essa coluna ver(te)b(r)al é meu jeito de ampliar o registro dos saberes que cada pessoa preta na/da diáspora carrega consigo, compartilha com azamiga, usa pra transformar a própria vida, a realidade (im)própria y pra mudar alguns pedaços do mundo. a cada quinze dias vou publicar entrevistas feitas com ativistas e/ou artistas negras, assuntando sobre o que temos feito, como temos nos conectado, quais são as coisas importantes que orientam nosso pensamento, nossas práticas. tipo uma compilação de saberes, uma “wikintrevista” de teoria feminista popular negra contemporânea.
parto da ideia de que produzimos conhecimento o tempo todo, somos sujeitas de conhecimento: todo o tempo estamos pensando conceitos e forjando eles. refletimos a partir de nossas práticas, conceituamos, voltamos a aplicá-los em nossas vidas – o que nos faz mudar os conceitos, mudar as práticas o tempo todo. no caso de mulheres e lésbicas negras na diáspora isso pode ser muito mais registrado do que tem sido, aproveitando essa super tecnologia de armazenamento y compartilhamento virtual de dados que é a internet. geralmente temos dado mais importância pra conhecimentos produzidos em espaços conhecidos como legitimamente teóricos, especialmente os ambientes universitários, mas quem tá em movimento social, ou as pessoas que tão em movimentações ativistas/artísticas autônomas ou individuais, produz/produzem muito conhecimento. as vezes conhecimentos que são mais utilizáveis, mais tangíveis que as coisas produzidas na academia. como pra mim o fortalecimento da minha negritude y os aprendizados de feminismo se deram muito pelas trocas com parceiras, prezo muito o tipo de conhecimento que flui daí, das trocas: y pra mim esse conhecimento é muitas vezes mais importante & legítimo que o da universidade (que também frequentei). talvez a diferença mais significativa no que me interessa aqui seja mais de sistematização que de metodologia: um tá sistematizado (o científico), outro eh conhecimento popular e fica mais solto, ou pede formas outras de sistematização, registro.
daí que esse projeto de entrevistas é político-afetivo-curioso-compartilhador, afrodiaspórico, soprado pelo vento de Oyá!, e inspirado pelo abebe de Oxum, que se olha nesse espelho não por vaidade: mas sim por autoconhecimento. entrevistas-espelho em que olho desde o que me interessa pra saber o que interessa na que estou entrevistando, o que é parecença, o que é dissemelhança, y como podemos seguir mais felizes, mais fortes, mais plenas com esse compartilhamento (como aprendi com a elisia, uma outra sapatão preta muito fera, de salvador). a primeira entrevistada da coluna é luz ribeiro, que conheci em novembro de 2015 num slam nacional no rio de janeiro. luz me recebeu pra passar o natal na casa dela, & conversamos sobre feminismo, negritude, ancestralidade, poesia. a entrevista vai ser publicada em duas partes, começando hoje, véspera do aniversário dela, que é um capricorniana incrível do dia 10 de janeiro. depois de comer um manjar de côco muito gostoso feito pela mãe dela, noélia baiana (também escritora, que adora cantar), comecei contando pra luz sobre a proposta da coluna y pedindo pra ela se apresentar. foi maizomenos assim:
taten: conheci no sarau das rosas (em sp) uma mina que faz cosméticos naturais; a avó dela era parteira. ela nasceu de cesárea, é da nossa geração – cesarismo compulsório. mas muito do que aprendeu sobre ervas foi com essa avó. acho que por mais que haja essa distancia de uma geração entre nós e nossas avos, que geralmente são as que usavam mais conhecimentos tradicionais de cura (por exemplo, minha vó materna, se tratava muito com as plantas cultivadas ou colhidas por ela até ter um avc e ficar refém da alopatia hospitalar). geralmente a geração de nossas mães eh a que veio pra cidade e começou um modo de vida mais urbano, e a usar tecnologias urbanas de cura como farmácia etc, mas a gente ainda tem alguma coisa desse conhecimento tradicional e a gente produz nosso próprio conhecimento (que eh um conhecimento pro futuro, também). a ideia então dessas entrevistas eh pra sabermos quem somos, o que temos feito, espalhar os contatos das pessoas maravilhosas que conheço, e aproveitar o gênero entrevista pra compilar as sabedorias que temos sobre os temas que são importantes pra gente. tô pensando nas diferenças entre feminismos negros e feminismos não-negros, e que uma estratégia de valorização de nossos saberes diásporos de mulheres e lésbicas negras eh sistematizá-los. então a proposta da coluna tem essa ideia de sustentáculo, de pilar – conhecimento como um dos pilares da nossa vida. agora que me expliquei, você pode se apresentar e falar o que tem feito de mais importante pra você mesma?
luz: sou luz ribeiro, tenho 27 anos, nasci em são paulo. pouco saí daqui, então tem muita coisa na cidade que reflete em mim: às vezes acho que sou cinza demais, sou concreta demais, sou distante demais (mas eu ainda gosto muito de ser paulistana). só que eu gosto de acordar em outras cidades que não essa. as coisas que eu tenho feito de importante: faço parte do coletivo poetas ambulantes, que é um coletivo que espalha poesia dentro dos transportes públicos de são paulo. mensalmente a gente faz saída com roteiro pré-definido. faço parte do slam do 13, uma batalha de poesias (vou ficar quieta, mas ia falar que eh uma batalha de poesias e uma batalha de poetas)… que acontece na região do largo 13 de maio, e surgiu porque todos os slams eram mais centrais, e era muito longe, a gente aqui da sul tinha que dar maior role se quisesse participar de um slam. aí eu e o thiago peixoto resolvemos fazer um slam mais próximo da gente, até pra que tivesse um outro cenário, pra que tivesse poetas daqui da sul, do extremo sul, que pudessem ter a chance de chegar noutros lugares. faço parte do poesias bacantes, que eh um time de poesia – que eh o melhor time de poesia que tem na cena, isso eu não canso de falar. não porque eu tô nele, eh porque eu faço parte com amigos muito queridos. faço muitas coisas, muitas coisas mesmo. e às vezes eu esqueço! faço parte do “luz, flores e peixes” que eh um trio musical infantil; eu desenho, acho que isso eh algo muito importante; eu escrevo – importante também. tento aprender instrumentos novos o tempo todo! e acabo que não sei tocar instrumento nenhum… gosto muito de dançar, acho isso muito importante, acho que a dança eh uma das coisas que mais me auxiliam na descoberta de corpo e na descoberta de um monte de coisa. sou atriz em formação, sou performer, e sou poeta por castigo mesmo. eh uma das poucas coisas que eu não fui atrás e eu sou!
taten [rindo muito de “poeta por castigo“]: o que tem a ver sua trajetória de vida, e morar numa periferia da zona sul de sp, com as coisas que vc tem feito? principalmente com relação a performance e poesia. se isso de alguma forma talhou os caminhos que você escolheu e como se reflete na sua obra, na sua poesia.
luz: quando eu digo que conheço poucos lugares ainda, é exatamente por isso. eu moro basicamente a 28 anos no mesmo lugar. a primeira vez que eu sai de são paulo foi por causa da poesia! e isso tem uns dois, três anos. eu saí da cidade de são paulo pela primeira vez por conta da poesia. e eu acredito que estar na periferia, enquanto mulher, enquanto mulher negra (embora as pessoas fiquem falando “ah, fica sempre reforçando isso”, mas eu não tenho como não reforçar, porque eh isso que eu sou mesmo)… então: eu sempre quis ser atriz. eu desde pequena quis ser atriz, ou queria dançar, eu escrevo desde pequena. essas questões mais artísticas sempre estiveram muito próximas, como se elas me atraíssem o tempo todo. e a minha primeira formação acadêmica foi educação física, porque uma pessoa que nasce na periferia não pode se dar ao luxo de tentar ser atriz, entende? não pode se dar ao luxo de viver dançando, não pode se dar ao luxo de viver só escrevendo. então diante das coisas que tinham na época, a grade escolar que mais se aproximava de alguma coisa que eu pudesse querer fazer era educação física. e aí quando eu terminei o curso, nada me encantava. de repente, ok, vamos fazer uma outra coisa. vc vai fazer o que? pedagogia. por conta da questão do social. então se eu não podia ser atriz, se eu não podia ser cantora, se eu não podia ser dançarina, se eu não podia ser performer, vamo ajudar os outros, pelo menos!
eu acabei entrando no terceiro setor, onde eu tô ha seis anos trabalhando com adolescente em conflito com a lei, e é uma coisa que muda meu olhar todos os dias. tanto eh que só tardiamente foi que eu entrei num curso de teatro, eu entrei com 25 anos, mas eu acho que eu não podia abrir mão de fazer alguma coisa, sabe? e agora são os momentos em que me sinto mais realizada, fazendo peça de teatro que às vezes eu nem ganho dinheiro. mas eu finalizo aquilo de uma forma muito plena! e eu acredito sim que se eu tivesse nascido em outro lugar, que não na periferia, meus rumos seriam outros. mas por estar aqui, por ser periférica, vc tem que ficar traçando rotas, e destino que te aproximem de coisas que lembram o que vc quer fazer.
“quando eu me estreito no beco feito pros meninos ‘p’
de (im)Próprio
eu me perco e peco
por não saber nada
por não saber geógrafa
invejo tanto esses menino mapa
percebe, esses menino desfilam moda:
havaiana azul e branca e preta número 35 / 40 e todos
que é tamanho exato pro seu pé número 38
esses meninos tudo sem educação que dão bom dia, abrem até portão
tão tudo fora das grades escolares
tão sem escola
nunca teve reforço
de ninguém
mas reforça a força e a tática
do tráfico mais um refém”
(trecho do poema minimelímetros, de luz ribeiro)
não que seja exatamente aquilo que vc quer fazer, vc fica sempre procurando alguma coisa que possa suprir, talvez, quem sabe, alguma coisa que vc queria ser de fato. eu imagino muito que se eu não tivesse nascido aqui isso teria reverberado de outro jeito. eu acho que hoje, por conta muito da poesia, por conta muito da performance (e quando eu digo performance nem eh dessas que a gente fica fazendo em slam não, mas mais uma performance voltada pra outros tipos de curso que fiz, onde às vezes nem preciso abrir a boca pra estar performando) é mais voltado nisso: então tá, não deixaram eu fazer? agora eu faço. eu uso muito a poesia e a performance no sentido de tentar fazer o que eu não consegui fazer em 28 anos, basicamente.
taten: tenho conversado muito com uma amiga do df, a nina ferreira, e uma do df que tá morando em sp, poliana martins, sobre performance negra. sobre o jeito que os corpos negros ocupam lugar no espaço. não tenho muito conhecimento teórico sobre isso, mas pensando a performance como um acontecimento artístico de natureza cênica que causa um estranhamento onde chega (e acontece em qualquer lugar né, porque a performance tem essa coisa de… a desvinculação com a estrutura… com a arquitetura mesma do teatro, o que é muito impressionante), mas pensando a performance como um deslocamento, esse fazer alguma coisa num outro lugar, eu… em algumas conversas que tivemos fiquei reparando que não só pra mim mas tb pra elas os corpos negros são muito performáticos. no sentido de serem corpos que, por causa da historia da colonização no brasil, trazem sempre acontecimentos pros espaços. vc deve lembrar disso por sua experiência. eu entrei na universidade pela primeira turma de cotas (na unb) e eu lembro não só de “fora macacos, voltem pra África” pixado, mas tb do estranhamento físico de ter mais gente negra num espaço branco. e os espaços artísticos são muito brancos, porque a elite eh muito branca. então assim, a performatividade dos corpos negros tem a ver com que lugares podem ser ocupados por quais corpos.
quando c falou de ter que esperar muito tempo pra poder fazer o que vc quer, fiquei pensando se a vida meio que treina a gente pra fazer algumas coisas, sabe? do jeito que vc falou, vc construiu tudo pra chegar onde vc chegou e poder fazer o que vc quer saca? com muito empenho. e muito discernimento capricorniano, nesse sentido, de traçar uma meta e ir construindo a possibilidade da trajetória que não é dada – que eh tirada, na real. você falou que algumas pessoas reclamam de vc falar muito que eh uma mulher negra – como se fosse muito ruim. vc deve ouvir isso muito como crítica, como se fosse um problema falar de si sendo negra. mas, ao mesmo tempo, como falar de algo que vc não é, e como não falar de algo que vc é de forma tão impactante?
pelo que c tá falando, a experiência da negritude junto a da mulheridade te coloca num lugar de não ser regida pelo acaso, de ter que ir construindo sua trajetória e ser afirmativa, diferentemente do que as pessoas criticam. a crítica “ai, tudo c tem que falar que eh mulher negra” insinua que “você fica se fazendo de coitada” – e essa é a crítica velada. mas o que tem de coitadismo na vida de uma pessoa que constrói todos os seus passos pra chegar onde quer? e pra poder brilhar, pra poder ser atriz. então, o que te influencia, o que te fortalece, o que alimenta sua força? fora do estereotipo da mulher negra guerreira também, que pra mim esse tb é pouco e enrasante. mas o que alimenta o seu estar no mundo pra conseguir o que vc quer contra tanta adversidade?
luz: eu tive uma conversa essa semana referente a isso mesmo: nossas trajetórias. eu acredito que hj eu já consigo viver de uma forma diferenciada do que minha mãe conseguiu viver. e eu acredito e faço o possível e o impossível pra que eu tenha outras possibilidades; minha mãe veio pra são paulo pra ser empregada doméstica e fazer um monte de coisa com 12 anos de idade! então foi uma vida muito difícil. e ainda assim ela fez toda uma construção porque acreditava em “n” coisas e queria que essas coisas acontecessem. então vai chegando um momento em que de fato vc vai ficando cansada das pessoas acharem que vc eh coitada. e isso eh uma coisa que me incomodava muito: quando as pessoas falavam “mas vc nem eh preta, vc nem eh tão preta assim, vc nem eh tão pobre assim, vc nem eh tão isso assim”.
pode ser egocentrismo, mas o motivo das coisas que eu faço, muito, eh por mim mesma. numa questão de retribuição e de mudar a trajetória familiar, também. a minha avó não conseguiu sair da bahia, ficou lá, viveu lá, morreu lá. minha mãe conseguiu sair da bahia, veio pra são paulo, e construiu muita coisa aqui. eu não quero ficar só em são paulo, e por isso eu viajo pra outros lugares e eu não sei se vou querer ficar aqui por muito tempo. então eu faço as coisas literalmente por mim. existem pessoas que eu leio e que valorizo o trabalho, mas eu não faço nada além de mim. eu tenho que retribuir, no sentido de que eu já fiquei tanto tempo quieta quando puxavam meu cabelo na escola; fiquei tanto tempo quieta porque fizeram uso do meu corpo sem meu consentimento; já fiquei tanto tempo quieta quando as pessoas tinham cara de nojo pra mim. então eu faço tudo isso só por mim mesma. então tá, chega, já sofri o suficiente. eu li uma poesia outro dia que dizia “eu já sofri o suficiente”. aí um colega meu disse “nossa, que pessoa exagerada, ninguém nunca sofreu o suficiente”. e eu fiquei muito assim: pensando nisso. falei “não, eu acho que se chegasse pra mim nos meus 12 anos de idade, pra mim já tava de boa tudo que eu tinha vivenciado”. a vida continua sendo cruel com a gente. vc desce uma escada rolante e a pessoa fica olhando pro seu cabelo. a vida não cansa de ser cruel, eu penso assim: que a vida eh cruel diariamente nas minuciosidades, fazendo um carinho em vc, ela tá ali… embora eu ache que, do mesmo jeito que a vida age ainda com certa crueldade, ela tb retribui (a vida tb eh boa! não da pra ficar só… bichinha, a vida, por ela numa cruz e ficar crucificando ela). respondendo diretamente sua pergunta: é por mim mesma.
taten: como você sente, como você define ancestralidade? o que significa pra você?
luz: a gente tende a dizer, sobre os animais, que fazem coisas “instintivas”. você pega um ser humano, coloca num lugar onde nunca esteve, com animais que nunca viu – essa pessoa vai fazer várias coisas porque “eh instintivo”. então, ninguém ensina pra um cavalo marinho que ele tem que ficar distante pra tirar os ovinhos, ninguém da uma apostila nem ensina didaticamente o que ele tem que fazer. isso eh “instintivo”. assim, eu vejo a ancestralidade numa questão mais “instintiva” também. como o que c falou antes…
os corpos negros quando dançam já têm um código pra isso, isso é ancestral. os movimentos que a gente faz, muito da nossa fala, muito da nossa escrita, muito do nosso jeito de se comunicar, nosso jeito de sentir as coisas, de receber as coisas do universo – acho que eh isso, que a ancestralidade é como se fosse um código genético. as pessoas nascem com algumas predeterminações, e qdo penso em ancestralidade negra, existem muitas coisas que já tão. ainda que a gente nunca vá atrás disso, ainda que a gente nunca busque muita coisa, eu acho que ela tá ali. tá ali dentro do nosso dna, no código genético: “ok, vc pode fazer essas coisas e pode não fazer, mas vc tem um código genético predeterminado pra isso”.
taten: e qual a importância da comunidade pra ativar a ancestralidade? concordo contigo que muita gente carrega “alguma coisa”, mas sou mais de uma pegada espiritual – não concordo ser genético. eu acho que essas coisas da ancestralidade têm a ver com aprendizados do espirito. mas sim, muitas pessoas negras não vão acessar isso. outra crítica recorrente: “as próprias pessoas negras são racistas mimimimimi” – é claro, o racismo eh a pedagogia mais eficiente que o brasil já inventou né, taí funcionando há 500 anos. e pra mim é o pertencimento a uma comunidade de resistência que interrompe essa cultura. como c vê a importância das comunidades pra ativar o dna ancestral? ou como tem sido a sua experiência de compartilhar entre comunidades negras, entre comunidades de mulheres negras, compartilhar sua presença e seus aprendizados? o que isso tem feito pra ativar em vc sua força e sua ancestralidade?
luz: embora eu tb pense que algumas coisas sejam instintivas, as vezes parece que [estrala os dedos]. sou uma pessoa que fica fazendo imagem né: às vezes é como se tivesse um interruptor, e precisa que de fato alguém ligue ou desligue algumas chaves. a partir do momento em que vc começa a estar com pessoas que tiveram vivências próximas da sua, ou vivências que vc poderia ter tido, eu penso que nesse sentido eh uma questão de fortalecimento. vai o james bantu e faz uma música que explora a questão do que eh ser um homem negro na periferia. eu não sou um homem negro na periferia. eu não sei o que eh ficar sendo enquadrado. eu sei o que eh ser uma mulher negra na periferia e ser sexualizada o tempo todo. então acho que quando a gente tá próxima de pessoas que tb têm essa carga que eu tenho e que têm vivências diferenciadas, acho que eh como se fosse um quebra-cabeça, sabe? e aí a gente vai completando aquele quebra-cabeças enorme, sem peças, e de repente vai chegando uma, coloca uma pecinha, que ainda tá distante da sua mas vem um outro, que já aproxima a sua com a da outra. então acho importante pro fortalecimento. porque ser enfraquecida a gente já é o tempo todo. então quando a gente consegue se aproximar de pessoas com vivências próximas, ou similares, ou que poderiam ter sido nossas, a gente vai se fortalecendo.
“eu sou menosprezada todos os dias
e, sem jeito, insisto em plantar amor
e me firo diariamente. não há exagero.
e se ainda assim, um dia,
eu não ler a sua tirada
e te der um tapa na cara dirão
‘exagero!’
mas só eu e minhas irmãs sabemos
o que é vestir preto
o dia inteiro”
(trecho do poema “deu(s) branco”, da luz)
[a segunda parte da entrevista vai ser publicada na semana que vem, esperaí. aproveita pra ver ela recitando:
poema “gerações de barulho”
a página dela no fb
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