Nossa comunidade precisa sempre lembrar da importância e da necessidade de cuidarmos uns dos outros. A nossa coletividade foi o ponto-chave fundamental para chegarmos até aqui como sociedade. O conceito de individualidade é uma criação recente, limitada, arcaica, ocidental e branca! Todos nós dependemos uns dos outros e devemos valorizar essa co-dependência e tornando vivo o conceito da coletividade.
É importante destacar que nós, os povos negros e indígenas, carregamos uma ancestralidade rica e valiosa em nossa história e memória coletiva. Acredito firmemente que uma das nossas maiores heranças ancestrais é a transmissão do conhecimento adquirido ao longo de nossa trajetória. Muitas vezes, realizamos essa transmissão oralmente, sem restrição àqueles que podem aprender. O ditado popular “escute os mais velhos e suas experiências”, presente em nossa cultura, é real e reflete a tradição dos nossos Griots – esses indivíduos, na África Ocidental, têm a vocação de preservar e transmitir as histórias, conhecimentos, canções e mitos de seu povo. A nossa herança cultural é um tesouro que deve ser preservado e valorizado. Muitas dessas culturas têm uma conexão profunda com a natureza, com suas tradições e rituais que foram passados de geração em geração.
Além disso, é importante mencionar a demonização das religiões de matriz africana, que muitas vezes são vistas como cultos ou práticas inferiores. Essa visão é baseada em preconceitos e estereótipos que foram construídos historicamente. As religiões de matriz africana, como o Candomblé e a Umbanda, são expressões de espiritualidade profundamente arraigadas na cultura afro-brasileira, que trazem consigo uma forte conexão com a natureza e as divindades. É fundamental que se reconheça e respeite a diversidade religiosa, assim como a ancestralidade cultural, e que se combata todas as formas de intolerância e preconceito.
Infelizmente, essas comunidades sofreram e ainda sofrem com a colonização e a escravidão, numa tentativa de apagar nossa identidade e cultura. Porém, mesmo diante de tantas adversidades, mantivemos nossa ancestralidade viva, resistindo e lutando por nossos direitos e reconhecimento.
Hoje, é importante que todos nós, como sociedade, nos empenhemos para reparar as injustiças históricas e garantir que essas comunidades sejam respeitadas, valorizadas e impulsionadas em sua diversidade cultural. Devemos reconhecer a importância da nossa ancestralidade, contribuindo para preservá-la e transmiti-la às futuras gerações. Não esqueçamos nunca de cuidar uns dos outros, pois a coletividade é o que nos fez chegar até aqui. É tornar cada vez mais vivo o significado de “ubuntu” eu sou porque nós somos! É fundamental que honremos nossa ancestralidade e reconheçamos a importância de preservar nossas histórias, lutas e ricas tradições.