher uma profissão, mudar de cidade, casar, descasar, virar vegetariano, começar uma dieta e nisso tudo pode se voltar atrás, menos quando há um filho. Por isso, entre tantos outros motivos, é necessário o direito da mulher de decidir. Por mais triste que seja o olhar daquele homem do trem no dia dos pais, vejo o olhar de tantas mulheres a vida inteira, porque não puderam escolher ter ou não aqueles filhos.