A vocês que amam mulheres negras, que se relacionam com elas de qualquer maneira, seja no amor, no trabalho, na universidade ou na vida. Esta carta é para cada um de vocês.
Entender o papel e as vivências de mulheres negras periféricas não é uma tarefa tão fácil. Compreender angústias, medos e inseguranças que permeiam o mundo de toda e qualquer pessoa já é complexo. No entanto, quando partimos para uma esfera que necessita de um recorte de raça e gênero, esse entendimento se torna mais árduo.
O papel de mulheres negras, historicamente, foi lido diversas vezes como um papel de subordinação e inferiorização, o que acaba refletindo na forma como as pessoas veem essas mulheres até os dias de hoje. Nesta carta, pouco importa sua raça, credo, gênero, visão política ou time de futebol. Aqui importa como você tenta entender e amar mulheres negras.
Nós, mulheres negras, crescemos não sendo reconhecidas historicamente, intelectualmente e, muitas vezes, humanamente. A prova disso é que diversas heroínas, escritoras e pesquisadoras não são apresentadas a nós ao longo de nossas vidas. Nunca somos as mais bonitas da sala durante a adolescência, nunca tivemos nossos traços elogiados, poucas de nós podem dizer que viveram um amor recíproco.
Mulheres negras estão em constante afirmação. Precisamos provar o tempo todo que somos fortes, que conseguimos e que nada nos afeta. É como se nós não tivéssemos o direito de sofrer, de demostrar esse sentimento. Para nós, mulheres negras, poder demostrar fraqueza é um privilégio.
A você que ama uma mulher negra, entenda que, às vezes, precisamos ouvir que somos inteligentes, que os nossos cabelos são a coisa mais linda que você pode ver naquele dia, que você sente orgulho de ter uma mulher negra como amiga, companheira, irmã, filha. Entenda que as vezes não precisamos de um debate sobre racismo e machismo quando essas situações nos afetam, precisamos apenas de um abraço, um “sinto orgulho de você”, “você me inspira”.
Você que ama uma mulher negra precisamos que compreenda que nós carregamos não só nossas dores, mas também a de homens brancos, homens negros e as dores das mulheres brancas, mas ninguém carrega nossas dores junto de nós.
A você que ama uma mulher negra, permita que ela fale sempre que quiser falar, permita que ela se mantenha em silêncio sempre que ela julgar necessário.
A você que ama uma mulher negra entenda que tudo que nunca foi negado a você, talvez seja negado à nós até hoje.
A você que ama uma mulher negra, ame suas vitórias, suas fraquezas, seus pensamentos.
Ame ela por completo!