“Aquele que aprende, ensina.”
(Provérbio Africano)
O continente africano é composto por 54 países é lá que inicia a vida humana, a cultura desse continente é muito diversa, com povos de diferentes costumes, logo quando eu citar África no texto é longe de ser uma romantizacão ou a intenção de transformá-la em uma unidade, porém muito do que temos desses países são ensinamentos que chegaram até nós através da oralidade dos nossos griots, e ao dizer África é porque eu sei que esse costume ou ensinamento era de lá, mas não sei exatamente de qual povo até porque a colonização nos fez perder muito essa referência.
Vir forçado de outro continente foi aos poucos nos desligando das nossas origens, mesmo que tenhamos entre algumas famílias* alguns costumes ainda vivos isso está longe de ser costumes gerais, entre essas perdas está uma de grande importância que é a forma como lidamos com nosso corpo. Nós desaprendemos a cuidar da nossa saúde, desaprendemos que saúde está além de não estar doente, mas está ligado ao bem estar geral do corpo, o físico, o mental, o transcendental.
A conexão que estabelecíamos com a natureza como andar descalços na terra, beber água pura, tomar banho de mar e de cachoeira, respirar ar puro 1, conviver com as plantas, plantar, regar, cuidar, nos dava uma dimensão maior do que é cuidado e transferíamos isso para a nossa vida, com o auto cuidado e o cuidado com o outro. No entanto nós estamos desconectados da natureza, se desconectando cada vez mais da nossa ancestralidade.
Nossos ritos de dançar, cantar, viver em comunidade estavam muito ligados ao cuidado com a nossa saúde e nossa sexualidade, Fernanda Carneiro 2, nos lembra que a dança não era apenas um divertimento, era um modo negro de resistir e se fortalecer. Conhecíamos nosso corpo e portanto sabíamos ouví-lo e respeitavámos essa escuta.
Não quero de forma alguma dizer que pessoas que viviam na África antes da colonização não adoeciam, mas essa ligação que tínhamos com a natureza fez com que algumas pessoas conhecessem as plantas e aplicassem isso na nossa cura.
Quando nossos ancestrais foram forçosamente trazidos pras Américas saímos de muitos países do continente africanos e fomos contraindo diversas doenças que não tínhamos conhecimento de cura e nem nossos corpos tinham imunidade, tampouco quem aqui deveria conhecer o tratamento dessas doenças conhecia, e fomos muitas vezes usados como cobaia, para descobrimento de novos tratamentos e medicamentos.
Além de nos desconectarmos dos nossos cuidados, ficamos submetidos a sermos cuidado por pessoas que aprenderam apenas a se preocupar com saúde na presença de alguma doença, aqui no Ocidente a saúde está muito ligada a ausência de saúde física e não um bem estar geral. As campanhas de saúde beiram a bizarrice, quando não são em sua maioria racistas. As informações são poucas e muitas vezes geram um desconforto. Se olharmos para o passado veremos o quanto o personagem Jeca Tatu 3 foi muitas vezes usados em campanhas oficiais, se olharmos para o presente onde estamos em uma epidemia de febre amarela na região sudeste, veremos que o modo dos governantes lidarem com isso, não muda muito, pouca informação, muito pânico e nenhum método eficiente de lidar com o caos.
Eu não quero dizer para nos desapegarmos da medicina tradicional, como pesquisadora eu estaria sendo no mínimo irresponsável, até porque com a evolução das doenças, nós necessitamos da evolução da tecnologia, para lidarmos com elas, mas nós estamos muito doente, tanto físico, quanto mental, nossos corpos não aguentam o peso de todo dia, nós não temos tido uma alimentação saudável, nós estamos chegando ao fim de todos os nossos limites, então escutar os nossos corpos como nossos ancestrais faziam pode ser uma saída porque a escuta é auto conhecimento, como vamos aprender a nos auto conhecer é muito individual, cantando, dançando, escrevendo, meditando, caminhando, correndo, fazendo terapia ou outras diversas formas existentes, mas precisamos nos auto conhecer, cuidar do nosso corpo, escutá-lo e dessa forma entender que nossa saúde está muito mais que atrelada a ausência de doenças.
Cuidemo-nos, nossas vidas importam.
*família aqui não é pensando como aquele núcleo cristão aceito pela nossa saciedade.
1- puro aqui não se refere a pureza Química, mas de ar não poluído pela industrialização.
2 – Iniciação ao Estudo da Presença da Mulher Negra na Sociedade Brasileira – Carneiro, Fernanda.
3 – Jeca Tatu, personagem das histórias de Monteiro Lobato, que relacionava o modo de vida do sertanejo como preguiçoso, vagabundo e sujo.