Por Larissa Santigo para as Blogueiras Negras
A reportagem de capa da Isto É – com o título “As cotas deram certo”- dessa semana se parece mais uma resposta birrenta aos críticos do sistema de Cotas.
Lei Federal desde 2012, as Cotas Raciais (e sociais) são postas na reportagem de Amauri Segalla, Mariana Brugger e Rodrigo Cardoso com o discurso de que o negro merece estar na academia.
É bem verdade que em nenhum parágrafo da reportagem há isso escrito explicitamente, mas depoimentos, elaborações e conclusões parecem afirmar que “conceder” algum benefício já é satisfatório pra que a gente acabe com as discussões outras. Parece ser essa a solução do subdesenvolvimento e para a melhora da qualidade – ou notas – do ensino superior. E a superação do racismo? E o papel da universidade como promotora da diversidade? Olhando com carinho, todos esses pontos são menores que os números, as equiparações e a afirmação da quebra da expectativa frustrada da sociedade racista. Tudo parece justificar a “empreitada” brasileira da concessão, da doação que valeu a pena.
Ok. Li tudo nas entrelinhas. A reportagem inteira elogia, exalta e aclama os esforçados e competentes (palavra usada algumas vezes) alunos cotistas, contra-argumentando os discursos dos anti-cotistas. Mas e a história? E a retrospectiva de luta do Movimento Negro que é de décadas? E o esclarecimento sobre o desejo de uma reforma na educação toda? E a ênfase na conquista?
Tá bom, é esperar e pedir demais.
Com toda felicidade pelos números e com todo olhar crítico para a matéria, acredito que essa é uma resposta para a sociedade que diz: “Viu que não dói deixarmos eles entrar?” Para nós o significado é outro. Cota eu não discuto mais. Seus resultados são mais que visíveis e essa revista mostrou (infelizmente não mostrou para os que pegaram o periódico, leram a capa e deixaram de volta na gôndola do supermercado) mais do que eu posso dizer.
E é óbvio que eu queria que dissesse além, porque reparação nunca é demais.