Não se cala uma mulher
com máscaras, nem de ferro, nem de flandres.
Sua verdade é lâmina afiada,
rompe todas as mordaças.
Não se cala uma mulher
com açoites, chicotes.
Sua indignação é veneno contra o feitor
bálsamo na carne dilacerada.
Não se cala uma mulher
com mãos e gritos de homens prepotentes.
Sua palavra é lei, constituição
que denuncia e há de punir.
Não se cala uma mulher
com golpes de botas, pau de arara ou palmatória.
Sua letra é fogo,
se inscreve na memória de todas nós.
Não se cala uma mulher
com a faca fria da indiferença.
Sua presença é fortaleza
reinventada a cada geração.
Não se cala uma mulher
Com voz de mando em ilegítimos tribunais.
Somos muitas e de cabeça erguida
permaneceremos em desafio.
Não se cala uma mulher
com balas, nem de chumbo nem de prata.
Seu silêncio verte-se em fúria, ventania
converte-se em poderosas tempestades.
Não se cala, uma mulher!
(do livro Crônicas-memórias, no prelo)