O dia 20 de novembro é um dia de luta e resistência! O dia reivindicado pelo movimento negro em contraposição à falsa abolição que nos foi relegada em 13 de maio serve não só para lembrarmos a morte de Zumbi, mas também para resgatarmos a luta e a resistência dele e de tantos outros heróis quilombolas que lutaram pela libertação dos escravos no Brasil, como Dandara e Acotirene.
Ao estudarmos a história da escravidão brasileira, é impossível que não nos deparemos com a história dos quilombos. Os próprios Zumbi, Dandara e Acotirene eram lideranças do Quilombo dos Palmares. No entanto, atualmente pouco sabemos ou estudamos sobre as comunidades quilombolas, não sabemos onde estão localizadas, a sua história e nem sequer se elas ainda existem.
Os quilombos surgiram entre os séculos XVI e XIX e se localizavam em todo o país. Eram formados por dezenas ou até milhares de escravizados fugidos, com identidades étnicas diversas já que tinha sido sequestrados de diversos países da África, e tinham uma forma própria de organização, desde a produção de alimentos até a organização militar.
O mais famosos deles foi o Quilombo dos Palmares, do qual a primeira referência documentada é de 1597. Era localizado na antiga Capitania de Pernambuco (Alagoas), uma das mais importantes economicamente à época por conta da produção açucareira, e um local ideal para um esconderijo devido à vasta vegetação.
Pouco se conhece sobre a história das mulheres quilombolas ou até mesmo sobre sua participação nos quilombos e parte dessa dificuldade está relacionada à carência de documentos escritos pelos próprios quilombolas. Dentre os personagens conhecidos no Quilombo dos Palmares, destaca-se Zumbi, mas pouco se fala sobre Acotirene ou Dandara. Acotirene (ou Arotirene), foi uma liderança que se destacou no início da consolidação de Palmares e influenciou lideranças posteriores como Zumbi e Ganga Zumba, enquanto Dandara foi uma guerreira que acompanhou Zumbi após a morte de Ganga Zumba. Como essas guerreiras, com certeza existiam muitas outras mulheres anônimas que não só cumpriam tarefas de cuidado, mas participavam ativamente dos combates negros.
Ainda hoje existem mais de 5000 comunidades que se reivindicam quilombolas no Brasil, que resistiram aos mais de 300 anos de escravidão e resistem até hoje, 127 anos depois, em forte combate contra os grandes proprietários de terra.
Está em trâmite no STF uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) proposta pelo DEM contra o decreto que regulamenta o dispositivo do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT) que garante a propriedade definitiva das terras quilombolas aos seus moradores. Essa ação judicial, combinada com uma série de assassinatos e ameaças de mortes a líderes de diversas comunidades quilombolas, formam uma verdadeira guerra entre os quilombolas e os latifundiários.
Infelizmente, o Governo Federal não tem dado resposta à luta dos movimentos sociais pela demarcação das terras quilombolas. Em muitos anos, são poucas terras regulamentadas. Para nós, fica a lição de que lutar pelo reconhecimento das terras quilombolas é parte da luta pelo reconhecimento da nossa história de luta e resistência, é parte do combate ao genocídio do povo preto, é parte importante da luta de combate ao racismo, e uma tarefa para todos os movimentos sociais.
Seremos sempre um quilombo, um pólo de organização e resistência, na luta pela verdadeira liberdade quilombola!
Imagem de destaque – Movimento Desocupa