O encontrinho de Blogueiras Negras de Belo Horizonte aconteceu na Associação Imagem Comunitária, no bairro Floresta, e teve a presença de 22 mulheres negras. Um sobradinho simples, charmoso, cheio de cores, árvores frutíferas e ervas cheirosas foi o cenário de nosso fim de tarde/começo de noite de conversas pretas.
Cada uma a seu modo contou de sua trajetória no feminismo e todas compartilharam da percepção de que o feminismo negro e a existência de espaços exclusivos para mulheres pretas fortalecem em absoluto nossa identidade, empoderamento e a construção de nossa autoestima.
Entre nós estiveram diversas mulheres estudantes, professoras, educadoras, musicistas, estilistas, integrantes de outros coletivos, como as Negras Ativas, o Bloco das Pretas, a Rede Afro LGBT Mineira e os Tambores de Safo, com a presença de Lídia Rodrigues retratando nossa tarde com seus pasteis.
Em nossas conversas, houve falas sobre toda uma infância de exclusão e racismo na escola, sobre a superação desses sofrimentos e o reconhecimento da própria beleza e qualidades, sobre o educar e a necessidade de discussões como as nossas em ambientes escolares, o racismo e machismo no movimento headbanger e na música como um todo.
Falamos sobre a hipersexualização da mulher negra, a dificuldade em manter relacionamentos duradouros, o celibato definitivo e a conhecida ineficiência do feminismo padrão em alcançar e problematizar essas e outras demandas das mulheres pretas. Apontamos o quanto é positivo ter um diálogo intergeracional, respeitando toda a trajetória das pretas mais antigas e incluindo as vozes mais jovens e com ideias novas e transformadoras a todo o imenso trabalho das mais velhas, e como isso só pode trazer inúmeros ganhos à nossa luta.
Notamos que entre nós, de forma inédita, éramos maioria não-heterossexual, e como é positiva essa liberdade das mulheres pretas em assumir sua sexualidade não-hétero e de como precisamos nos visibilizar para que saibam que existimos, que somos reais. Em contrapartida, lamentamos por sermos todas cisgêneras, o que denotou que de alguma forma estamos sendo pouco acolhedoras com as pretas trans* em nosso movimento e resolver essa questão é uma necessidade urgente.
Ainda colocamos em pauta nossas percepções as relações livres e não monogâmicas e o poliamor, e as vantagens e desvantagens de relacionamentos afrocentrados e interraciais, chegando ao consenso de que não deve haver questionamentos sobre as escolhas afetivas das pretas, já tão cerceadas em suas liberdades, mas devemos questionar sim a repetição de padrões dos pretos com relação às suas companheiras ou das relações entre mulheres e de como os padrões machistas e racistas se reproduzem entre as les-bi, e ainda a constante invalidação de nossa liberdade de escolha, abandonando a ideia de que temos que ficar com qualquer um/a que nos queira ou seremos solitárias eternamente.
Houve oficina de turbantes e amarrações com Pabline Santana com o auxílio de Énia Dára Medina, dos momentos mais divertidos do encontro, que renderam muitas risadas e fotografias, o chazinho de cidreira e os pães de ervas de Vanessa Beco, lanche comunitário, distribuição de brindes da Vult Cosmética e da Makeda Cosméticos, conversas a luz de velas e a certeza de que precisaremos – e faremos! – ainda de dezenas de encontros como esses para fortalecer os laços entre as pretas de BH e região e fazer com que esse amor e essa irmandade se estenda a muitas mulheres por aqui.