Audre Lorde foi uma escritora americana de descendência caribenha, feminista lésbica e ativista na luta pelos direitos humanos. Escreveu romances que abordam temáticas como feminismo e opressão, além de direitos humanos. Sua obra poética foi publicada a partir da década de 60. Os temas mais abordados em sua obra são amor, traição, nascimento, classe social, idade, raça, sexualidade, gênero e saúde, haja vista que veio a falecer devido a um câncer de mama. Sua poesia é um espaço também em que ela se afirma como lésbica e feminista negra.
Lorde desafiou feministas brancas, questionando seu ponto de vista sobre questões raciais, e se tornou uma voz lésbica negra isolada dentro do movimento feminista, apontando as opressões a que as mulheres brancas submetiam as mulheres negras.
Ela se descreve assim: “Eu sou definida como a outra em todos os grupos de que participo. A forasteira, tanto pela força como pela fraqueza.”
Sua poesia é forte e reflete conflitos internos e externos advindos de sua condição de mulher negra em uma sociedade marcada pelo machismo e pelo racismo. Nem dentro do movimento feminista ela tinha apoio, pois apontava as fragilidades desse movimento e a necessidade de se tratar de questões relativas à realidade das mulheres negras, que eram completamente ignoradas. Audre foi uma das precursoras do movimento feminista interseccional.
Seguem alguns poemas traduzidos livremente:
PARA CADA UMA DE VOCÊS
Seja você mesma e aprenda a valorizar
Aquele impetuoso Anjo Negro
Que te eleva num dia
E te põe pra baixo no outro
Protegendo o lugar de onde seu poder emana
Correndo como sangue quente
De onde emana sua dor
Quando estiver com fome
Aprenda a comer
Qualquer coisa que te sustente
Até o amanhecer
Mas não se deixe enganar por detalhes
Apenas porque você os vive
Não deixe sua cabeça negar
Qualquer memória
Nem seus olhos
Nem seu coração
Tudo pode ser usado
Menos o dispensável
(Você precisara se lembrar disso
Quando acusada de destruição)
Mesmo quando forem perigosas, examine o coração das máquinas que você odeia
Antes de descarta-las
E nunca lamente sua falta de poder
A menos que esteja condenada a atenuá-las
Se você não aprender a odiar
Você nunca estará sozinha o suficiente
Para amar facilmente
Nem será corajosa o suficiente,
Embora isso não surja facilmente
Não finja ter crenças convenientes
Mesmo que elas pareçam certas
Você nunca defenderá sua cidade gritando.
Lembre-se de qualquer dor
Que surja do seu sonho
Mas não procure por novos deuses
No mar
Nem em qualquer parte de um arco-íris
Cada vez que amar
Ame profundamente
Como se fosse para sempre
Apenas o nada é eterno.
Fale com orgulho com suas crianças
Sempre que encontra-las
Diga-lhes que você é descendente de escravos
E que sua mãe foi uma princesa na escuridão.
JÁ
Poder da mulher
É
Poder Negro
É
Poder Humano
Sempre sinto meu coração bater
Enquanto meus olhos se abrem
Enquanto minhas mãos se movem
Enquanto minha boca fala
Eu SOU
Você É
Pronto.
QUEM DISSE QUE SERIA FÁCIL?
A árvore da raiva possui tantas raízes
Que os galhos despedaçam
Antes que se sustentem.
Sentadas em Nedicks
As mulheres se agrupam antes de marchar
Conversando sobre as garotas problemáticas
Que são contratadas para libertá-las.
Uma balconista quase branca
Passa e atende os irmãos primeiro.
E as mulheres não notam nem rejeitam
Os pequenos prazeres de sua escravidão.
Mas eu, que sou limitada pelo espelho,
Assim como pela minha cama
Vejo questões de cor e gênero.
E sento aqui me perguntando
Quem vai sobreviver a todas
Essas Libertações.
Referências: http://www.poetryfoundation.org/poem/240144
Imagem de destaque: Audre Lorde, reprodução web